Em junho, milhares de manifestantes cobraram a adoção de medidas econômicas que não penalizassem os trabalhadores (Foto: Sigmapress/Folhapress) |
Manifestantes que vão às ruas nesta quinta-feira rechaçam impeachment da
presidenta Dilma e querem o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da
presidência da Câmara dos Deputados.
Por Rodrigo Gomes –
artigo publicado pela RBA (Rede Brasil
Atual) em 17/08/2015
São Paulo – Movimentos sociais
e centrais sindicais esperam levar milhares de pessoas às ruas em todo o país
nesta quinta-feira (20) com a proposta de construção de uma agenda popular em
contraposição à Agenda Brasil e ao ajuste fiscal. As organizações defendem
que os trabalhadores não podem pagar pela crise e cobram reformas estruturais.
As informações foram dadas em entrevista coletiva realizada na tarde de hoje
(17), em São Paulo.
Os manifestantes irão às ruas também
com a frase "Fora Cunha" na ponta da língua. Eles querem a
queda do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
suspeito de receber US$ 10 milhões em propina, de acordo com delação obtida
pela Operação Lava Jato. Apontam o peemedebista como o principal articulador da
ofensiva contra direitos sociais no Congresso.
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST),
Guilherme Boulos, disse que o ato será em defesa dos trabalhadores e de
cobrança ao governo da presidenta Dilma Rousseff. “É um enfrentamento ao ajuste
fiscal e à política econômica conduzida pelo governo federal e os governos
estaduais. E cobrando uma saída pela esquerda, uma saída popular para a crise.
As propostas da Agenda Brasil trazem uma série de retrocessos aos interesses
dos trabalhadores. E por isso precisam ser combatidas nas ruas”, afirmou.
A Agenda Brasil foi apresentada pelo presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), a ministros do governo Dilma como uma forma de retomar o
crescimento e realizar reformas. Entre outras coisas propõe mudança no tempo
para aposentadoria, aprovação do Projeto de Lei 4.330, de 2004, que regulamenta
e amplia a terceirização nas empresas, flexibiliza as regras para concessão de
licença ambiental, abre caminho para novas privatizações e ataca as terras
indígenas.
“É um pacto entre os de cima. Não é um pacto com o povo brasileiro. O
tom da agenda é de retrocessos para a maioria da população. E nós enfrentaremos
isso”, afirmou Boulos. Os movimentos avaliam que esta agenda foi organizada
pelo lobby de banqueiros, ruralistas e empresários que se articula no
Congresso. A agenda que os movimentos levarão às ruas no dia 20 propõe reforma
tributária, taxação das grandes fortunas, auditoria da dívida pública e taxação
dos lucros e dividendos. “É ajuste para o outro lado”, afirmou.
O presidente da CUT São Paulo, Adi dos Santos Lima, destacou que a
mobilização de quinta-feira faz parte de um longo processo que vem se construindo
desde 13 de março, quando os movimentos e as centrais fizeram o primeiro ato
unificado na Avenida Paulista, e que vai prosseguir até barrar as propostas que
atacam os trabalhadores. “Não temos espaço para fazer pacto com o governo sobre
a Agenda Brasil. Nosso pacto é com os trabalhadores”, afirmou.
No caso do ajuste, o governo federal pretende cortar seus gastos em R$
63 bilhões. Os movimentos reclamam que este corte atinge em cheio programas
sociais como o Minha Casa, Minha Vida – que neste ano só terá contratação de
obras do modelo Entidades, que contém menos de 2% do orçamento total do
programa – e outros setores, como a educação, setor que amargou congelamento de
R$ 10 bilhões de recursos. "Em vez de atacar direitos trabalhistas e
cortar investimentos sociais o governo devia ajustar as contas em cima dos mais
ricos", defendeu Adi.
Para os movimentos, o presidente da Câmara é hoje o principal
representante dessa ofensiva que ataca direitos trabalhistas e sociais. “Ele
transformou a Câmara em uma casa da intolerância e da retirada de direitos.
Esta também é uma mobilização para enfrentar essa direita conservadora que
semeia intolerância e preconceito e está representada por Eduardo Cunha no
Congresso Nacional”, disse Boulos.
Os movimentos ressaltaram ainda que a mobilização do dia 20 é totalmente
diferente da realizada ontem (16), em várias capitais, que pediu o impeachment
da presidenta Dilma. “O debate não é se o impeachment é ou não golpe. Nós
derrubamos um presidente (Fernando Collor de Mello, em 1992). Mas a lei é
clara: Deve haver crime de responsabilidade. E não há indícios ou provas disso
atualmente”, afirmou.
Para a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral,
o enfrentamento à corrupção no sistema político será mais efetivo com a reforma
política defendida pelos movimentos sociais, com o fim do financiamento privado
de campanhas eleitorais. E também com a adoção de outras medidas como a
democratização dos meios de comunicação, a partir da regulamentação da
Constituição Federal.
“Somos contra o impeachment. Mas a passeata do dia 20 não vai diferir
especificamente por esse motivo, mas sim do ponto de vista das ideias. A de
ontem levou às ruas pautas conservadoras, exaltava o Cunha. Nós levamos as
ideias dos movimentos e defendemos os investimentos sociais. Não nos unimos nem
nas pautas, nem nos objetivos”, disse Carina.
O secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio,
afirmou que a mobilização de domingo faz parte de uma grande articulação que
visa a enfraquecer a presidenta com objetivo de fazer uma repactuação do modelo
econômico, com prejuízo para os trabalhadores. “Está em curso uma ofensiva da
direita que apresenta saídas que pioram ainda mais as condições de vida no
nosso país. Há uma movimentação que tenta derrubar a presidenta Dilma, mas
concomitante há uma tentativa de restabelecer o modelo de produção em condições
ainda piores para o povo.”
Atos em todo o país
Em São Paulo, os manifestantes vão se concentrar no Largo da Batata, em
Pinheiros, zona oeste, a partir das 17h. De lá vão em marcha até o Museu de
Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, região central da cidade. São
esperadas 50 mil pessoas na marcha que envolverá 30 entidades e também partidos
políticos. “Não vamos discriminar ninguém. Todos serão bem-vindos se tiverem
concordância com a agenda proposta pelos movimentos e centrais”, afirmou Adi.
Haverá atos no Rio de Janeiro (Cinelândia, 17h), em Fortaleza (Praça da
Bandeira, 14h), Curitiba (Praça Santos Andrade, 11h), Brasília (Praça Zumbi dos
Palmares, 17h), Goiânia (Praça do Trabalhador, 17h), Campina Grande (no Parque
Solón de Lucena, 15h), Aracaju (Praça General Valadão, 14h), Salvador (Shopping
Iguatemi, 9h) e Campo Grande (calçadão da Rua Barão do Rio Branco, 16h).
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