OSVALDO BAYER: A DEMOCRACIA DO DINHEIRO

(Foto: Corbis/Página/12)
Deve começar já a grande discussão sobre o que é democracia. Não pode ser que se chame democrático um país onde há pessoas que ganham milhões e outras que têm apenas para comer, se o têm.

Por Osvaldo Bayer (da Alemanha) – no jornal argentino Página/12, edição impressa de ontem, dia 28

A democracia do dinheiro. Um tema para discutir já. Na Alemanha, todos os anos se reinicia esta discussão. Os jornais acabam de publicar a grande notícia: “Os diretores de empresas alemãs ganham mais do que nunca”, e se publica a lista. É para não acreditar numa democracia. O que ganha mais é o diretor geral da empresa automobilística Volkswagen, Martin Winterkorn, que em 2014 obteve 15,9 milhões de euros. Algo incrível, 6% mais do que percebeu em 2013. O segundo a cobrar mais é Dieter Zetschke, presidente da Daimler-Mercedes Benz, com 14,4 milhões de euros anuais, 5% mais que no ano anterior. Em terceiro lugar, nada menos que o diretor do Correio alemão, Frank Appel, com 9,6 milhões de euros, 22% mais que em 2013; em seguida Ulf Schneider, da empresa Fresenius, com um ganho anual de 9,2 milhões de euros, 70% mais que em 2013; depois Kurt Bock, da BASF, 7,8 milhões, 54% mais que em 2013; vem a seguir Kasper Rorsted, da Henkel, com 7,7 milhões; Joe Kaeser, da Siemens, com 6,7 milhões; Martin Dekkerss, da Bayer, com 6,7 milhões; Elmar Degenhardt, da Continental, e Anshu Jain, do Deutsche Bank, ambos com 6,2 milhões anuais cada um.
Incrível. Uma sociedade que se diz democrática, onde os aposentados e desocupados vivem com 500 euros mensais. Enquanto sob o mesmo céu há gente que ganha milhões. É democracia isto? Sim, a Alemanha é considerada o país mais democrático da Europa. É como para ir ao espelho de casa e arrancar a própria língua. Aqui a ironia chega já a seus limites: a Grécia, com o novo governo de esquerda, manifestou ante a Europa sua impossibilidade de pagar suas dívidas ao Mercado Comum Europeu. O ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, lhe respondeu que reduza os soldos dos aposentados. É incrível, sim, é que os aposentados gregos têm fama de serem os que estão em melhor situação na Europa. Porém, que sentido tem que uma sociedade democrática tire de seus aposentados para pagar dívidas externas? Democrático, o ministro.
Deve começar já a grande discussão sobre o que é democracia. Não pode ser que se chame democrático um país onde há pessoas que ganham milhões e outras que têm apenas para comer, se o têm. Democracia, antes de tudo, deve significar Liberdade em Igualdade. O repetimos sempre, cabe uma vez mais nosso Hino Nacional de 1813: “Ved en trono a la noble Igualdad. ¡Libertad, Libertad, Libertad!”. É como para se cantar na cara destes executivos alemães. Não é democrático um regime onde alguns ganham milhões e outros – e não são poucos – recebam apenas moedas. Falo da Alemanha, mas nos Estados Unidos as diferenças são piores. O que ganham os executivos das empresas é o triplo ou mais do que ganham os executivos alemães.
Continuar em espanhol (com traduções pontuais):
Las empresas tienen un argumento cuando se les reprochan esos altos pagos (pagamentos): “Si no se les paga eso los managers se van a Estados Unidos donde los atraen con mejores sueldos”. Sí, los ejecutivos norteamericanos, como decimos, ganan dos o (duas ou) tres veces más que lo que reciben los alemanes en su país. Quiere decir que el “mal de la democracia”, con las diferencias sociales tan grandes, viene de ese ejemplo de llamada democracia. En 2014, el ejecutivo que en Estados Unidos ganó más dinero fue Robert Iger, del consorcio Walt Disney, que obtuvo unos 32,1 millones en euros, para comparar con el ejecutivo alemán de más ganancias (lucros, ganhos): 15,9 millones de euros.
Además, a los ejecutivos se les pone a disposición autos con choferes y se les pagan todos los gastos de comunicación.
Son todas fórmulas económicas inspiradas en el ejemplo de Estados Unidos, que siguen imponiéndose con su forma de actuar en el mundo entero.
Todo pertenece al reino de la hipocresía. El que es rico “por algo será”, es el principio ético que vale. No se estudia, por ejemplo, cómo el poder somete (submete) y cómo las posibilidades de llegar a los sueldos vienen a ser el único fin moral de la sociedad.
Por supuesto (Por certo), esa forma de cambiar (mudar) la Etica por la “capacidad de producción” o (ou) la capacidad de ganar más es el fondo de la ideología capitalista. Que – y esto lo repetimos una vez más – se basa (baseia) en la democracia del voto. Y del ciudadano que cree que ya con poner el papel en la urna es un democrático. La realidad de nuestra democracia es que hay partidos políticos que tienen millones y otros que dependen apenas del bolsillo del obrero (do bolso do operário).
Alguna vez el pueblo argentino saldrá a la calle (sairá às ruas) cantando ese increíble “Ved en trono a la noble Igualdad. ¡Libertad, Libertad, Libertad!” y hará (e fará) valer esos principios tan soñados por aquellos hombres de Mayo como Moreno, Belgrano y Castelli (homens que lutaram pela independencia argentina).
Reconhecimento do holocausto armênio
Hay un ejemplo en el mundo: el pueblo armenio que – desde que los turcos cometieron ese horrible crimen del genocidio armenio con más de un millón y medio de víctimas – no dejó nunca en todo el mundo de reclamar justicia. Y eso ha tenido su eco. Nadie (Ninguém) ya puede negar ese crimen tan cobarde y absurdo. Por ejemplo, la Iglesia Católica Argentina, por primera vez en su historia, dio una misa en la Catedral por las víctimas armenias en aquel holocausto. La misa fue ofrecida por el cardenal Marco Aurelio Poli. Y estaba presente el arzobispo de la Iglesia Apostólica Armenia para Argentina y Chile, monseñor Mouradian. Por su parte, el papa Francisco anunció que oficiará una misa en la Basílica de San Pedro por las víctimas armenias, el 12 de abril próximo. Y para el 24 de abril próximo, a las 19:15, se organizó un acto religioso en “reconocimiento de los mártires del genocidio armenio” en el convento de Santa Anna Kloster, Munich, donde actuará el coro de mujeres de Geghard, Armenia.
La movilización constante de todo un pueblo a lo largo de un siglo ha tenido ese reconocimiento. Sólo así, con la gente en la calle (nas ruas), lograremos un mundo sin miserias, sin niños con hambre y en Libertad (sem crianças com fome e em Liberdade).

Tradução (parcial): Jadson Oliveira

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