(Foto: Rafael Yohai/Página/12) |
O
presidente boliviano, que tem o maior índice de aprovação entre os chefes de
Estado da América Latina, expressou sua preocupação pelos ataques dos fundos abutres
contra a Argentina, os movimentos golpistas na Venezuela e as operações contra Dilma
Rousseff. Morales manifestou sua admiração pelo papa Francisco.
Entrevista exclusiva do presidente boliviano Evo Morales: Conta como foi
e é sua relação com os Kirchner, Fidel e o Papa e sua visão do desgelo entre
Cuba e os Estados Unidos. Critica as novas formas de golpismo e revela que
viajará à Argentina, onde se reunirá com seu “amigo (Daniel) Scioli”, o qual espera
que “se saia bem nas próximas eleições (presidenciais)” porque “é o candidato
de Cristina e do kirchnerismo”.
Por Mercedes López San Miguel, de La Paz –
do jornal argentino Página/12,
edição impressa de hoje, dia 17
A imagem de Che Guevara que se destaca numa parede
do Salão Azul no Palácio Quemado é uma fonte de inspiração. Sentado numa
poltrona debaixo do retrato, Evo Morales se define como antiimperialista e
anticapitalista, e se sente parte duma geração de líderes que fizeram uma revolução
democrática. Elogia Lula, Kirchner e Chávez por terem dignificado a América Latina.
Sorri. Se sente bem. Compara a Bolívia instável e a Bolívia de hoje. Evo chegou
à presidência em janeiro de 2006 e foi eleito pela terceira vez em outubro do ano
passado. Numa década, a extrema pobreza baixou de 38,3% para 17,8%.
Em entrevista exclusiva a Página/12, o presidente
Morales evoca a Cúpula das Américas de Mar del Plata, faz uma reflexão sobre a
realidade da região e denuncia as tentativas do império de agredir aos governos
do Brasil e da Venezuela. Se sente mais católico a partir do pontificado de
Francisco, em sintonia política com Cristina Fernández (de Kirchner) e antecipa
que terá um encontro em Buenos Aires com o candidato presidencial Daniel
Scioli.
(...)
–Parece que a América Latina está vivendo tempos de
mudança. Penso na crise política que vive o governo de (Dilma) Rousseff no
Brasil e as dificuldades que enfrenta o presidente Maduro na Venezuela.
–Há uma ofensiva contra os países com governos
antiimperialistas. Agora não podem fazer golpes de Estado militares e civis,
tampouco conspirações a partir do império, mas sinto que há outras formas de
agressão política, como as chantagens e os condicionamentos feitos contra a
Venezuela. Na Argentina, os fundos abutres, essa é uma agressão econômica. Quando
um governo antiimperialista é sólido, querem destroçá-lo pelo lado econômico. Mas
o trabalho conjunto da região é importante. E quando não podem nem militar nem
economicamente, fazem um golpe político como fizeram contra (Fernando) Lugo no
Paraguai. Sinto que a agressão a Dilma é política, um golpe através do Congresso.
E muito também depende de nossos movimentos sociais, e claro, sinto que o império
quer destruir o patrimônio político do PT. Já não é só contra Dilma, é também
contra Lula. Usam o tema da corrupção.
–Há graves denúncias de corrupção contra a Petrobras
e outras empresas estatais brasileiras...
–Esta é nossa responsabilidade como governo. Que me
desculpem alguns presidentes, mas em meu governo não se mete ninguém da família.
Jaime Paz Zamora era presidente (da Bolívia) e seus filhos foram deputados, sua
irmã era dona do palácio. O irmão de Manfred Reyes Villa era ministro de todos os
partidos, um eterno governista. Conhecendo isso, eu disse não, ninguém se mete
aqui, nem minha irmã, nem meu irmão. Se faço algo mal, é responsabilidade de
Evo, não vai salpicar na família. Minha irmã Esther queria ser primeira dama, e
eu lhe dizia que é algo humilhante, que se fosse presidenta, por acaso seu
marido ia ser o primeiro cavalheiro? Agora ela anda feliz e contente, sabe que eu
tinha razão. Em Pando, com Leopoldo Fernández (ex-governador), caiu toda uma teia de corrupção, cunhados, cunhadas,
todos. O Chile está com problemas sérios também. Tentaram me incriminar com o fundo
indígena. Sabem que a estrutura do MAS (Movimento Ao Socialismo, partido que dá
sustentação ao governo de Evo) quase não existe, mas sabem que minha força são os
movimentos sociais e indígenas. A oposição interna e a externa usam a menor
coisa para nos desgastar, corrupção, direitos humanos, economia. Se algum governo
da direita estivesse envolvido em casos de corrupção, os Estados Unidos estaria
tentando salvá-lo.
(...)
Tradução: Jadson Oliveira
Estão aí apenas duas perguntas. Pretendo traduzir e
publicar mais algumas partes. Quem quiser ler a entrevista na íntegra, em
espanhol, clique aqui.
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