Roberto Amaral, um dos fundadores do PSB, no lançamento de seu livro “A Serpente sem Casca. Da Crise à Frente Popular”, em Porto Alegre (Foto: Guilherme Santos/Sul21) |
“Nós não construímos uma imprensa nossa. E nem
estou falando de uma imprensa nossa para falar com a sociedade. Não construímos
uma imprensa nossa sequer para falar conosco mesmo. Os militantes do movimento
sindical e dos partidos se informam das teses de suas lideranças pela grande
imprensa. Nem criamos uma imprensa de massa, nem criamos uma imprensa própria”.
Por Roberto Amaral, em depoimento a Marco Aurélio Weisheimer, no Sul21 –
reproduzido do blog Viomundo – o que
você não vê na mídia, de 26/07/2015
“Mas é
preciso dizer que a grande responsabilidade por isso é da esquerda e dos nossos
governos de centro-esquerda. Há mais de 40 anos, eu e outras pessoas – aqui no
Rio Grande do Sul havia uma pessoa que lutava muito por isso, o Daniel Herz –
viemos alertando sobre o poder dos meios de comunicação de massa no Brasil,
sobre o monopólio da informação e a cartelização das empresas. A esquerda nunca
acreditou nisso.”
“A
primeira eleição do Lula serviu para mascarar esse problema. Nós metemos na
cabeça que essa gente não formava mais opinião. Nos descuidamos e ficamos
assistindo à construção de um monopólio ideológico, destilando conservadorismo
de manhã, de tarde e de noite. Aqui, não estou me referindo apenas à Rede
Globo, ao Globo, Estadão e Folha de São Paulo. Pior do que isso talvez sejam as
rádios evangélicas, as rádios AM e FM, despejando diariamente xenofobia,
racismo, machismo, homofobia e tudo o que é atrasado. Paralelamente a isso, nós
não construímos uma imprensa nossa. E nem estou falando de uma imprensa nossa
para falar com a sociedade. Não construímos uma imprensa nossa sequer para
falar conosco mesmo. Os militantes do movimento sindical e dos partidos se
informam das teses de suas lideranças pela grande imprensa. Nem criamos uma
imprensa de massa, nem criamos uma imprensa própria.”
“Nos anos
50 e 60, nós tínhamos O Semanário, que circulava no Brasil inteiro defendendo
as teses do Petróleo é Nosso e da Petrobras, tínhamos Novos Rumos, do Partido
Comunista, a imprensa sindical e circulava também a Última Hora. Havia, então,
um esforço para garantir um mínimo de debate. Isso tudo desapareceu e nada foi
colocado no seu lugar. Com a chegada de Lula ao governo, os principais quadros
do PT foram transferidos da burocracia partidária para a burocracia estatal e o
partido acabou se esfacelando. Os principais quadros do movimento sindical
também foram transferidos para os gabinetes da Esplanada”.
“A grande
dificuldade que temos hoje para promover a defesa do governo Dilma é que
perdemos o diálogo com a massa. Eu conversava dias atrás com uma ex-presidente
da UNE e ela me dizia: ‘Professor, como é que eu posso entrar em sala e chamar
os estudantes para uma passeata quando o governo está reduzindo as verbas para
as bolsas de estudo’. Há um paradoxo entre a nossa política e a nossa base
social. A Dilma não foi eleita pela base com a qual está governando. Ela atende
os interesses dessa base com a qual está governando e não tem o apoio dela. Por
outro lado, ela contraria os interesses da base progressista, a qual nós temos
dificuldade de mobilizar para defendê-la. Esse paradoxo precisa ser
enfrentado.”
Esta é uma parte da matéria do Viomundo: clicar no
título abaixo para ler na íntegra:
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