Um fenômeno midiático (Foto: Internet) |
Tem cabimento um ministro do STF ter coragem
de segurar, por um ano e cinco meses, um processo já com o resultado da votação
delineado, atrasando uma decisão considerada vital para o combate à corrupção?
Por Jadson Oliveira
(jornalista/blogueiro) – editor do blog Evidentemente
– publicado em 18/09/2015
Ontem,
quinta-feira, dia 17, foi dia de festa para as forças políticas à esquerda no
Brasil. A blogosfera progressista (ou “suja”) e ativistas das redes sociais –
os guerrilheiros midiáticos -, partidos e movimentos sociais festejaram a
vitória de 8 a 3 no Supremo Tribunal Federal (STF), que, finalmente, decidiu
proibir o financiamento das campanhas eleitorais pelos empresários.
Ou seja,
os empresários não poderão mais, pelo menos legalmente, COMPRAR deputados,
senadores, presidentes, governadores, prefeitos e vereadores. O ministro Gilmar
Mendes, o maior representante da direita militante no STF, lutou até o último
instante, estrebuchou, esperneou, mas foi, finalmente, derrotado.
A Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), autora da ação que motivou a decisão, divulgou
nota classificando a postura do ministro diante do representante da entidade no
plenário do tribunal de “grosseira e arbitrária”. O PT, que parece ser o alvo
predileto do ódio obsessivo de Mendes, também divulgou nota prometendo estudar
a adoção de alguma medida judicial. Deputados discutem pedir o seu impeachment.
Dentre os
artigos dos companheiros blogueiros chamados progressistas (ou “sujos”),
destaco o de Paulo Nogueira, no blog DCM –
Diário do Centro do Mundo, com o sugestivo título: ATÉ QUANDO GILMAR VAI
ABUSAR DA NOSSA PACIÊNCIA? (Lembra, obviamente, a célebre ‘catilinária’ de
Cícero: “Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”). Deixo link aqui
Aproveito
para responder a Paulo Nogueira: creio que por muito mais tempo teremos de
aguentar Gilmar Mendes, mesmo que não seja propriamente este, mas um outro ou
outros. Simplesmente porque Gilmar Mendes não é causa, mas o efeito gerado por
um monstro chamado monopólios da mídia hegemônica. Para simplificar: a Globo e
seus parceiros, os principais fazedores da cabeça dos brasileiros.
Pense bem
(já falei isso aqui neste meu blog): tem cabimento um ministro do STF ter
coragem de segurar, por um ano e cinco meses, um processo já com o resultado da
votação delineado, atrasando uma decisão considerada vital para o combate à
corrupção? Não numa conjuntura qualquer, mas numa conjuntura que, desde as
manifestações de junho de 2013 e desde a deflagração da chamada Operação Lava
Jato, está marcada pelo combate à corrupção (ou pelo suposto combate).
Tem
cabimento!? Tem, porque nós não temos jornais e emissoras de rádio e TV
interessados em defender posições populares, democráticas e nacionais e,
portanto, um Gilmar Mendes se atreve a segurar um processo desse e ainda dispõe
de meios de comunicação que lhe abrem os microfones para que ele defenda sua
tese, segundo a qual financiamento de campanha eleitoral por empresas nada tem
a ver com corrupção.
Então,
diante do poder descomunal da Rede Globo – vamos nos ater ao inimigo principal
do povo brasileiro, o mais visível -, me atrevo a prever que o ministro vai
continuar sua militância política, através dos meios hegemônicos de comunicação.
E, claro,
esses meios hegemônicos de comunicação – mesmo fustigados através da Internet e
por algumas poucas publicações – não vão deixar que prosperem quaisquer medidas
judiciais contra ele.
Como
também não vão deixar que avance a luta pela democratização das concessões de
rádio e TV; não vão deixar que avance a luta por uma reforma política e
eleitoral de cunho mais popular e democrático; e não vão deixar que tiremos o “suposto”
quando falemos de combate à corrupção.
Creio ser
útil não esquecer o tamanho do poder da Globo e seus parceiros, inclusive e
sobretudo num momento de vitória como o que significa a histórica decisão do
STF. Como sempre, tal vitória será diluída, relativizada, porque, simplesmente,
não conseguimos ainda construir uma mídia contra-hegemônica capaz de estabelecer
a comunicação com o povo.
Aliás,
lendo o livro do Paulo Henrique Amorim, ‘O Quarto (Primeiro) Poder – Uma outra
história’, fiquei alarmado: segundo ele, até a ditadura militar, na sua fase
terminal, estava assombrada diante do poder descomunal do monopólio da Globo.
Só os governos do PT/Lula/Dilma não conseguiram enxergar (ou se quedaram
impotentes).
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