(Foto: do site do CIMI) |
Os criminosos dispararam de
maneira franca e para matar. Aterrorizaram famílias inteiras em nome da
continuidade do esbulho de seu território originário e ancestral.
Do site do Conselho Indigenista Missionário – CIMI (com informação do CIMI), de 29/08/2015
Após uma semana de preparativos, ruralistas atacaram famílias indígenas
Guarani e Kaiowá, do tekohá Nhanderu Marangatu, e assassinaram uma de suas
lideranças, na tarde deste sábado, 29 de agosto, em Antônio João, no Mato
Grosso do Sul.
Nhanderu Marangatu é sabidamente uma terra indígena tradicional Guarani
e Kaiowá. Foi reconhecida e homologada pelo Governo Federal em meados de 2005.
No entanto, a suspensão dos efeitos da homologação, seguido por uma ordem de
despejo proveniente do Poder Judiciário, destinou quase mil pessoas ao peso
impagável de mais de uma década de beira de estrada, mortes e a obrigatoriedade
de suportar condições sub-humanas de vida. Estas centenas de pessoas passaram a
viver, desde então, em menos de 150 dos 9.500 hectares homologados. Cansados de
sofrer, os indígenas decidiram retomar sua área originária há exatamente uma
semana.
Para entender mais leia aqui:
No início desta manhã, uma professora de Nhanderu Marangatu tentava, de
todas as formas, meios de sair de sua terra para buscar o rumo de Brasília, na
esperança de garantir a paz e a segurança de sua comunidade. Porém, a
professora foi impedida em seu direito de ir e vir e de exercer livremente sua
cidadania por conta do bloqueio das estradas e pelas ameaças de morte, ambas
ações realizadas pelos fazendeiros e sindicatos rurais que promoveram cerco
sobre os indígenas por mais de três dias. Desesperada, a professora, que
conhece de perto a brutalidade dos fazendeiros da região desde que seu próprio
pai foi por eles assassinado, relatava que se podia “sentir no ar o clima de
morte”.
Enquanto isso, da mesma forma que nos ataques realizados contra famílias
Guarani e Kaiowá da Terra Indígena de Kurusu Ambá, município de Coronel
Sapucaia, MS, ocorrido há exatos dois meses atrás (http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=8182), ruralistas e
políticos se reuniram dentro de um sindicato rural, desta vez o de Antonio
João, abandonaram a Justiça, os fóruns do Estado e a legalidade, armaram-se,
vestiram coletes a prova de balas e decidiram atacar deliberadamente e
criminosamente as famílias indígenas de Nhanderu Marangatu. A ordem de ataque
foi proferida, segundo notícias locais, pela presidente do sindicato, Roseli
Maria Ruiz (http://www.douradosnews.com.br/noticias/cidades/revoltada-presidente-de-sindicato-deixa-reuniao-e-diz-que-vai-retomar-terra-invadida).
Enquanto o agrobanditismo se organizava e preparava o ataque, que
levaria a morte de mais um Guarani e Kaiowá, destacamentos da Força Nacional,
que possuíam determinação para atuar no caso e deveriam estar no local,
encontravam-se a mais de uma hora da região, na cidade de Ponta Porã, há 70 km,
mesmo com a possibilidade latente e iminente do ataque de fazendeiros. Duas
horas antes da investida ruralista, funcionários da Funai e o presidente da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara de Deputados, Paulo Pimenta,
buscaram sem êxito, junto ao Ministério da Justiça, o deslocamento da Força
Nacional para as imediações de Nhanderu Marangatu. A Força Nacional somente
começou a se movimentar após o anúncio de que o ataque ruralista havia
começado.
Bem mais próximos dos fazendeiros, o que não é de se estranhar,
estiveram destacamentos do D.O.F (Departamento de Operação de Fronteira).
Apesar de não ter participado propriamente da ação, não impediu o armamento,
nem o deslocamento dos fazendeiros armados, com intenções bem determinadas. O
DOF deveria ter dado ordem de prisão à milícia rural. No entanto, em sua
conivência e prevaricação, simplesmente assistiu ao ataque das forças
paramilitares dos ruralistas sul mato-grossenses.
Sem nenhum impeditivo ou barreira, mais de 40 veículos invadiram as
terras indígenas retomadas. Segundo líderes indígenas, dentre os fazendeiros
estavam deputados e vereadores. Os criminosos dispararam de maneira franca e
para matar. Aterrorizaram famílias inteiras em nome da continuidade do esbulho
de seu território originário e ancestral. Depois de muitos disparos conseguiram
por fim manchar de sangue novamente o solo sagrado de Nhanderu Marangatu. Já na
presença da Força Nacional dentro do território indígena, Simião Vilhalva, irmão
de uma liderança tradicional, tombou como Marçal e Hamilton Lopes, defendendo
seu território, na esperança de um futuro menos dramático para seu povo.
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