(Foto: Carta Maior) |
Dilma optou por uma afirmação categórica para falar sobre o assunto: 'Não há espaço para aventuras antidemocráticas na América do Sul'.
Por Darío Pignotti, no portal Carta Maior, de 19/07/2015
BRASÍLIA, 18 de julho de 2105 (ANSA) – Na sexta-feira, enquanto a presidenta Dilma Rousseff anunciava aos seus colegas do Mercosul que condenava as tentativas de golpe de Estado pela via institucional – como tem ocorrido no continente nos últimos anos –, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, pertencente a grupos de direita, desengavetava um pedido de impeachment apresentado pelo militar aposentado Jair Bolsonaro, hoje deputado, o mais votado do Estado do Rio de Janeiro.
Desde janeiro, a instabilidade política brasileira cresce sem parar. Quando Dilma iniciou seu segundo mandato, setores da oposição prometeram que ela não chegaria a 2018 como presidenta, contrariando a norma institucional.
A ameaça de instabilidade tem no Congresso brasileiro um dos seus redutos, principalmente graças a Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados, que anunciou que passava a ser oficialmente um opositor e justificava a agressividade na guerra política aberta contra o Planalto, enquanto Dilma debatia com seus colegas do Mercosul, Cristina Fernández, Horacio Cartes, Tabaré Vázques e Nicolás Maduro.
O caldeirão político brasileiro se cruzou com a 48ª Cúpula do Mercosul, em Brasília, onde Dilma Rousseff concluiu sua presidência pro tempore e a cedeu ao governante paraguaio Horacio Cartes.
Se dias antes da reunião semestral os diplomatas brasileiros diziam aos correspondentes estrangeiros que o golpe institucional era um tema que poderia ser tratado, mas sem ser assunto de importância, o que os fatos demonstraram foi outra coisa: foi um assunto importante no debate dos mandatários. Os ventos de golpe contaminaram o encontro dos presidentes, realizado a 200 metros do Congresso, no Palácio do Itamaraty, sede da chancelaria brasileira.
No lugar de uma linguagem indireta para se referir ao tema, Dilma optou por uma afirmação categórica: “Não há espaço para aventuras antidemocráticas na América do Sul”, disse ela, recebendo gestos de aprovação de alguns de seus pares.
Logo ela, que foi presa política durante a ditadura brasileira, recordou que “somos uma região que sofreu muito com as ditaduras. Hoje, somos uma região onde a democracia floresce e madura, o ano passado, tivemos eleições gerais no Uruguai e no Brasil, e este ano haverá na Argentina, além das parlamentarias na Venezuela”.
Depois, a presidenta brasileira voltou falar dos anos do autoritarismo, ao lembrar do presidente João Goulart, o Jango, deposto pelo golpe de 31 de março de 1964 e morto durante o exílio, no dia 6 de dezembro de 1976, quando visitava uma fazenda na Argentina. Ele era vigiado por agentes de inteligência vinculados à Operação Condor, um trabalho de coordenação repressiva entre os governos ditatoriais.
Dilma elogiou bastante o presidente Goulart, e recordou o compromisso dele com a democracia e o bem-estar do povo, em evento onde ele foi declarado cidadão ilustre do Mercosul, um reconhecimento dado a grandes personalidades, como o escritor uruguaio Eduardo Galeano, que deixou de existir em abril deste ano.
Esses dois trechos do discurso da anfitriã da cúpula, pronunciados no Salão Portinari da Chancelaria, são indicativos de que a hipótese de uma quebra da ordem institucional não é tão descabelada. A comparação entre as escorregadas democráticas da atualidade e os regimes dos Anos 70 foi mais eloquente nos discursos de Cristina Fernández e Nicolás Maduro.
A mandatária argentina recordou que este ano se cumprem 40 anos da criação da Operação Condor e especulou com que “talvez se esteja engendrando, em algum lugar, um novo plano, que não tenha intervenção das Forças Armadas, que seja mais sutil”, prosseguiu Fernández de Kirchner. “Quem sabe se agora são abutres e não condores. São sempre aves de rapina, e por isso temos que fortalecer mais do que nunca a democracia”, pela qual expressou seu respaldo aos estados e povos que correm riscos de desestabilização.
Maduro também mencionou a Operação Condor e citou os países “imperialistas”, que continuam, segundo opinou ele, obstinados em causar problemas na América Latina.
O chefe de Estado venezuelano recebeu o apoio do Mercosul em sua reclamação contra os Estados Unidos, por um decreto assinado por Barack Obama que se caracterizou a Venezuela como uma ameaça a sua segurança.
O documento final, assinado pelos cinco governantes, afirma que “se reafirma aqui o compromisso com o princípio de não intervenção e o repúdio ao Decreto Executivo do Governo dos Estados Unidos, do dia 9 de maro de 2015”.
Tradução: Victor Farinelli
Desde janeiro, a instabilidade política brasileira cresce sem parar. Quando Dilma iniciou seu segundo mandato, setores da oposição prometeram que ela não chegaria a 2018 como presidenta, contrariando a norma institucional.
A ameaça de instabilidade tem no Congresso brasileiro um dos seus redutos, principalmente graças a Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados, que anunciou que passava a ser oficialmente um opositor e justificava a agressividade na guerra política aberta contra o Planalto, enquanto Dilma debatia com seus colegas do Mercosul, Cristina Fernández, Horacio Cartes, Tabaré Vázques e Nicolás Maduro.
O caldeirão político brasileiro se cruzou com a 48ª Cúpula do Mercosul, em Brasília, onde Dilma Rousseff concluiu sua presidência pro tempore e a cedeu ao governante paraguaio Horacio Cartes.
Se dias antes da reunião semestral os diplomatas brasileiros diziam aos correspondentes estrangeiros que o golpe institucional era um tema que poderia ser tratado, mas sem ser assunto de importância, o que os fatos demonstraram foi outra coisa: foi um assunto importante no debate dos mandatários. Os ventos de golpe contaminaram o encontro dos presidentes, realizado a 200 metros do Congresso, no Palácio do Itamaraty, sede da chancelaria brasileira.
No lugar de uma linguagem indireta para se referir ao tema, Dilma optou por uma afirmação categórica: “Não há espaço para aventuras antidemocráticas na América do Sul”, disse ela, recebendo gestos de aprovação de alguns de seus pares.
Logo ela, que foi presa política durante a ditadura brasileira, recordou que “somos uma região que sofreu muito com as ditaduras. Hoje, somos uma região onde a democracia floresce e madura, o ano passado, tivemos eleições gerais no Uruguai e no Brasil, e este ano haverá na Argentina, além das parlamentarias na Venezuela”.
Depois, a presidenta brasileira voltou falar dos anos do autoritarismo, ao lembrar do presidente João Goulart, o Jango, deposto pelo golpe de 31 de março de 1964 e morto durante o exílio, no dia 6 de dezembro de 1976, quando visitava uma fazenda na Argentina. Ele era vigiado por agentes de inteligência vinculados à Operação Condor, um trabalho de coordenação repressiva entre os governos ditatoriais.
Dilma elogiou bastante o presidente Goulart, e recordou o compromisso dele com a democracia e o bem-estar do povo, em evento onde ele foi declarado cidadão ilustre do Mercosul, um reconhecimento dado a grandes personalidades, como o escritor uruguaio Eduardo Galeano, que deixou de existir em abril deste ano.
Esses dois trechos do discurso da anfitriã da cúpula, pronunciados no Salão Portinari da Chancelaria, são indicativos de que a hipótese de uma quebra da ordem institucional não é tão descabelada. A comparação entre as escorregadas democráticas da atualidade e os regimes dos Anos 70 foi mais eloquente nos discursos de Cristina Fernández e Nicolás Maduro.
A mandatária argentina recordou que este ano se cumprem 40 anos da criação da Operação Condor e especulou com que “talvez se esteja engendrando, em algum lugar, um novo plano, que não tenha intervenção das Forças Armadas, que seja mais sutil”, prosseguiu Fernández de Kirchner. “Quem sabe se agora são abutres e não condores. São sempre aves de rapina, e por isso temos que fortalecer mais do que nunca a democracia”, pela qual expressou seu respaldo aos estados e povos que correm riscos de desestabilização.
Maduro também mencionou a Operação Condor e citou os países “imperialistas”, que continuam, segundo opinou ele, obstinados em causar problemas na América Latina.
O chefe de Estado venezuelano recebeu o apoio do Mercosul em sua reclamação contra os Estados Unidos, por um decreto assinado por Barack Obama que se caracterizou a Venezuela como uma ameaça a sua segurança.
O documento final, assinado pelos cinco governantes, afirma que “se reafirma aqui o compromisso com o princípio de não intervenção e o repúdio ao Decreto Executivo do Governo dos Estados Unidos, do dia 9 de maro de 2015”.
Tradução: Victor Farinelli
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