(Foto: Internet) |
Aqui no Brasil precisamos
urgentemente buscar um amor que nos corresponda
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) –
editor do blog Evidentemente – publicado em 17/03/2015
Lucilla,
querida, vai esta carta como desabafo: eu às vezes tenho a sensação de que a Dilma, quando se senta todas as
manhãs com seu “núcleo duro” (êta expressão mais feia!), inclusive o seu 40º.
ministro, o marqueteiro João Santana, para avaliar as pauladas recebidas
diariamente da mídia hegemônica, deve sentir, contraditoriamente, um misto de
raiva e de pena dos blogueiros ditos progressistas (ou “sujos”) e também dos
militantes pró-governo.
Deve
pensar: “Esses caras são uns abestalhados, não entendem nada da realidade
política, mas são de uma dedicação à toda prova, uma dedicação comovedora!”
É
provável que a Dilma se lembre daquele sucesso do tempo da antiga “jovem guarda”,
do tempo da nossa juventude, quer dizer, da minha e da de Dilma: “eu não
presto, mas eu te amo, eu não presto, mas eu te amo...”
Pois
é, Lucilla, senti isso, com raiva, naquela noite em que foi anunciada a vitória
apertada de Dilma: o que ainda resta da militância petista, que teima contra todas
as probabilidades possíveis em se manter militância, aplaudindo e gritando: “O
povo não é bobo, abaixo a Rede Glogo” – e sendo, impiedosamente, ignorada pela
Dilma.
Vá
lá que só resta um pouco – nosso Frei Betto outro dia mesmo replicou sarcástico: “Que militância?”
Mas ela existe ainda, incrivelmente! Logo em seguida, a Dilma nomeou um cara do
Bradesco, o Levy, para ressuscitar o fantasma da austeridade neoliberal, que
até na velha e carcomida Europa começa a desmoronar.
Aí,
juro que pensei Lucilla, fodeu, não tem mais resto de militância que resista.
Mas, que nada! Só pode ser masoquismo!, “eu não presto, mas eu te amo, eu não
presto, mas eu te amo”.
Veja aí, Lucilla, esta preciosidade; SÃO OS MESMOS. Achei no Tijolaço, do Fernando Brito, com o artigo: 'O jornal de hoje embrulha o estômago do amanhã' (Clicar para ler) |
Pois
não é que, após tantas cenas explícitas de amor não correspondido, a militância
reapareceu, milagrosamente, nas ruas do Brasil, na sexta-feira, 13, para dizer
NÃO ao golpe, ditadura de novo NÃO, jovens deste nosso Brasil vilipendiado pela
GLOBO entreguista, ditadura outra vez não, PELO AMOR DE DEUS, é preciso salvar
a Petrobras, símbolo do pouco que resta de soberania nacional. Você viu as
fotos da Avenida Paulista?
Lucilla,
não sei até quando esse amor desesperado vai perdurar. (Aliás, essa coisa vem
de há muito, desde o início do primeiro governo “petista”, quando o Lula botou
um banqueiro – também um banqueiro – pra dirigir o nosso Banco Central, uma
raposa no galinheiro).
E
o governo do PT/Dilma/Lula bem que vai precisar desse amor, agora mais do que
nunca, depois da avalanche de gente logo em seguida, no domingo, 15, na mesma Avenida
Paulista, tocados como gado pela Globo, sempre ela, esculhambando Dilma, Lula e
tudo que tenha algum resquício de povo. Pediram até a volta da ditadura, veja
só, perderam completamente a vergonha.
Engraçado
que eles usam o álibi – do mesmo jeito do tempo de Getúlio e de Jango – da luta
contra a corrupção, quando de fato quem sempre lutou contra a corrupção foi o
movimento popular e de esquerda. Mas o engraçado não é exatamente isso, o
engraçado é que o governo parece levar a sério, como se essa gente algum dia
tivesse se importado com corrupção.
Tem
até o caso exemplar da madame que grita contra a corrupção “dos políticos”,
flagrada com conta no HSBC da Suíça. Ah! o estrago que faz nossos guerrilheiros
da blogosfera “suja” e nossos militantes das redes sociais...
E
são estes os desprezados pela amada Dilma, lá distante no seu palácio rodeada
do tal “núcleo duro”, que tenta se enganar e nos enganar falando duma suposta “batalha da
comunicação”. Qual batalha, dona Dilma? Batalha pressupõe armas dos dois lados,
armas da guerra de quarta geração, ou seja, emissoras de TV e rádio, jornais,
revistas, plataformas da web, veículos comunitários, populares, sindicais,
alternativos.
Essa
batalha não existe. Existe, sim, um massacre diário, liderado pelo grande
monopólio, a Globo, sempre ela. E dona Dilma e seu “núcleo duro” quando querem
travar sua “batalha” entregam-se à intermediação do inimigo, dependem da
intermediação do inimigo, porque não têm armas próprias, estão desarmados, me
parece que o governo nem sequer se apercebe disso. Talvez porque nunca teve –
desde o início com Lula - uma perspectiva de enfrentamento, sempre quis navegar
na onda da conciliação.
Que
diferença, Lucilla, a sua presidenta, a Cristina, que parte como uma fera pra
cima do Grupo Clarín, sem medo, travando – aí, sim – a batalha da comunicação,
disputando em pé de igualdade os corações e mentes do povo argentino. Conta com
disposição de luta e arsenal adequado, como o bravo jornal Página/12, a TV
Pública canal 7, que sabe pegar pesado contra a mídia hegemônica e inclusive – ATENTE
PARA ISTO – domina a transmissão de futebol no país.
E
mais: conta com um mobilizado movimento popular, aglutinado no “Unidos e
Organizados”, que volta e meia está nas ruas defendendo o “projeto nacional e
popular” do kirchnerismo.
Que
diferença, Lucilla! Aqui no Brasil precisamos urgentemente buscar um amor que
nos corresponda. Beijo, até a próxima.
Eu não presto, mas eu
te amo
“Se você brigar novamente
Eu vou m’embora
Mas ouça bem o que eu digo agora
Eu vou m’embora
Mas ouça bem o que eu digo agora
Eu não presto, mas eu te amo
Eu não presto, mas eu te amo
Eu não presto, mas eu te amo
Minha vida foi sempre assim
Mas pode mudar
Se você quiser vou modificar...”
Mas pode mudar
Se você quiser vou modificar...”
Cantada por José Roberto, Reginaldo Rossi, Demétrius...
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