Tenha a mais santa paciência: Dilma espera que com diálogo a informação chegue à sociedade (Foto: Internet) |
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro)
– editor do blog Evidentemente –
publicado em 31/03/2015
De Guaiaquil (Equador) – Fico daqui
vendo o governo do presidente Rafael Correa, devidamente municiado, travando um
combate frontal contra a mídia hegemônica, enquanto acompanho de longe, num
misto de assombro e incredulidade, o governo do PT/Dilma/Lula, devidamente
desarmado, ser massacrado diariamente pela Rede Globo e seus parceiros de
monopólio.
Leio, por exemplo, a declaração do novo
ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência (sua posse está
prevista para hoje, dia 31), o ex-deputado petista Edinho Silva, cujo anúncio
foi recebido com desconfianças pela ditadura midiática e com certa esperança
pelos combativos companheiros da blogosfera progressista (ou “suja”).
“A presidente Dilma foi direta. Pediu que eu
estabeleça o diálogo com os veículos (de comunicação). A prioridade é
estabelecer o diálogo com os veículos para que a informação chegue à sociedade”,
disse ele, conforme li na nossa blogosfera.
Mas que diálogo, meu irmão? Um interlocutor só
te leva a sério quando você se apresenta para o diálogo mostrando que você
também tem força. Não é o caso. Na guerra da informação (ou desinformação), a
moderna guerra chamada de quarta geração, o governo brasileiro vive
permanentemente grogue, acuado, numa palavra DESARMADO, diante de um inimigo
poderoso.
“Diálogo com os veículos para que a informação
chegue à sociedade!?” Não creio que seja ingenuidade. Para mim, soa como
confissão de fraqueza. A informação (ou desinformação) vai chegar à sociedade
como sempre chegou, porque ela depende da intermediação do inimigo e o inimigo
é parte, tem lado nesta contenda, tem A SUA VERSÃO, A SUA VERDADE.
Os exemplos estão aqui pertinho na nossa Pátria Grande
Não sei até quando os assessores e dirigentes
governamentais vão insistir neste faz de conta. Repito, não posso crer que seja
ingenuidade. Para mim, soa como confissão de fraqueza. Os exemplos exitosos de
construção duma mídia contra-hegemônica estão pertinho, aqui mesmo na nossa
Pátria Grande. Aqui mesmo no Equador e também na Argentina, na Venezuela e na
Bolívia.
Aliás, há poucos dias li um bom artigo na nossa
Carta Maior, mostrando a diferença que faz um presidente que tem veículo para
falar e fala diretamente com a população. Referia-se à eficácia do presidente
estadunidense Roosevelt, com seu programa de rádio ‘Conversa ao Pé da Lareira’,
na década de 30 do século passado. O articulista só não precisava ir tão longe
no tempo e na geografia para buscar um exemplo.
Aliás (outra vez), nossos companheiros
blogueiros progressistas (ou “sujos”) – nossos abnegados guerrilheiros que se
batem contra o poderoso exército regular dos monopólios - também não parecem
muito convencidos da necessidade (imprescindível, na minha opinião) de
contarmos com uma potente rede de meios de comunicação, comprometida com uma
política democrática, nacional, popular e de esquerda. Mesmo agora no tempo da
Internet e redes sociais, que devem ser incluídas nesta “potente rede”.
Os blogueiros progressistas falam muito da
ditadura midiática, do terrorismo midiático, da corrupção (sonegação)
disseminada entre os meios hegemônicos, da inexistência duma política de
comunicação do governo, do financiamento dos monopólios através da verba de
publicidade, da falta de coragem da Dilma para peitar os senhores do
“pensamento único”, etc, etc.
Mas o ponto específico – construir uma mídia
contra-hegemônica – dificilmente é lembrado com todas as letras. Beto Almeida,
da TV Comunitária de Brasília e conselheiro da Telesur, é quem volta e meia
está batendo nesta tecla.
Outro dia o professor Laurindo Lalo Leal Filho,
que é estudioso do tema, reconheceu que a regulamentação econômica da mídia não
é suficiente na disputa pela hegemonia na cabeça e na mente dos brasileiros. É
necessário também a construção duma mídia que eu chamo sempre
contra-hegemônica.
Presumo que ele declarou neste sentido porque
foi perguntado por Darío Pignotti, jornalista argentino que escreve para Carta
Maior e Página/12. Digo isto porque leio sempre os esclarecedores artigos do
professor e nunca o vi tocar neste aspecto.
A gente termina falando dos assuntos em pauta
de maneira separada, mas, na verdade, sabemos que os fatos políticos e sociais
estão sempre entrelaçados. Imagine quando e como vamos conseguir a regulamentação
da mídia (especialmente as concessões públicas de rádio e TV) com os monopólios
matracando todo santo dia: é censura, é censura, é censura... os “petistas”
querem abolir a liberdade de expressão...
Raciocínio igual num outro tema capital:
imagine a que tipo de reforma política (ou eleitoral) vamos chegar com a mídia
reacionária (incluindo saudosistas da ditadura) comandando a informação (ou
desinformação)!
Por falar em reforma política: se tivéssemos
uma mídia comprometida nem que fosse um pouquinho com a verdadeira luta contra
a corrupção, será que um ministro do STF teria peito para bloquear a votação
sobre o financiamento das campanhas eleitorais pelos empresários? Será que a
direita vai festejar o primeiro aniversário do pedido de vista, agora na
próxima quinta-feira, dia 2? (DEVOLVE GILMAR!)
Correa, ao vivo na TV, desmascarando ponto por ponto as manipulações da mídia opositora (Foto: Internet) |
Enquanto isso, fico aqui nesta chuvosa
Guaiaquil, que é banhada pelo Pacífico mas tem todo jeito de caribenha,
assistindo – e morrendo de inveja – o presidente Correa estraçalhar as mentiras
e manipulações da mídia hegemônica, através da emissora pública Equador TV, canal
7 (e também por rádio), no seu programa semanal Enlace Cidadão.
São quatro horas, aos sábados (das 10 às 14
horas): noticia e explica exaustivamente as obras e as posições do governo, comenta
com veemência e bom humor os assuntos relevantes, esmiúça fatos, contesta
informações da mídia privada mostrando imagens repetidas vezes, dá a sua versão
e bate até um providencial carimbo expressando claramente M E N T I R A.
“Somos mais, companheiros, somos muito mais”,
repete inúmeras vezes o seu bordão. O jornalista e professor Ignacio Ramonet,
diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol, que esteve por aqui há poucos
dias, disse que Correa estudou comunicação depois de ter se tornado presidente.
Acrescento eu: deve ter tomado umas aulas com seu amigo Hugo Chávez.
PS: Pelo que pude ver e apurar, a rede de meios
públicos (ou estatais) de comunicação da Revolução Cidadã, liderada por Rafael
Correa, conta com dois jornais diários, três emissoras de TV (sem contar a Telesur),
uma de rádio e uma agência de notícias. (Farei matéria especificamente sobre
este “arsenal”).
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