Jornalista e acadêmico Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol (Foto: Marco Salgado/El Telégrafo) |
“Até agora o que
caracterizava o cidadão era sua passividade frente aos meios de comunicação. Sua
única função era receber, salvo algumas variações nas rádios onde se pode
telefonar e dar sua opinião, mas os meios centrais tinham uma posição que eu chamo
de sol. Eram sois, o sol só tem planetas que giram ao seu redor e envia seus raios
e o que podemos fazer é sofrer os raios do sol. Hoje não há sol, desapareceram
os sois e o que há são sois reduzidos ao formato dum grãozinho de pó. Cada um
somos grãozinhos de pó”.
Esta é a quinta e última parte da rica entrevista do jornalista e acadêmico
Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde
Diplomatique em espanhol, ativista e estudioso do papel político exercido
pelos meios de comunicação. A entrevista, feita numa recente visita de Ramonet
ao Equador, foi matéria de capa do El
Telégrafo, edição impressa de 23/03/2015, com a manchete: ‘Ramonet: Meios
de comunicação substituem as forças conservadoras’. Este blog Evidentemente criou esta divisão e publicou
a primeira parte em 24/março, a segunda em 29/março, a terceira em 07/abril e a
quarta em 15/abril.
Por Orlando Pérez e María Elena Vaca, do jornal equatoriano El Telégrafo (empresa pública), edição de 23/03/2015 (o título e o
destaque acima são deste blog)
Continuação (parte final):
Nesta crise que você menciona, da imprensa escrita frente à tecnologia,
se pode falar de comunicação ao dar uma informação em 140 caracteres como
permitem as redes sociais como Twitter e Facebook? É isto comunicação ou mera
informação?
Não, é comunicação. Não sei se seja informação, essa atividade de
“mosquito” perturba o funcionamento da informação porque agora no Twitter se pode
enviar de tudo, podem ser enviados fotos e vídeo. Twitter já não é os 140
caracteres, Twitter mesmo evoluiu porque a tendência geral hoje das redes
sociais é de abandonar os caracteres da escrita para ir à imagem. Há uma
mudança da esfera Gutemberg para a esfera icônica, imagem. Evidentemente não
estamos aqui falando de qualidade, e sim simplesmente de massividade da informação,
que cria vários problemas.
Que tão bom é que o cidadão tenha o controle desses meios?
O cidadão tem a ilusão de que tem o controle desses meios. O que o cidadão
sabe hoje, cada vez mais, é utilizar esses dispositivos. Primeiro porque são
fáceis de utilizar, segundo porque são relativamente baratos e terceiro porque
esses dispositivos permitem ter uma centralidade que até agora o cidadão não
tinha. Até agora o que caracterizava o cidadão era sua passividade frente aos
meios de comunicação. Sua única função era receber, salvo algumas variações nas
rádios onde se pode telefonar e dar sua opinião, mas os meios centrais tinham uma
posição que eu chamo de sol. Eram sois, o sol só tem planetas que giram ao seu redor
e envia seus raios e o que podemos fazer é sofrer os raios do sol. Hoje não há
sol, desapareceram os sois e o que há são sois reduzidos ao formato dum grãozinho
de pó. Cada um somos grãozinhos de pó. Mas se tomamos outra metáfora e dizemos
que somos uma abelha ou uma vespa, então, cada vespa pode construir num momento
determinado um enxame que pode atuar unido, que é o que aconteceu com o que chamamos
as revoluções das cores, a pirâmide árabe, os indignados, etc. Essa pequena possibilidade
de comunicar com meus 40, 60, 200 amigos, ao mesmo tempo, todos aqueles que têm
200 amigos, transmitem uma informação que, imediatamente, de maneira viral,
comunica a dezenas de milhões de pessoas, isso põe em marcha um efeito cascata,
que pode inclusive ter o efeito de derrubar uma ditadura como ocorreu na
Tunísia. Mas também pode ter a debilidade ou a fraqueza de ser penetrado por um
vírus, que lhe faz realizar ações a serviço duma inteligência que está
manipulando esse grupo, como se faz na Venezuela.
Os meios tradicionais devem dar a volta e mirar estas novas plataformas?
Hoje, um meio deve ter diferentes plataformas. Deve ter sua
plataforma on-line porque um jornal por definição sai uma vez no
dia, em 24 horas acontecem muitas coisas. Hoje o ritmo normal da informação já
não é 24 horas, hoje o ritmo normal da informação é a instantaneidade, por muitos
defeitos que tenha a instantaneidade e por mais críticas, que por exemplo eu gerei
para a instantaneidade. O jornalista é o analista de um período, mas hoje o
período é o instante. Hoje há instantaneistas e se não há instantaneistas há
que ter pelo menos uma pessoa que siga no instante a informação e que complete o
jornal que é mais de análise, que tem um ritmo mais lento por definição. Ademais,
há que ter suas próprias redes sociais (Twitter, Facebook) e por que não
plataformas audiovisuais. A característica tecnológica permite que um meio seja
todos os meios. Hoje os meios devem ser multimídia. Já não há distinção
tecnológica entre o escrito, som e imagem. Não há distinção, com a mesma
tecnologia você pode difundir texto, imagem e som.
Tradução: Jadson
Oliveira
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