(Foto: Roberto Stuckert Filho) |
As elites
política e midiática buscam restaurar o ciclo neoliberal no Brasil, e para isso
necessitam acabar com os programas sociais, o nacionalismo petroleiro (pivô da
crise atual) e a diplomacia independente de Washington e voltada às relações
com a América Latina.
Darío Pignotti entrevista a presidenta Dilma Rousseff, que fala sobre
sua visita ao México, as relações da Petrobras com a petroleira mexicana, sobre
a ALCA e a política de integração da América Latina, a aproximação dos EUA com
Cuba, a espionagem dos EUA no Brasil e a resistência à tortura e às pressões da
onda direitista.
Do portal Carta Maior, de 25/05/2015
Brasília - Depois de receber o primeiro-ministro chinês, com quem fechou o
acordo para a construção de uma ferrovia interoceânica, obra crucial para o
eixo Brasília-Pequim e vista com receio por Washington, a presidenta brasileira
Dilma Rousseff inicia, nesta terça, sua primeira visita de Estado ao México,
onde terá numerosos encontros oficiais, além de uma agenda cultural onde
pretende ver os murais de Diego Rivera e “averiguar se há alguma mostra com
obras de Remedios Varo”.
Dilma conhece artes plásticas, desde que assumiu a presidência, em 2011,
organizou, mostras da pintora modernista brasileira Tarsila de Amaral e do
renascentista italiano Michelangelo Caravaggio.
Durante a entrevista com La Jornada, ela comentou com detalhes duas
obras de artista modernista brasileiro Di Cavalcanti que ornamentam o Palácio
da Alvorada.
Além da pintura, a defesa da soberania petroleira é outro tema que
apaixona esta mulher sem meias palavras, que recém estreia seu segundo mandato,
para o qual foi eleita em outubro do ano passado.
Se trata do quarto governo consecutivo do PT (Partido dos
Trabalhadores), os dois primeiros (entre 2003 e 2011) a cargo do legendário
Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma e Lula se reuniram na tarde de sexta-feira, em Brasília,
certamente para abordar a conjuntura política agitada, devido às intrigas
desestabilizadoras orquestradas pelo PSDB (Partido da Social Democracia
Brasileira) e a Rede Globo, principal grupo midiático do Brasil, hegemonia
conquistada graças aos favores prestados à ditadura militar (1964-1985), que
encarcerou e torturou aquela que hoje é a presidenta do país.
As elites política e midiática buscam restaurar o ciclo neoliberal no
Brasil, e para isso necessitam acabar com os programas sociais, o nacionalismo
petroleiro (pivô da crise atual) e a diplomacia independente de Washington e
voltada às relações com a América Latina.
– A viagem ao México consolida a opção brasileira em favor da
relação com a América Latina?
DILMA ROUSSEFF: Uma das coisas que me impactou muito no México, em 1982,
quando fiz minha primeira viagem ao país, foi ver uma reprodução da cidade
indígena anterior à conquista espanhola, na que havia um sistema de
abastecimento de água que naquele momento não havia na Europa.
Na época daquela viagem, o Brasil era um país que vivia de costas para a
América Latina, olhava somente para os Estados Unidos e a Europa, e isso se
traduzia em sua política externa. Não digo que não devemos nos relacionar com
os estadunidenses e os europeus, mas nós sustentamos agora uma política externa
que mudou nestes últimos doze anos, com relação a esse modelo anterior.
Entre outras coisas, há um compromisso com a América Latina, com a qual
também temos uma identidade cultural.
Por certo, também estamos voltados à África, porque esse continente tem
muita importância na formação étnica e da nação brasileira (milhões de
africanos chegaram como escravos durante a colonização portuguesa).
Agora, eu acredito que este é o momento histórico para estreitar as
relações entre a América do Sul e o México, uma das nações mais ricas cultural
e economicamente, e a grande nação latino-americana do hemisfério norte.
É uma relação que interessa ao Brasil, porque temos a consciência da
importância que o México para a unidade latino-americana. Unidade que deve se
construída respeitando as diferenças existentes entre os países.
NÃO À ALCA
A partir da Cúpula das Américas de 2005, em Mar del Plata, ficou mais
nítido o distanciamento entre o México e parte da América do Sul devido ao
apoio dado por Vicente Fox à ALCA, projeto rejeitado pelo trio formado por Hugo
Chávez, Néstor Kirchner e Lula.
– Sua viagem é um reencontro entre Brasil e México?
Link aquipara ler mais na Carta Maior (certamente por lapso, a matéria tem como título ‘Dilma:
Risco de mudar regime de partilha - do pré-sal - é de menos mil”’, afirmação que não consta na
entrevista)
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