Jornalista e acadêmico Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol (Foto: Marco Salgado/El Telégrafo) |
As redes não impõem
uma versão dominante, ainda não são o meio de comunicação dominante. São o
perturbador dominante, mas não são o meio dominante. No momento, os meios
dominantes continuam sendo os meios tradicionais. O problema dos meios
tradicionais é que economicamente não são viáveis.
Os blogs ou a informação
das redes podem ser muito bons ou muito ruins, mas isso faz parte da vida.
As redes funcionam hoje
como um grande corretor. Se um meio de comunicação diz uma enorme mentira, as
redes o vão corrigir e vão difundir o erro. As redes fizeram as principais
revelações deste tempo: WikiLeaks e Edward Snowden.
Esta é a terceira parte (divisão feita por este blog) da rica entrevista
do jornalista e acadêmico Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol, ativista e estudioso do papel
político exercido pelos meios de comunicação. Esta parte está concentrada no
papel das redes sociais. A entrevista, feita numa recente visita de Ramonet ao
Equador, foi matéria de capa do El
Telégrafo, edição impressa de 23/03/2015, com a manchete: ‘Ramonet: Meios
de comunicação substituem as forças conservadoras’. Este blog Evidentemente publicou a primeira parte
em 24/03/2015 e a segunda em 29/03/2015.
Por Orlando Pérez e María Elena Vaca, do jornal equatoriano El Telégrafo (empresa pública), edição de 23/03/2015 (o título principal
é da edição digital do jornal e os destaques acima são deste blog)
Continuação:
De que maneira a viralidade da informação não contrastada dessas redes
afeta a democracia? O que pode fazer o
cidadão?
Estar bem informado sempre é muito difícil; se antes não foi fácil, pior
vai ser agora; então o problema não mudou. O que as redes acrescentam agora é mais
confusão e mais ruído. As redes não impõem uma versão dominante, ainda não são o
meio de comunicação dominante. São o perturbador dominante, mas não são o meio
dominante. No momento, os meios dominantes continuam sendo os meios tradicionais.
O problema dos meios tradicionais é que economicamente não são viáveis, têm os
pés sobre uns cimentos frágeis, mas continuam sendo dominantes.
Na geração da opinião pública...
Claro, continuam gerando a matriz dominante.
Quão melhor
estamos comunicados agora com a proliferação de meios, fontes, redes, etc.?
A característica da informação é que sempre é má informação, sempre
estar bem informado é um trabalho. Você não pode exigir de maneira passiva que
vai receber boa informação. Isso é praticamente impossível. Eu digo num de meus
livros: “Informar-se cansa”, é um trabalho e, se o tomamos como tal, podemos nos
informar, do contrário, não vamos nos informar bem. A informação se tornou muito
complexa e, por conseguinte, as críticas que se desenvolvem obrigam o sistema midiático
a se corrigir ou a adotar uma posição dogmática afirmada. Por exemplo, hoje se
desenvolvem muito os meios partidários que
admitiram que não são objetivos, como a cadeia Fox, nos Estados Unidos,
que é um canal ultrarreacionário, ultraconservador, que assim se assume e as
pessoas o veem porque assim se reconhecem.
Muitos acadêmicos falam da telelixo, é factível falar hoje de redes lixo?
Como se pode recuperar a qualidade da informação nessas redes lixo?
Há telelixo e teleexcelente.
Então agora há redes lixo e redes excelentes...?
Assim é. Se eu tenho uma página de Facebook, posso dizer que não é lixo,
evidentemente, mas há bastante gente que tem redes sociais ou blogs. Hoje em dia há blogs duma imensa qualidade. Recordo quando ocorreu
o de Fukushima; ninguém sabia o que era e houve uma cobertura midiática que
ignorava o que era Fukushima e não sabia o que era uma central nuclear. Então os
meios de comunicação começaram a dizer que não havia perigo, que se podia continuar
consumindo os legumes, mas vários professores de assuntos nucleares, em seus
blogs, demonstraram cientificamente o que acontecia. E isso, reproduzido por
alguns jornalistas que se deram o trabalho de lê-los, teve uma influência muito
interessante. Os blogs ou a informação das redes podem ser muito bons ou muito ruins,
mas isso faz parte da vida.
Mas não põem em risco a qualidade da informação?
Não, a melhoram, porque hoje em dia, por exemplo, as redes funcionam
como um grande corretor. Se um meio diz uma enorme mentira, as redes o vão corrigir
e vão difundir o erro. As redes fizeram
as principais revelações deste tempo. Não são os jornais, não são os meios de
comunicação que fizeram as duas grandes revelações dos últimos cinco anos, são
WikiLeaks e Edward Snowden, de como o superpoder imperial estadunidense ocultava
informação sobre os atropelos cometidos no Afeganistão ou no Iraque. Isso não o
houvéramos sabido pelos meios, o soubemos pelas redes, por WikiLeaks. Tampouco
sabíamos que a NSA estava nos vigiando; e não tanto a nós, que não temos importância,
e sim que estava vigiando nossos presidentes, nossas Forças Armadas, nossos
serviços de inteligência e as empresas de ponta; e isso o soubemos graças a
WikiLeaks e Snowden. Hoje, as redes são o complemento indispensável e, em si, um
meio de informação. (Continua)
Tradução: Jadson Oliveira
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