Não há ninguém, entre os conservadores, capaz de enfrentar Lula em 2018. E então vale tudo para tirá-lo da disputa — incluído aí transformar o Brasil num estado policial.
Por Paulo Nogueira, no blog DCM - Diário do Centro do Mundo, de 15/08/2015
Até quando seremos obrigados a engolir vazamentos criminosos da Polícia Federal?
Ou será que viramos um estado policial, em que a PF não presta contas a ninguém.
Quebrar o sigilo bancário de Lula e passá-lo logo a quem, a Veja, foi um golpe de extrema sordidez.
O objetivo foi apenas confundir uma parcela dos leitores incapazes de qualquer tipo de discernimento.
Não houve nada de interesse público na operação. Ao contrário, foi um ataque sinistro ao interesse público, dado que o estado não pode invadir a conta de ninguém e nem, muito menos, torná-la pública por vias escusas.
É, repito, uma manobra para manipular pessoas.
O que você espera encontrar na conta de alguém que há quatro anos faz palestras na casa de 150 mil dólares?
Lula é um dos mais caros e mais requisitados palestrantes do circuito mundial.
Suponha que ele em determinado momento tenha feito duas palestras por semana. Vou até baixar o preço: 100 mil dólares.
Oito por mês — o que configura uma agenda tranquila — dariam 800 mil dólares, coisa de 2,5 milhões de dólares no câmbio de hoje.
Desconte impostos, taxa de agente, o dízimo petista e outras coisas.
Sobra muito dinheiro, 1 milhão de reais por mês, por aí.
Desde que Lula deixou a presidência, já se passaram meses suficientes para que ele montasse um patrimônio considerável.
Na última campanha, a Folha noticiou que Marina — que figura na segunda ou terceira liga das palestras — levantara com elas 1,6 milhão em três anos. E ela não tinha e não tem acesso ao roteiro internacional.
Fazer palestras milionárias ao fim da presidência se tornou comum com a globalização dos anos 1980.
Ronald Reagan e Margareth Thatcher foram os primeiros ex-líderes a ganhar fortunas com isso.
Seus sucessores, Clinton e Blair, se tornariam também estrelas das conferências.
(O colunista da Veja Reinaldo Azevedo conseguiu dizer que Thatcher morreu pobre, no pseudo-obituário que fez. Apenas uma casa que ela deixou em Mayfair, a área mais nobre de Londres, vale mais de 10 milhões de dólares.)
No Brasil, o primeiro a palestrar com cachês milionários foi FHC. Numa matéria da Piauí, algum tempo depois de deixar o Planalto, ele contou que comprou malas vermelhas para facilitar recolher a bagagem em suas múltiplas viagens internacionais para fazer palestras.
Lula seguiu os passos de FHC, e de tantos outros.
Uma questão honesta – e que valeria para todo mundo – é se os cachês não são absurdamente altos.
Ex-presidentes têm pensões vitalícias exatamente para prevenir dificuldades pós-poder.
Nos Estados Unidos, a pensão foi introduzida em 1955, por conta da precária situação financeira do ex-presidente Truman.
Mas é claro que nem a Polícia Federal e muito menos a Veja têm qualquer propósito honesto ao trazer à tona o saldo bancário de Lula.
O mais irônico é que as consequências práticas serão irrelevantes.
No DCM, em circunstâncias completamente diferentes, abordei criticamente o mercado de palestras milionárias para ex-presidentes.
Citei Lula, e vi depois qual era o tom com que os petistas reagiram. Imaginei que haveria algum tipo de indignação pelo menos em alguns.
Nada.
Os leitores diziam o seguinte: “Dos ricos, o Lula cobra muito. De nós, não cobra nada. Deixa ele em paz.”
De tudo isso, sobra que a direita quer, desesperadamente, pegar Lula.
Não há ninguém, entre os conservadores, capaz de enfrentá-lo em 2018. E então vale tudo para tirá-lo da disputa — incluído aí transformar o Brasil num estado policial.
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