TROND ANDRESEN: “NENHUM JORNALISTA É COMPLETAMENTE LIVRE”

Professor norueguês Trond Andresen (Foto: El Telégrafo)
“Acredito que nenhum jornalista em nenhum país é completamente livre porque o editor é o ditador dos meios de comunicação e os donos são os ditadores dos editores. Os jornalistas mesmo que não lhes diga todos os dias o que devem fazer, têm barreiras invisíveis e se autocensuram. Isso é algo que ocorre em qualquer sociedade”.

Entrevista publicada pelo jornal equatoriano El Telégrafo (empresa pública do governo federal), edição digital de 01/03/2015

Trond Andresen é professor associado da Universidade Noruega de Ciência e Tecnologia (NTNU) e analisa a dinâmica e importância econômica - e psicológica - dos meios de comunicação e as redes sociais. Este engenheiro norueguês considera que a sociedade é um organismo muito complexo que necessita dum ‘sistema nervoso’ e dum ‘cérebro’ para sobreviver.

Os meios de comunicação constituem uma parte importante dessa estrutura e seu papel, dentro da coletividade, depende muito da atuação dos jornalistas.

Os monopólios midiáticos são denunciados pela maneira como apresentam a informação. Segundo sua análise, como operam estas multinacionais?

O característico dos meios de comunicação – e se pode comparar com a Microsoft ou uma empresa que produz aviões, carros, etc. - é que a economia dos monopólios é uma economia de grande escala. Por exemplo, é muito caro ter um jornal de baixa circulação, mas se tem um de alta circulação é muito rentável. O mesmo acontece com as emissoras comerciais de televisão e a audiência. Então, a economia de escala nos meios de comunicação é um problema porque não há espaço para uma competição justa. Se é um novo meio tem que disputar com os grandes que já estão estabelecidos e isso é muito difícil, ademais de que estes concentram toda a publicidade. Também há que lembrar que os meios, propriedade dos grupos capitalistas, usarão qualquer técnica para esmagar  qualquer competidor.

Dessa maneira sobrevivem?

Sim, assim podem conservar seu monopólio. No Equador existe uma lei que proíbe os bancos de possuir meios de comunicação, este é um passo na direção correta. No monopólio dizem que ‘o melhor sempre ganha’. Mas não é esta a teoria que se aprende nas escolas, mas sim que ‘o maior e o que mantém sua dominação’ ganha. Creio que o melhor caminho, se se quer uma competição justa no setor midiático, é criar um imposto progressivo por cada lucro extra que um meio tenha e usá-lo como um subsídio para as empresas pequenas. Claro que se algum grupo político propõe esta ideia, os monopólios midiáticos vão gritar. Esse é o problema quando se trata de mudar a política dos meios de comunicação numa sociedade porque eles usarão todo seu poder para tentar detê-lo.

O fato dos grandes grupos capitalistas serem donos dos  monopólios midiáticos só aprofunda o problema?

Digamos que temos um triângulo onde estão por um lado os partidos políticos e o governo; no outro temos os capitalistas, que têm um grande poder econômico e político; e, no outro ângulo está o público. Obviamente os monopólios não são independentes porque obedecem a seus donos, mas dizem sê-lo. Se o governo propõe leis para que os meios mostrem um pouco de respeito, os meios protestarão e dirão que o Poder Executivo está tratando de tirar-lhes a independência. A solução que proporia é que o governo não se mostre muito restritivo com os meios de comunicação e sim que existam normas que deem influência e poder ao público sobre os meios. Uma teoria que utilizei para minha análise é que todas as sociedades estão interconectadas, então se necessita um cérebro e um sistema nervoso para coordenar toda a sociedade. Os meios de comunicação são parte importante desse sistema porque informam o que acontece em qualquer parte do mundo e se baseiam em fatos significativos para que as pessoas se questionem e mudem. 

Por isso, a necessidade de que exista uma política para os meios. Não podemos deixar que o mercado domine tudo como se os meios de comunicação fossem a mesma coisa que produzir móveis ou carros. Os meios têm um papel importante na sociedade, é como quando você está no cinema e grita ‘fogo’, os meios devem ser responsáveis com o que dizem mas esse controle deve vir mais do público do que do governo.

No Equador temos a Lei de Comunicação que tenta a democratização dos meios de comunicação. Entretanto, a oposição alega que os cidadãos que reclamam seus direitos são usados pelo governo para ataca-los...

Eles podem dizer isso, porém é somente um jogo político. Esse não é um problema porque está claro que é a oposição que, aliada aos grandes oligarcas do país, utilizará todos os truques políticos para debater. Por outro lado, há que considerar que se a lei permite a qualquer cidadão demandar um jornalista ou veículo de comunicação, inclusive se é o presidente da República, aí se deveria reconsiderar o uso da lei, já que o jornalista estaria em desvantagem.

Qual é o seu ponto de vista como estrangeiro sobre a liberdade de expressão no país?

Acredito que nenhum jornalista em nenhum país é completamente livre porque o editor é o ditador dos meios de comunicação e os donos são os ditadores dos editores. Os jornalistas mesmo que não lhes diga todos os dias o que devem fazer, têm barreiras invisíveis e se autocensuram. Isso é algo que ocorre em qualquer sociedade. Na verdade acredito que o Equador atual é melhor do que o anterior, vocês vão na direção correta.

Continua em espanhol, com traduções pontuais:

Existen tres puntos específicos sobre los medios: el primero y el segundo que ya he explicado: incrementar la economía de escala, lo que explica el sistema monopólico y por qué es tan difícil acceder a ese sector. Además de que los medios son parte de un cerebro y de un sistema nervioso que coordina a todas las sociedades modernas y más complejas, por lo que se necesita una política de medios. Y la tercera es la autocrítica que los periodistas (jornalistas) deben practicar. 

Si se mira a los periodistas como un grupo, ellos son narcisistas y engreídos. Salen en la televisión, son columnistas, las estaciones de radio piden su opinión para ciertas cosas, entonces se crea una burbuja (então se cria uma borbulha) de su propia imagen e importancia. En el caso de una enfermera o un cirujano (ou um cirurgião), ellos no deben defender su trabajo porque él mismo habla por ellos, pero en el caso de los periodistas es subjetivo, por eso se preocupan mucho de lo que piense su colega y constantemente están pidiendo su aprobación u (ou) opinión. 

Considero que los periodistas deben desagradar continuamente  a otros periodistas y a su trabajo. Deben aceptar la crítica con humildad, autocriticarse y evaluarse (e avaliar-se) para que los medios funcionen bien en una sociedad. Los periodistas son los que controlan los medios y deciden qué discutirá la opinión pública, eso da mucho poder y el poder corrompe.

¿Cuáles son los riesgos de una sociedad cuando es oprimida por los monopolios mediáticos?

El riesgo (O risco) es que no dan atención a los temas de importancia. Los grupos capitalistas dueños de los monopolios mediáticos intentarán impulsar todo el tiempo su propia agenda y si su objetivo no es el bien de la sociedad causarán mucho daño.

¿Considera que Internet podría ayudar a prevenir esto?

Es muy difícil de admitir, pero uno de los elementos positivos de estos últimos años ha sido la red social del multimillonario Mark Zuckerberg, Facebook. Por ejemplo, tienes un problema con una compañía telefónica y llamas para quejarte (e telefona para se queixar) del mal servicio, primero esperas media hora hasta que te atienda una persona que realmente no puede ayudarte, pero si vas al Facebook de la compañía y escribes tus observaciones en su muro (em sua página), enseguida recibes una disculpa y promesas de que van a resolver tu problema en ese instante. Ya no es una conversación de dos personas (duas pessoas), en la red social pueden verlo miles de personas. Creo que es algo bueno y en el futuro veo más de esto; las redes sociales e internet son usados como instrumentos para sacar a la luz ciertas prácticas de las compañías.

¿Cuál es la importancia que un país tenga variedad de medios en lugar de monopolios?

Con otros amigos mantuvimos por 14 años una estación de radio idealista y de tendencia izquierdista; era algo popular pero pobre porque no conseguíamos publicidad. Aunque cumplíamos el requisito de tener bastante audiencia como otros medios, fuimos boicoteados completamente porque no les gustaba nuestra política y después de varios años tuvimos que dejar todo. Mientras más (Quanto mais) medios sean independientes de los grandes intereses económicos y del gobierno, mejor. En Estados Unidos la situación es terrible, si miras la historia los medios pequeños han desaparecido y la televisión comercial es un problema. En promedio (Em média, proporcionalmente), un país con mucha oligarquía, mucha diferencia social y con bajo nivel de educación tiene los peores medios de comunicación.

Actualmente en Ecuador se debate la posibilidad de incluir en la Constitución a la comunicación como un servicio público. ¿Qué opina al respecto?

Estoy de acuerdo, pero eso no debería significar que no existan medios privados. Deben existir ciertas normas si lo que quieren impulsar es la responsabilidad que deben tener los medios ante la comunidad. Aquella propuesta estaría acorde con mi teoría de que los medios son una parte del cerebro y del sistema nervioso de una sociedad.


Tradução (parcial): Jadson Oliveira

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