Kirchner, Lula e Chávez sepultaram o sonho imperial da ALCA em 2005: precisamos agora dum trio deste para enfrentar os avanços da direita (Foto: Internet) |
Ignacio Ramonet: no Brasil, as forças ligadas ao PT, Lula e
Dilma “não deram a importância necessária à criação dum sistema público de
comunicação e informação”.
Por Jadson
Oliveira (repórter/blogueiro) – editor do blog Evidentemente – publicado em 23/06/2015
Finalmente, alguém
ajeita a mira e atira no alvo certo: “Tenha coragem presidenta e acelere o
ocaso da mídia criando uma grande empresa pública de comunicação. Atropele sem
piedade os inimigos do Brasil e do povo brasileiro...” Li num artigo assinado
por Fábio de Oliveira Ribeiro no Jornal GGN/Luis Nassif Online, intitulado
‘Dilma e o PROER da mídia muito desejado pelos arquitetos do impeachment’.
Os governos na
América Latina que enxergaram a comunicação como um ponto estratégico e
souberam construir, assim ou assado, uma mídia contra-hegemônica – são os casos
da Argentina, Venezuela, Equador e Bolívia – estão agora em condições melhores
para resistir nesta dura fase da “restauração conservadora”, expressão muito
usada pelo presidente equatoriano Rafael Correa (fase em que a direita
latino-americana acordou, ainda meio aturdida, no meio dos destroços do
neoliberalismo e partiu para o contra-ataque).
Mesmo num país como
a Venezuela, alvo preferencial do império e seus mil e um tentáculos – os mais
visíveis são os monopólios da mídia hegemônica -, o governo e as forças
democráticas, populares e de esquerda resistem ao tremendo assédio. E não só
resistem. Resistem e buscam avançar rumo à construção do poder popular e do
socialismo.
Será por que
conseguem resistir diante da enfurecida campanha midiática, lá dentro do país e
fora? Com todos os problemas internos, que todos temos, mas que lá são
magnificados pelo cerco da mídia globalizada? Penso no povo chavista
mobilizado, penso na aliança com os militares bolivarianos, dois dados
fundamentais da realidade venezuelana.
E há um terceiro
dado, na minha opinião também fundamental: o forte arsenal montado por Hugo
Chávez e pelo movimento popular para travar a verdadeira batalha da
comunicação: emissoras de TV, de rádio, jornais diários, plataformas digitais,
agência de notícias e – deixei para o fim não pela pouca importância, mas para
enfatizar mais – as rádios e TVs comunitárias. Só esses três dados explicam
como a Revolução Bolivariana se mantém vigente, apesar dos ataques enfurecidos
da mídia hegemônica nacional e internacional, que prepara o clima para outras
arremetidas.
Não há batalha de comunicação no Brasil, há um
massacre diário
Contrastando com
isso, há no caso do Brasil um governo e um movimento popular desarmados no que
toca à mencionada batalha da comunicação, à verdadeira e não aquela de
mentirinha referida por nossa presidenta Dilma (porque, TAMBÉM, não se avançou
na democratização das concessões de rádio e TV).
A verdade nua e
crua, para nosso profundo pesar – estamos pagando muito caro por esta falha -,
é que não cuidamos deste aspecto, particularmente estratégico. O reconhecido
estudioso do tema Ignacio Ramonet, jornalista e professor, diretor da edição em
espanhol do Le Monde Diplomatique, já o notou. Eu o convoco para robustecer
minha opinião, que, por si só, reconheço, vale pouco.
Em recente entrevista em Quito ao jornal equatoriano El Telégrafo, ele
disse: “Os amigos do Partido dos Trabalhadores (PT), governante, Lula (Da Silva)
ou Dilma (Rousseff) não deram a importância necessária à criação dum sistema
público de comunicação e informação. Primeiro, porque nunca tiveram maiorias
claras, governaram com os parlamentos que negociavam, não tiveram as mãos
livres, e os empresários, que no Brasil dispõem de grupos importantes, como o
Grupo Globo, não lhes permitiram. De fato, não creio que tiveram a vontade, e
mesmo se a tivessem, não creio que lhes tivessem deixado desenvolver um grupo
público de meios de comunicação como se fez em outros países, como o Equador,
Venezuela e Argentina”.
E não cuidamos não porque faltasse coragem à nossa presidenta, como
sugere a recomendação do nosso articulista na abertura deste arrazoado. Ao
contrário, coragem é o que parece nunca ter faltado a Dilma. Mas se trata de
fenômeno histórico com outro nome e sobrenome: a conciliação, uma marca perene
da história política brasileira à qual o nosso maior líder popular, nosso Lula,
parece se ajustar muito bem (penso que talvez daí decorra seu êxito, para nossa
ventura e também desventura).
Tenho escrito
alguns artigos bradando pela construção duma mídia contra-hegemônica, séria,
honesta, jornalística, comprometida com os interesses nacionais e populares e
com os valores humanitários. Infelizmente, com nenhuma repercussão, dada a
pouca relevância deste meu blog. Confesso que ando meio desanimado diante do
avanço da intolerância e do ódio entre os brasileiros (“valores” - ou
desvalores – próprios da direita, do fascismo), desânimo que ataca principalmente
as pessoas que vivem ligadas nos noticiários e demais programas dos monopólios
da informação.
Mas a sugestão do
Fábio de Oliveira Ribeiro para que Dilma crie “uma grande empresa pública de
comunicação” até que me animou. Outro dado alvissareiro entre os blogueiros
progressistas foi a visita do companheiro Miguel do Rosário, de O Cafezinho, à
Venezuela (antes da viagem, ele já havia criado um Projeto Bolívar, o que é um
ótimo sinal).
Espero que Miguel
do Rosário, como um blogueiro combativo e influente que é, se alinhe entre os
defensores da construção no Brasil duma mídia contra-hegemônica, um tema raramente
mencionado entre nós.
Comentários