LULA NA ARGENTINA: “OS POBRES NÃO TÊM SINDICATOS”

O ex-presidente do Brasil, com Bernardo Kliksberg e Alessandra Minnicelli (Foto: Télam/Página/12)
Lula no Terceiro Congresso Internacional de Responsabilidade Social, na Argentina: “Fui o primeiro presidente não universitário e o que mais construiu universidades”, disse Lula, que defendeu a Argentina, e questionou (o juiz estadunidense Thomas) Griesa e o ajuste fiscal europeu.
Por Javier Lewkowicz – no jornal argentino Página/12, edição impressa de hoje, dia 11

“Os pobres não têm sindicatos. Não têm dinheiro para poder protestar. É para eles que o Estado tem que governar”, afirmou ontem o ex-presidente do Brasil, Lula da Silva, na abertura do Terceiro Congresso Internacional de Responsabilidade Social. Por trás da frase há um conceito forte: a denominada agenda política se constrói com as reivindicações dos setores que estão relativamente mais bem situados. Lula ademais criticou a atuação do juiz Thomas Griesa e a política de ajuste fiscal dos países europeus e enfatizou a necessidade da Argentina e Brasil chegarem a uma visão comum de longo plazo.
Lula é extraordinário não só pelos direitos que restituiu ao povo brasileiro durante seus dois mandatos (2002-2006 e 2006-2010), mas também porque foi o único presidente de origem pobre nesse país. Mãe analfabeta, menino pobre, trabalhador metalúrgico, líder sindical, construtor duma alternativa ao neoliberalismo (como definiu Emir Sader na edição de ontem deste jornal), presidente e figura regional e global. O próprio Lula costuma conectar seu passado com o caráter do governo que encabeçou. “Fui o primeiro presidente não universitário, e o que mais construiu universidades.” “Eu conheço o que significa um pouco de dinheiro nas mãos de alguém que nunca o teve, os que nos criticam não têm ideia disso.” “Apenas assumi, minha primeira medida foi levar todos os ministros às zonas mais pobres do país, para que vissem para quem íamos  governar”, disse ontem.
Seu discurso emocionante e sincero sobre a desigualdade (e suas políticas estruturantes em matéria social) se completam com uma visão econômica que a heterodoxia local qualifica de “tradicional”. Por isso no começo de sua intervenção Lula falou da importância da “previsibilidade, credibilidade e confiança”, conceitos mais ligados aos economistas do establishment. De fato, Lula justifica os ajustes fiscais que o governo de Dilma Rousseff aplica no Brasil. Nesses dias turbulentos no país vizinho, a consigna do Partido dos Trabalhadores (PT) é que os ajustes fiscais são necessários, e que é melhor que os faça um governo popular ao invés da direita. Lula também critica com veemência o ajuste da Europa. “Não me agrada o ajuste com corte de salários e queda de emprego, o ajuste traz empobrecimento. Todos os que supostamente tinham as soluções para nós não conseguiram resolver sua crise depois de sete anos. Por todo lado o ajuste aumentou a dívida pública dos países. A Europa terceirizou sua política, tem uma ausência total de lideranças”, disse. Criticou ainda o livre comércio que propõem as potências porque “é só para nos vender, não para nos comprar bens.”
Continua em espanhol, com traduções pontuais:
El ex mandatario defendió la integración “real”. “En 1930, Argentina era una de las principales economías del mundo. La capital de Brasil se confundía con Buenos Aires. Creo que en Brasil los militares tuvieron criterio más industrialista. Por eso yo comprendía la necesidad argentina de reindustrializarse. La relación entre Argentina y Brasil nunca fue tan sólida como cuando estábamos Néstor Kirchner y yo”, señaló Lula. “Tal vez sea el momento de que los dos (2) países nos sentemos juntos, tranquilos, sin el ruido de fondo de los empresarios que piden por esto o (ou) lo otro. Que pensemos qué nos falta hacer, qué queremos para los próximos diez (10) años. Tenemos que dejar las pequeñeces (coisas pequenas) de lado, porque China no va a seguir creciendo como hasta ahora ni va a continuar comprando soja a este ritmo. Todavía (Ainda) hay mucha desconfianza entre nosotros”, agregó.
Lula también apoyó la postura argentina en la principal batalla que el país libra en política internacional. “¿Cómo puede ser que un juez norteamericano decida acerca del destino de millones de argentinos?”, cuestionó Lula a Thomas Griesa, quien dio lugar (con el aval de la Corte Suprema de los Estados Unidos) al reclamo de los fondos buitre (fundos abutres), en una decisión que acarreó dificultades económicas para la economía nacional.
El brasileño recordó además algunos datos (dados) que pintan su gobierno. “40 millones de personas pudieron acceder a la clase media y 70 millones empezaron a formar parte del sistema bancario. Aumentamos el peso de los créditos sobre el PIB del 24 al 56 por ciento. En cien (100) años se crearon 140 escuelas técnicas, nosotros hicimos 455. En doce (12) años entraron más negros a la universidad que en 500 años de historia del Brasil”, cerró Lula.

Tradução (parcial): Jadson Oliveira

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