ARGENTINA: BOCA JUNIORS, MÁFIAS E A CANDIDATURA DE MACRI, O FAVORITO DA DIREITA – POR DARÍO PIGNOTTI

Macri, prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do Boca Juniors (Foto: Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires/Flickr)
Para o ex-presidente do Boca, a desclassificação não foi só um fracasso esportivo. Foi um balde de água fria sobre suas ambições de ser presidente do país.

Por Darío Pignotti, no portal Carta Maior, de 19/05/2015

O líquido tóxico jogado contra os jogadores do River Plate que entravam para jogar o segundo tempo no estádio La Bombonera, em jogo da Copa Libertadores, se transformou num escândalo de conotações políticas que salpica Mauricio Macri, homem forte do Boca Juniors e candidato presidencial mais importante da direita, além de arqui-inimigo da presidenta Cristina Fernández de Kirchner.

Descendente de italianos, assim como o seu amigo José Serra, Macri é conhecido por comentaristas amigos como “o Silvio Berlusconi argentino”, entre outras coisas, porque o ex-premiê italiano mesclava sua atividade política com a de presidente do Milan – e que às vezes deixava a direção do clube nas mãos de homens de sua confiança, assim como Macri.

Nesta quinta-feira (14/5), um grupo de torcedores do Boca jogou um líquido tóxico contra jogadores do River, seu maior rival, com quem decidia a classificação numa chave das oitavas de final da Copa Libertadores. Os jogadores rivais voltavam do intervalo quando foram surpreendidos pelo ataque. A partida se disputava no estádio La Bombonera, o mítico e temido caldeirão localizado num dos bairros mais populares da zona sul de Buenos Aires.

Versões publicadas nesta segunda pela imprensa argentina afirmam que o composto atirado pelos torcedores, que num princípio pensavam que se trataria de gás pimenta, era na verdade um líquido muito mais agressivo, pois se trataria de um produto elaborado a partir de um tipo de ácido e pimenta chili, que pode causar sérias lesões na pele.

A partida foi suspensa. O incidente foi considerado um vexame gigantesco por toda a imprensa argentina. Em decisão anunciada no sábado (16/5), a Conmebol (Confederação Sul-americana de Futebol) confirmou a eliminação do Boca Juniors da competição, a aplicação de uma multa de 200 mil dólares e a suspensão do estádio La Bombonera por quatro jogos internacionais.

Para Macri, esta foi mais que uma péssima notícia esportiva. Também foi um balde de água fria sobre suas ambições eleitorais.

O empresário e prefeito de Buenos Aires confiava no simbolismo de conquistar a Copa Libertadores poucos meses antes das eleições de outubro (a final do torneio está marcada para agosto), nas que será eleito o sucesso da presidenta Cristina Fernández de Kirchner.

Considerado o homem preferido da imprensa conservadora e da Embaixada dos Estados Unidos, Macri possivelmente sentiu um frio na espinha quando viu que as imagens da agressão contra os jogadores do River davam a volta ao mundo.

Horas depois do ataque químico dos torcedores do Boca contra os jogadores do River – alguns deles, os mais atingidos, tiveram que ser hospitalizados – Macri começou a usar seu poder dentro do obscuro mundo do futebol para impedir que o clube recebesse um castigo severo.

A defesa do Boca Juniors ainda tentará apelar da decisão da Conmebol – sua proposta é a de jogar o segundo tempo daquela partida em estádio neutro e sem torcida –, mas a instituição já anunciou a próxima rodada de quartas de final, onde o classificado River Plate enfrentará o Cruzeiro de Belo Horizonte, atual campeão brasileiro.

Segundo publicaram alguns meios argentinos, o líder conservador ligou diretamente para o presidente da Conmebol, Juan Angel Napout para atenuar a sanção contra o Boca. Paralelamente, enviou a Assunção (cidade onde fica a sede da Conmebol), seu afilhado político, Daniel Angelici, atual presidente do Boca.

Angelici é o presidente, mas Macri é quem realmente tem o poder no Boca.


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