(Foto: Carta Maior) |
Quem afirma é o Capitão Monteagudo Arteaga, que lutou junto com Che Guevara, e hoje fala sobre seus anos na guerrilha e sobre seu respeito por Francisco.
"Me vem à cabeça que o Che está se identificando com este papa. Para mim, ele é um comunista, porque é como Cristo, e Cristo foi o primeiro comunista que existiu na terra”.
Por Darío Pignotti, enviado especial a Havana - reproduzido do portal Carta Maior, de 21/09/2015
“Combati ao lado do Che, há muitos anos atrás, e agora estou falando contigo aqui, onde você me está vendo, na missa deste papa revolucionário”.
Estamos na Praça da Revolução junto com o ex-combatente Luis Monteagudo Arteaga enquanto Francisco celebra sua primeira missa em Cuba, diante de milhares de fiéis, numa manhã piedosa, porque o sol agrediu menos que nos dias anteriores, quando a temperatura chegou aos 36 graus.
São 8h54 horas. Bergoglio começou a realizar seu ofício religioso, seis minutos antes do horário previsto no programa oficial, repetindo a pontualidade jesuíta do sábado, quando o avião que o trouxe de Roma aterrizou dez minutos antes do que foi estabelecido. E concluiu a missa antes das 11h, pedindo aos cubanos “rezem por mim”, também mais cedo do que o esperado.
Talvez o papa tenha agilizado a missa, para terminá-la a tempo de cumprir com uma agenda carregada de compromissos, entre eles o encontro que com o comandante Fidel Castro, o presidente Raúl Castro e a mandatária argentina Cristina Fernández de Kirchner.
“O Papa e o comandante Castro se entenderam bem, falando o mesmo idioma”, disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, para um enxame de repórteres que o rodeavam. Lombardi é um padre jesuíta, a mesma ordem à qual pertence o sumo pontífice Jorge Mario Bergoglio.
Durante os 40 minutos do encontro com Fidel, o papa lhe presenteou com livros e CDs sobre o padre Armando Llorente, que foi professor de Fidel quando ele era aluno de uma escola jesuíta em Havana.
Por sua parte, Fidel entregou ao sacerdote argentino o livro “Fidel e a Religião”, de Frei Betto, uma obra de referência, pois aprofundou o diálogo entre a Revolução e os católicos da Teologia da Libertação.
O combatente internacionalista
Voltemos à Revolução. Ou melhor, à Praça da Revolução.
Retomemos a entrevista concedida hoje por Luis Monteagudo Arteaga, capitão retirado (reformado) das Forças Armadas Revolucionárias, o exército regular de Cuba, que falou exclusivamente com Carta Maior.
Este homem de quase 80 anos, delgado e vital como um junco, é um dos últimos companheiros de Guevara que ainda está com vida.
“Depois de lutar com o Che na Sierra Maestra, em 1958, me chamaram para ir com ele numa missão secreta no Congo. Me escolheram porque eu era militar, era jovem e era negro, e podia entrar dissimuladamente na África”.
“Aceitei ir ao Congo como voluntário, a gente não sabia se ia voltar, ninguém da minha família soube que eu fui. Mantive isso em segredo durante vinte anos”.
O relato do capitão Monteaguro Arteaga é interrompido, vez ou outra, pelos cânticos dos fiéis que participam da missa.
“O Che nunca nos falou de religião. Eu não tenho religião e estou vendo este papa fazendo missa na frente da figura do Che. Me vem à cabeça que o Che está se identificando com este papa. Para mim, ele é um comunista, porque é como Cristo, e Cristo foi o primeiro comunista que existiu na terra”.
“Os anos passaram, já não sou um jovem atirador que lutava com o Che Guevara. Minha memória às vezes me trai. Não recordo tudo com claridade. O que tenho bem claro em minha memória é que o Che era um combatente que não se alterava diante do perigo, era muito arrojado, e isso transmitia uma força de espírito a todos nós”.
“E sempre levo comigo as palavras do Che nas Nações Unidas, quando disse 'me sinto tão revolucionário como o primeiro revolucionário, tão latino-americano quanto o primeiro latino-americano, e estou disposto a dar minha vida por qualquer país do nosso continente".
Católicos e não católicos
A praça está lotada, havia cubanos de Havana e outros vindos do interior do país. Havia também fiéis que chegaram de outros países, a maioria hispanoparlantes e com sotaque centro-americano ou do Caribe. Vários cardeais estão presentes, dos Estados Unidos, da América Latina e da Espanha.
São 11h em Havana. A multidão começa a se desconcentrar ordenadamente. São milhares, mas é possível que não chegue ao meio milhão de pessoas que alguns meios internacionais noticiaram.
Uma parte do público seguia os rituais da missa de perto, outros observavam com respeito, provavelmente por pertencer a outras religiões, ou por não seguir nenhuma: menos de 30% dos 11,5 milhões de cubanos são católicos.
A cerimônia de Francisco não se referiu a temas políticos, o bloqueio norte-americano, nem mesmo a recomposição das relações entre Cuba e os Estados Unidos, situação com a qual ele contribuiu, com seus bons ofícios diplomáticos.
“Nós gostamos de escutar o papa, porque as coisas que ele diz são universais” comentam duas senhoras que se apresentam como “não católicas”.
As duas mulheres estão próximas à Ponchera los Paraguitas, uma borracharia, na Avenida Salvador Allende, a cinco quadras da Praça da Revolução e a poucos metros de um cartaz de mais de 10 metros, com o lema “Bloqueio, o genocídio mais longo da história”. Um lema que se repete em outros cartazes disseminados por vários pontos da cidade.
Tradução: Victor Farinelli
Estamos na Praça da Revolução junto com o ex-combatente Luis Monteagudo Arteaga enquanto Francisco celebra sua primeira missa em Cuba, diante de milhares de fiéis, numa manhã piedosa, porque o sol agrediu menos que nos dias anteriores, quando a temperatura chegou aos 36 graus.
São 8h54 horas. Bergoglio começou a realizar seu ofício religioso, seis minutos antes do horário previsto no programa oficial, repetindo a pontualidade jesuíta do sábado, quando o avião que o trouxe de Roma aterrizou dez minutos antes do que foi estabelecido. E concluiu a missa antes das 11h, pedindo aos cubanos “rezem por mim”, também mais cedo do que o esperado.
Talvez o papa tenha agilizado a missa, para terminá-la a tempo de cumprir com uma agenda carregada de compromissos, entre eles o encontro que com o comandante Fidel Castro, o presidente Raúl Castro e a mandatária argentina Cristina Fernández de Kirchner.
“O Papa e o comandante Castro se entenderam bem, falando o mesmo idioma”, disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, para um enxame de repórteres que o rodeavam. Lombardi é um padre jesuíta, a mesma ordem à qual pertence o sumo pontífice Jorge Mario Bergoglio.
Durante os 40 minutos do encontro com Fidel, o papa lhe presenteou com livros e CDs sobre o padre Armando Llorente, que foi professor de Fidel quando ele era aluno de uma escola jesuíta em Havana.
Por sua parte, Fidel entregou ao sacerdote argentino o livro “Fidel e a Religião”, de Frei Betto, uma obra de referência, pois aprofundou o diálogo entre a Revolução e os católicos da Teologia da Libertação.
O combatente internacionalista
Voltemos à Revolução. Ou melhor, à Praça da Revolução.
Retomemos a entrevista concedida hoje por Luis Monteagudo Arteaga, capitão retirado (reformado) das Forças Armadas Revolucionárias, o exército regular de Cuba, que falou exclusivamente com Carta Maior.
Este homem de quase 80 anos, delgado e vital como um junco, é um dos últimos companheiros de Guevara que ainda está com vida.
“Depois de lutar com o Che na Sierra Maestra, em 1958, me chamaram para ir com ele numa missão secreta no Congo. Me escolheram porque eu era militar, era jovem e era negro, e podia entrar dissimuladamente na África”.
“Aceitei ir ao Congo como voluntário, a gente não sabia se ia voltar, ninguém da minha família soube que eu fui. Mantive isso em segredo durante vinte anos”.
O relato do capitão Monteaguro Arteaga é interrompido, vez ou outra, pelos cânticos dos fiéis que participam da missa.
“O Che nunca nos falou de religião. Eu não tenho religião e estou vendo este papa fazendo missa na frente da figura do Che. Me vem à cabeça que o Che está se identificando com este papa. Para mim, ele é um comunista, porque é como Cristo, e Cristo foi o primeiro comunista que existiu na terra”.
“Os anos passaram, já não sou um jovem atirador que lutava com o Che Guevara. Minha memória às vezes me trai. Não recordo tudo com claridade. O que tenho bem claro em minha memória é que o Che era um combatente que não se alterava diante do perigo, era muito arrojado, e isso transmitia uma força de espírito a todos nós”.
“E sempre levo comigo as palavras do Che nas Nações Unidas, quando disse 'me sinto tão revolucionário como o primeiro revolucionário, tão latino-americano quanto o primeiro latino-americano, e estou disposto a dar minha vida por qualquer país do nosso continente".
Católicos e não católicos
A praça está lotada, havia cubanos de Havana e outros vindos do interior do país. Havia também fiéis que chegaram de outros países, a maioria hispanoparlantes e com sotaque centro-americano ou do Caribe. Vários cardeais estão presentes, dos Estados Unidos, da América Latina e da Espanha.
São 11h em Havana. A multidão começa a se desconcentrar ordenadamente. São milhares, mas é possível que não chegue ao meio milhão de pessoas que alguns meios internacionais noticiaram.
Uma parte do público seguia os rituais da missa de perto, outros observavam com respeito, provavelmente por pertencer a outras religiões, ou por não seguir nenhuma: menos de 30% dos 11,5 milhões de cubanos são católicos.
A cerimônia de Francisco não se referiu a temas políticos, o bloqueio norte-americano, nem mesmo a recomposição das relações entre Cuba e os Estados Unidos, situação com a qual ele contribuiu, com seus bons ofícios diplomáticos.
“Nós gostamos de escutar o papa, porque as coisas que ele diz são universais” comentam duas senhoras que se apresentam como “não católicas”.
As duas mulheres estão próximas à Ponchera los Paraguitas, uma borracharia, na Avenida Salvador Allende, a cinco quadras da Praça da Revolução e a poucos metros de um cartaz de mais de 10 metros, com o lema “Bloqueio, o genocídio mais longo da história”. Um lema que se repete em outros cartazes disseminados por vários pontos da cidade.
Tradução: Victor Farinelli
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