Eduardo Cunha é acusado de encurralar Dilma numa "clássica marcha da insensatez" (Foto: Internet) |
EDITORIAL
DO JORNAL O GLOBO APONTA AÇÃO “INCONSEQUENTE DOS TUCANOS” E DEFENDE “CONDIÇÕES
DE GOVERNABILIDADE AO PLANALTO”
Íntegra
do editorial de O Globo de 07/08/2015 – reproduzido do site do jornal (os dois
títulos acima são deste blog)
MANIPULAÇÃO DO CONGRESSO ULTRAPASSA LIMITES
Em guerra particular com Dilma e PT, presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, ajuda a desmontar base do governo e contribui para
agravar crise econômica
Há
momentos nas crises que impõem a avaliação da importância do que está em jogo.
Os fatos das últimas semanas e, em especial, de quarta-feira, com as evidências
do desmoronamento da já fissurada base parlamentar do governo, indicam que se
chegou a uma bifurcação: vale mais o destino de políticos proeminentes ou a
estabilidade institucional do país?
Mesmo o
mais ingênuo baixo-clero entende que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), age de forma assumida como oposição ao governo Dilma na tentativa de
demonstrar força para escapar de ser denunciado ao Supremo, condenado e perder
o mandato, por envolvimento nas traficâncias financeiras desvendadas pela
Lava-Jato. Daí, trabalhar pela aprovação de “pautas-bomba”, destinadas a
explodir o Orçamento e, em consequência, queira ou não, desestabilizar de vez a
própria economia brasileira.
Até há
pouco, o presidente do Senado, o também peemedebista Renan Calheiros (AL),
igualmente investigado na Lava-Jato, agia na mesma direção, sempre com o apoio
jovial e inconsequente dos tucanos. Porém, na terça, antes de almoço com o
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Renan declarou não ser governista, mas
também não atuar como oposicionista, seguindo o presidente da Câmara, e
descartou a aprovação desses projetos-bomba pelo Congresso. Um gesto de
sensatez.
A Câmara
retomou as votações na quarta, com mais uma aprovação irresponsável, da PEC
443, que vincula os salários da Advocacia-Geral da União, delegados civis e
federais a 90,25% da remuneração dos ministros do Supremo. Espeta-se uma conta
adicional de R$ 2,4 bilhões, por ano, nas costas do contribuinte. Reafirma-se a
estratégia suicida de encurralar Dilma, por meio da explosão do Orçamento, e
isso numa fase crítica de ajuste fiscal. É uma clássica marcha da insensatez.
Os sinais
de esfarelamento da base parlamentar do governo foram reforçados pelo anúncio
de PDT e PTB de que não votarão mais com o Planalto. A crise avança para
reduzir ainda mais a estreita margem que o governo tem no Congresso para
combater os desajustes da economia.
Justificou-se, assim, a iniciativa do
vice-presidente, Michel Temer (PMDB), principal articulador político do
Planalto, de fazer tensa declaração de reconhecimento da gravidade da situação
e apelar para que haja um entendimento amplo a fim de conter a bola de neve de
duas crises que se alimentam, a política e a econômica.
Somou-se
à atitude de Temer a ida do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, à
Câmara para, entre elogios ao PSDB e reconhecimento de erros cometidos pelo PT,
propor um “acordo suprapartidário” diante da situação difícil na política e na
economia. Algo nunca visto por parte de um petista estrelado. Mais um teste de
maturidade para os tucanos.
Se a
conjuntura já é muito ruim, a situação piora com o deputado Eduardo Cunha
manipulando com habilidade o Legislativo na sua guerra particular contra Dilma
e petistas. Equivale ao uso de arma nuclear em briga de rua, e com a conivência
de todos os partidos, inclusive os da oposição.
É preciso
entender que a crise política, enquanto corrói a capacidade de governar do
Planalto, turbina a crise econômica, por degradar as expectativas e paralisar o
Executivo. Dessa forma, a nota de risco do Brasil irá mesmo para abaixo do
“grau de investimento”, com todas as implicações previsíveis: redução de
investimentos externos, diretos e para aplicações financeiras; portanto,
maiores desvalorizações cambiais, cujo resultado será novo choque de inflação.
Logo, a recessão tenderá a ser mais longa, bem como, em decorrência, o ciclo de
desemprego e queda de renda.
Tudo isso
deveria aproximar os políticos responsáveis de todos os partidos para dar
condições de governabilidade ao Planalto.
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