(Foto: Rafael Yohai/Página/12) |
O
presidente boliviano, o mais bem avaliado na América Latina, fala das dúvidas e
aprendizagens quando se preparava para comandar uma revolução democrática:
“Perguntei a Fidel o que devia fazer para liderar uma revolução na Bolívia, eu
esperava que me dissesse que teria de combater com armas. Mas toda a noite ele me
falou de saúde, educação, responsabilidade do Estado”.
Mais da entrevista de Evo Morales
ao jornal argentino Página/12, edição
impressa de ontem, dia 17, quando foi publicada por este blog a primeira parte (o
título acima é deste blog)
(...)
(O ex-presidente argentino) Néstor Kirchner dizia
que a América Latina não podia continuar sendo o quintal dos Estados Unidos. Quando
eu era dirigente sindical acompanhei (o jogador de futebol argentino) Diego
Armando Maradona a Mar del Plata para participar da Cúpula das Américas (2005),
estivemos em belos atos públicos com Lula, Chávez, Fidel e (Néstor) Kirchner, foram
momentos de minha preparação como presidente, momentos de aprendizagem e força.
Seria 2004 ou 2005, depois de minha primeira participação nas eleições como
candidato à presidência em 2002 (foi derrotado), quando fui a Cuba como convidado,
falei com os líderes do Partido Comunista, conversei com os dirigentes cubanos e
lhes perguntei que se um dia eu fosse presidente, antiimperialista, e os
Estados Unidos me bloqueassem como no caso de Cuba, o que deveria fazer. Todos
os companheiros com quem falei, menos Fidel, me disseram que tinha de ter muito
cuidado, que o governo dos Estados Unidos é vingativo e rancoroso. E finalmente
falei com Fidel e ele me deu uma resposta totalmente diferente: “Evo, primeiro a
Bolívia não é uma ilha como Cuba, a Bolívia tem Lula, Chávez, (Néstor) Kirchner,
nós, não há que ter medo. A Bolívia tem tantos recursos naturais”. Perguntei a
Fidel o que devia fazer para liderar uma revolução na Bolívia, eu esperava que
me dissesse que teria que combater com armas. Mas toda a noite me falou de saúde,
educação, responsabilidade do Estado.
Até (Néstor) Kirchner se vivia uma etapa de sublevação
democrática. Me lembro que entre o Equador, Bolívia e Argentina parecia que havia
uma competição para ver quem derrubava mais presidentes. Um tal (Domingo) Cavallo
(ministro da economia do auge do neoliberalismo do governo Menem), “corralito”
bancário (bloqueio de depósitos), instabilidade econômica. (Néstor) Kirchner
estabiliza e demonstra que há soluções democráticas. Com a companheira Cristina
já nos conhecíamos quando ela estava junto a Néstor. Nunca me esqueço que nos
primeiros anos de minha gestão tivemos inundações e nos mandou helicópteros e
aviões. Lamento muito, me dói até hoje, que um avião explodiu em El Alto
(cidade nos arredores de La Paz). Tudo para nos ajudar. Encontrei uma Bolívia
com apenas um helicóptero, hoje temos 24. Cristina é uma mulher com compromisso
social, eu admiro dela seu profundo sentimento social e sua clareza ideológica.
(...)
Somos uma geração que fizemos uma revolução
democrática. Tenho muita confiança, sinto que nos respaldaremos mutuamente, que
estamos transformando nossos países. Nos tempos neoliberais as empresas e as
indústrias do Estado argentino estavam paralisadas, agora as indústrias e
fábricas levantaram voo. Estamos vendo como adquirir tecnologia da Argentina. Não
queremos ver a Bolívia como um país de comércio, e sim como sócio.
(...)
–Mauricio Macri na Argentina e Henrique Capriles na
Venezuela são empresários que encabeçam uma opção definida da direita, como os
vê?
–Especialmente na América do Sul os países são
antiimperialistas. O império divide para tratar de derrotar os governos progressistas,
a história se repete, mas o povo sempre vai apoiar e ratificar o governo que o
respaldou e o libertou. Essa é nossa experiência. Nos preocupa o caso da
Venezuela, sobretudo pelos problemas econômicos. A posição bolivariana e
revolucionária está firme, apesar das agressões políticas e econômicas, ou das
agressões parlamentares como no caso do Brasil. Não são tempos dos impérios, mas
sim dos povos; não estamos nos tempos da oligarquia, mas sim dos movimentos
sociais.
(...)
Tradução: Jadson Oliveira
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