Humala é apontado pelo establishment econômico e midiático como o grande culpado pela queda da economia (Foto: EFE/Página/12) |
A queda do preço dos minérios desnudou a fragilidade do seu modelo
neoliberal: depois de estar crescendo entre 6% e 10% durante a última década, o
incremento do PIB em 2014 baixou para 2,3%. Para este ano se espera um índice
similar. Agora os grupos econômicos dão as costas ao governo.
Por Carlos Noriega, de Lima – no jornal
argentino Página/12, edição impressa
de 11/08/2015
Os tempos de bonança econômica chegaram ao fim. E o presidente Ollanta
Humala está pagando a fatura ao final da festa. Uma fatura que os adversários
políticos do presidente peruano, e os grupos econômicos que governaram de mãos
dadas com ele mas agora lhe dão as costas, estão se encarregando de que seja a
mais custosa possível. Depois de estar crescendo entre 6% e 10% durante a
última década, o incremento do PIB no ano de 2014 baixou para 2,3%. Para este ano
se espera um índice similar.
Esquecendo que neste governo
a economia vem sendo manejada pela tecnocracia neoliberal, a oposição de direita,
que domina o cenário político, e o establishment econômico e midiático, atribuem
a Humala toda a culpa pela queda da economia, ao mesmo tempo em que defendem o
modelo neoliberal. “O crescimento foi freado pela ineficácia do governo em
promover o investimento privado e por sua incapacidade de levar a cabo o investimento
público”, escreveu em sua coluna do jornal El Comercio, o mais importante do
país, Roberto Abusada, economista do neoliberal Instituto Peruano de Economia e
assessor econômico da ditadura de Alberto Fujimori. Opinião que, com alguns
matizes, é a dominante nos meios de comunicação.
“Culpar Humala pela queda
da economia é uma crítica que parte duma lógica autista que se desconecta do
contexto internacional. Sempre se pode dizer que o governo pôde implementar
políticas anticíclicas, mas a desaceleração econômica se deve fundamentalmente
a fatores externos, como a importante queda dos preços internacionais dos minérios,
que para a economia peruana são fundamentais. O nível de crescimento da economia
peruana depende do nível dos preços dos minérios”, assinalou a Página/12 José
de Echave, economista da ONG CooperAcción, especializada em temas relacionados
com os minérios.
Humberto Campodónico,
economista e catedrático da Universidade de San Marcos, também foi consultado
por este diário sobre o assunto: “O fim do superciclo dos preços altos das matérias
primas, como os minérios, é um ponto central para explicar a queda da economia
peruana. Todos os países dependentes de exportações de recursos naturais sofreram
queda. Isso não é responsabilidade de Humala”.
A vulnerabilidade da economia
peruana e sua alta dependência do setor de mineração se refletem no fato de que
cerca de 60% das divisas por exportações vêm dos minérios.
Em entrevista a Página/12,
Salomón Lerner, que foi chefe da campanha eleitoral de Humala e seu primeiro
ministro nos primeiros cinco meses de governo, assegurou que “o grande erro de
Humala é ter continuado com o modelo econômico neoliberal excludente, que inclusive
foi aprofundado, fazendo tudo ao contrário do projeto de mudança que apresentou
na campanha”. “Acredito que esta mudança de Humala – avalia o ex-primeiro
ministro – se dá por seu temor a uma reação contrária dos empresários.”
Humberto Campodónico e José
de Echave concordam que “o grande erro” de Humala é sua aposta pela continuidade
do modelo neoliberal. Uma diferença de Humala com os governos anteriores é a força
que deu aos programas sociais. “Nisto se avançou, mas não tanto como se esperava”,
aponta o ex-primeiro ministro Lerner.
Continua
em espanhol, com algumas traduções entre parênteses:
Los tres expertos
consultados para esta nota (esta matéria) concuerdan en que en lo económico el Perú
se enfrenta no a problemas coyunturales del actual gobierno, sino a una crisis
del modelo neoliberal que ha marcado los últimos 25 años del país. “Sin duda (Sem
dúvida) estamos ante una crisis del modelo que trasciende a Humala”, asegura De
Echave. “La economía peruana es, de lejos (disparado), la más neoliberal de
Sudamérica. Eso viene desde hace años y ha continuado con Humala. Ahora estamos
ante una crisis del modelo neoliberal que no se quiere reconocer. Le están
echando (Estão jogando) toda la culpa a Humala para negar la evidente crisis
del modelo”, dice, por su parte, Campodónico. Y Lerner apunta: “La derecha está
acusando a Humala de ser el causante de la caída económica del país cuando son
los neoliberales los que han gobernado, eso es inentendible (são os neoliberais
que governaram, isso não é esclarecido). Humala está cargando con las culpas de
la derecha (Humala está levando a culpa que é da direita)”.
Se cuestiona que en los
años del boom del crecimiento no se haya iniciado una diversificación
productiva que haga (que faça) a la economía peruana menos dependiente de la
minería. “En diversificación económica no se ha hecho nada, ni en gobiernos anteriores
ni en este”, indica De Echave. También se crítica que el país no haya
aprovechado mejor los altos precios de los minerales para obtener más rentas.
“Uno de los problemas del Perú es no haber gravado (taxado) adecuadamente las
sobreganancias (os lucros exagerados) de las mineras por los altos precios de
los minerales. En países como Bolivia y Ecuador entre el 70 y 80 por cuenta de
la renta de los recursos naturales queda en el (fica nas mãos do) Estado, en el
Perú solamente un tercio de esta renta ha ido al Estado”, señala Campodónico.
Sobre las medidas tomadas
para reactivar la economía, Lerner y Campodónico cuestionan que se haya
apostado solamente por la oferta, con medidas para favorecer a los empresarios,
como la flexibilización de los controles ambientales, la rebaja de impuestos a
las empresas o el canje (ou a troca) de obras por impuestos, y se haya olvidado
la reactivación de la demanda. El sueldo (O salário) mínimo se mantiene en
solamente 220 dólares, uno de los más bajos de la región. En los cuatro años
del actual gobierno, la pobreza disminuyó de 28 a 23 por ciento. En las zonas
rurales se eleva a 46 por ciento. Salomón Lerner advierte que con la caída (com
a queda) de la economía “se va a retroceder en lo poco avanzado en reducir la
pobreza”.
Tradução
(parcial): Jadson Oliveira
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