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Por Igor Felippe - no blog Escrevinhador (Postal Fórum), de 16/03/2015
Mais de 500 mil pessoas saíram às ruas contra o governo Dilma em todo o
país. A velha mídia diz que foram 2 milhões, com base em números evidentemente
inflados pela Polícia Militar de diversos estados. Independente do número, a
direita demonstrou uma capacidade mobilização que criou uma apreensão
generalizada nos setores progressistas.
Esse processo de mobilização dos segmentos conservadores para esses
protestos não começou ontem, mas tem raízes profundas lá em 2005. De lá pra cá,
o PT ganhou três eleições presidenciais, mas quais instrumentos políticos
construiu ou fortaleceu para enfrentar uma avalanche conservadora?
A ação política da direita incrustada no Poder Judiciário, na Polícia
Federal, no Congresso e nos grandes meios de comunicação entrou em forte
sintonia nesse período, colocando suas artilharias contra o governo.
A impressão que dá é que o comando do PT pensava que passaria
desapercebido fazendo uma política de inclusão social, criação de emprego e
valorização do salário mínimo, mantendo a lucratividade dos grandes empresários
e sem aumentar a intensidade da luta política… Santa ingenuidade!
Uma leitura que tem ganhado força entre os blogueiros progressistas e
nas universidades de comunicação, que repercute em setores críticos do PT, é
que o problema central do governo é a dificuldade de comunicar com a sociedade.
A comunicação é parte do problema, decerto, mas não é a questão de
fundo. Uma ação específica de comunicação corresponde a uma determinada
estratégia política de uma organização ou campo político. A ausência de uma
ação de comunicação é um sintoma, talvez o mais visível, do fracasso ou da
falta de estratégia política do PT no governo. Aí que mora o problema.
Qual o projeto político estratégico do PT no governo federal? Como
enfrentar os novos obstáculos que surgiram pela frente? Como encarar a forte
reação dos setores de oposição ao governo depois de 13 anos?
Essas perguntas precisam ser respondidas para se compreender os limites
do governo na área da comunicação. Um projeto político que não tem claro onde
quer chegar não consegue desenvolver uma interlocução com a população.
O governo de composição de frações de classes liderado pelo PT teve como
características a busca permanente de conciliação dos interesses divergentes,
da despolitização da sociedade e da neutralização das organizações de esquerda.
O tipo de jornalismo insosso e inodoro desenvolvido nos instrumentos do
governo federal, como a TV Brasil e a Agência Brasil, corresponde a essa tática
de pacificar a luta de classes. Acredito que, se a Rede Globo passasse amanhã
para as mãos do governo, os seus dirigentes não saberiam como usar essa
artilharia da comunicação…
Só haverá um enfrentamento na área da comunicação se a estratégia passar
do amortecimento das contradições para o acirramento da luta política, casando
uma ação de governo para fortalecer a mobilização da sociedade e uma disputa
ideológica com as forças neoliberais, que dirigem a oposição à presidenta
Dilma.
O PT fugiu como o diabo da cruz dessa tática e apostou que poderia levar
pra sempre em banho-maria, subindo o tom apenas nas eleições. No entanto, a
água ferveu e não há outra saída diante da tática da direita, que é justamente
acirrar a luta e fazer a batalha das ideias. Com suporte da mídia, milhares de
pessoas foram às ruas manifestar sua insatisfação contra o governo nesse
domingo.
As forças progressistas do movimento sindical, social e estudantil
demonstraram que, independente da iniciativa governo, têm capacidade de
mobilizar e fazer grandes protestos, com uma pauta avançada em defesa dos
direitos, da soberania nacional e das reformas estruturais.
Somente será possível vencer essa luta se o governo cumprir o seu papel,
assumindo uma tática de enfrentamento dos setores conservadores e lançando um
programa de reformas estruturais.
Assim, estimulará a mobilização dos movimentos populares, ampliando a
intervenção na sociedade e catalisando o sentimento difuso de insatisfação com
o estado das coisas. Daí, sim, será possível colocar em curso uma estratégia de
comunicação que corresponda ao novo momento político.
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