FÓRUM 21 VAI DISCUTIR A CRIAÇÃO DUMA NARRATIVA EM CONTRAPONTO À MÍDIA HEGEMÔNICA

(Foto: Reprodução/Carta Maior)
Joaquim Palhares, diretor do portal Carta Maior ressalta a importância de se criar uma narrativa em contraponto à mídia conservadora: “Todos nós sabemos o mal que a grande imprensa faz ao país. Desinforma, complica, distorce e esconde. Desde que amanhece até a hora de dormir somos bombardeados por esse poder colossal que eles têm nas mãos”.

FÓRUM 21 É CRIADO NO RIO DE JANEIRO E JÁ DEBATE PROPOSTAS

O Rio de Janeiro se junta a São Paulo, Porto Alegre e Brasília, que já têm seus capítulos instalados e em funcionamento.

Por Maurício Thuswohl – no portal Carta Maior, de 27/09/2015 (o principal título acima é deste blog)


Rio de Janeiro – Espaço de debates e formulação de conteúdos que já aglutina diversos setores da esquerda brasileira, o Fórum 21 segue ganhando representatividade e musculatura. Na noite de sexta-feira (25), cerca de 50 pessoas, entre políticos, estudantes, jornalistas, advogados e militantes de movimentos sociais participaram na sede do Sindicato dos Petroleiros da reunião de lançamento do Capítulo Rio de Janeiro do Fórum. Com isso, a cidade se junta a São Paulo, Porto Alegre e Brasília, que já têm seus capítulos instalados e em funcionamento. A expectativa é de que até o final do ano outros capítulos do Fórum 21 sejam criados em Belo Horizonte, Salvador e Curitiba.
 
“A ideia do Fórum 21 nasceu da antevisão do que poderia acontecer após o resultado das últimas eleições e da montagem do segundo governo da presidenta Dilma Rousseff. Seu objetivo é discutir o que temos de fazer para ter uma proposta concreta de um país diferente. Ainda é preciso mudar muita coisa, e a ideia é que o Fórum possa produzir essas propostas. Que cada representante possa levar essa ideia para seu ambiente de trabalho, de militância e de amigos”, diz Joaquim Ernesto Palhares, diretor da Carta Maior e um dos articuladores do movimento.
 
Eleito durante a reunião, o Grupo Executivo do Fórum 21 no Rio será integrado por 14 pessoas. Diversos setores da esquerda estão representados no colegiado, que terá sua primeira reunião em 2 de outubro, também no Sindicato dos Petroleiros. Entidades como CUT, MST e Auditoria Cidadã da Dívida integram o Grupo Executivo, que tem também militantes partidários, representantes de sindicatos e de setores como saúde, Petrobras e mídia alternativa.
 
Antes mesmo da primeira reunião do grupo que será responsável, como nas outras cidades, por articular e multiplicar as discussões do Fórum 21, algumas propostas já foram lançadas: pedir a criação do Orçamento Participativo Nacional, chamar uma frente contra a desnacionalização da economia brasileira, retomar o trabalho de base junto às comunidades, apoiar a reforma política, atuar nas eleições dos Conselhos Populares e Conselhos Tutelares ainda este ano e tentar construir uma pauta nacional de lutas unificada.
 
Outras frentes
 
No Rio, o Fórum 21 reiterou seu apoio à Frente Brasil Popular e a outras frentes progressistas e de esquerda que estão se formando ou venham a se formar no país: “Tivemos desde o começo a intenção de constituir uma usina de ideias para serem disseminadas no campo da esquerda, estimulando todas as iniciativas frentistas pela esquerda. O período que se abrirá após 2016 vai exigir da esquerda um novo conceito de coalizão e um novo conceito de frente. Para isso, temos que disseminar o debate em todos os partidos e em todos os setores dos partidos, para contribuir com sua reflexão. A Frente Brasil Popular é um exemplo muito importante por reunir organizações de massa, mas já há dezenas de outros manifestos frentistas no país”, disse o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, também um dos articuladores do movimento.
 
Tarso afirmou que o objetivo do Fórum 21 é criar um processo de capilarização de ideias para constituir uma alternativa pela esquerda no país: “O governo Lula e o primeiro governo Dilma proporcionaram avanços muito importantes no Brasil, reestruturaram a sociedade de classes, bloquearam as privatizações, constituíram programas sociais. Mas, provavelmente esse ciclo tenha se esgotado”, disse. Segundo o ex-governador, uma questão hoje parece unificar o arco da esquerda: “A constatação de que esse sistema de alianças que está aí caminha para o seu final e de que a visão de coalizão governamental também vai mudar”.
 
Seminários
 
O capítulo Rio de Janeiro do Fórum 21 pretende realizar três grandes seminários até dezembro. Os temas dos seminários ainda serão definidos pelo Grupo Executivo, mas, segundo indicaram alguns de seus integrantes, os principais focos de discussão devem ser a regulação da mídia e a democratização dos meios de comunicação, a defesa da Petrobras e da soberania no pré-sal e a luta contra a agenda conservadora que a direita tenta impor a partir do Congresso Nacional. O capítulo São Paulo do Fórum já produziu quatro seminários, o capítulo Porto Alegre produzirá seu sétimo seminário no dia 6 de outubro, e o capítulo Brasília, também criado este mês, teve a primeira reunião de seu Grupo Executivo realizada na quinta-feira (24).
 
O senador Lindberg Farias (PT-RJ), que, na tribuna do Senado, foi o primeiro parlamentar a saudar publicamente a criação do Fórum 21, falou sobre a importância de defender as conquistas do país contra a “violentíssima agenda regressiva” que a direita tenta impor: “Na próxima semana estão querendo votar na Câmara dos Deputados o fim do regime de partilha do pré-sal com a Petrobras. Outro projeto já na pauta quer colocar um limite, para a dívida líquida e para a dívida bruta, de uma vez e meia o PIB em relação à receita. Se isso for aprovado no Senado, teremos que ter superávits fiscais superiores a 3% do PIB, o que significa aprofundar cortes violentamente”.
 
Na avaliação de Lindberg, há dois golpes em marcha no Congresso Nacional: “Um é a tentativa de impeachment, e o outro é impor a agenda de retrocesso. Há uma aliança do PSDB com o PMDB neste sentido, essa pauta vem com uma força muito grande. Então, nós parlamentares de esquerda estamos precisando muito de ajuda, de formulação. Sei que temos de pensar o futuro, mas eu estou apavorado com o presente”, disse.
 
Mídia
 
A questão da mídia também promete esquentar os debates do Fórum 21 no Rio: “Que o Fórum realize o mais rápido possível o seminário sobre a questão da comunicação. Diversas entidades podem participar e colaborar, queremos um processo concreto”, disse o jornalista Mário Augusto Jakobskind. Já Bernardo Cotrim, secretário de Formação do PT no Rio, sugeriu que o Fórum 21 se junte ao Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) “para fazer essa luta que é muito importante para o Brasil”.
 
Para Joaquim Palhares, a base da discussão do Fórum 21 sobre comunicação serão as 700 propostas da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada no final do governo Lula: “Mas, precisamos conseguir reduzir para um número que a população entenda. É do debate entre jornalistas, professores de comunicação que sairão as propostas”, disse. Ele ressaltou a importância de se criar uma narrativa em contraponto à mídia conservadora: “Todos nós sabemos o mal que a grande imprensa faz ao país. Desinforma, complica, distorce e esconde. Desde que amanhece até a hora de dormir somos bombardeados por esse poder colossal que eles têm nas mãos”.
 
Palhares lembrou que a mídia alternativa está engajada no processo de criação do Fórum 21 e que já fazem parte do Grupo Executivo de São Paulo veículos como Caros Amigos, Rede Brasil Atual e o Blog do Rodrigo Vianna, além da Carta Maior: “Creio que a expansão disso será natural”, disse.
 
Ao final da reunião, a economista Ceci Juruá, que também integra do Grupo Executivo no Rio, resumiu a importância histórica da articulação que se inicia: “Um dos objetivos desse fórum é repetir o trabalho de formiguinha iniciado na resistência à ditadura, que é procurar o consenso entre os diversos setores progressistas, os diversos setores da esquerda. É preciso saber escutar as diferentes posições e as diferentes entidades”, disse.

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