(Foto: Carta Maior) |
Hoje, 23 anos depois daquele 4 de Fevereiro, é importante que a esquerda latino-americana observe as lições deixadas pela ação extraordinária de Chávez.
PorBeto Almeida (presidente da TV Comunitária de Brasília) - no portal Carta Maior, de 04/02/2015
O movimento não tinha atingido, então, os seus objetivos fundamentais, como disse Chávez em discurso por rádio e tv anunciando a rendição temporária daquela empreitada, num recuo tático inteligente para poupar vidas. Mas, sua cara de negro e índio, sua fala larga como as planícies do país, altiva como os Andes e caudalosa como o Rio Orenoco já havia penetrado irreversivelmente na consciência do povo da Pátria de Bolívar.
Certa vez, representando a Telesur num evento na Universidade de Madri, um dirigente comunista espanhol me confessou que só depois do golpe de 11 de Abril de 2002, ele e seus camaradas, passaram a acreditar que Chávez era , de fato, um revolucionário. Ou seja, levaram 10 anos para entender o que o povo venezuelano compreendeu num discurso de Chávez de apenas 47 segundos. “Ele é um dos nossos”, me explicou uma senhora idosa - moradora do Bairro de El Valle, que levava 1 hora para subir aquelas escadas e becos íngremes com sacolas de compras, quando lhe pedi que definisse Chávez para mim - com um sorriso nos lábios, ao tempo em que me mostrava o quarto do médico cubano que ela acolhia em casa. “Ganhei um novo filho”, disse do cubano.
Em muitas ocasiões similares,em diferentes países, onde também ocorreram levantes, insurreições e movimentos revolucionários conduzidos por militares, também houve perplexidade e confusão na esquerda. Juan Velazco Alvarado, general peruano líder da Revolução Inca, que estatizou petróleo, aproximou o país de Cuba e da URSS, iniciou a reforma agrária, e que tinha em Hugo Chávez um grande admirador, também foi muito hostilizado pela incompreensão dos comunistas da Pátria de Mariátegui. Também o Tenente-Coronel , Juan Domingo Perón chegou a ser tratado como fascista pelos comunistas argentinos, que chegaram ao ponto de fazer comícios junto com o Embaixador Braden, dos EUA, pedindo a renúncia do líder peronista, em cujo governo se estatizaram as telecomunicações, o petróleo e o gás, a indústria naval, o sistema ferroviário, reduzindo drasticamente a miséria, praticamente eliminou o analfabetismo, além de criar a Rede Pública de TV e Rádio da Argentina, com forte apoio ao desenvolvimento do cinema platense, que hoje retoma seu brilho fomentado pelas políticas audiovisuais de Nestor e Cristina.
Não foi muito diferente aqui no Brasil. Prestes , em longa entrevista publicado no jornal Tribuna Popular, comunista, no dia 24 de agosto de 1954, pedia a renúncia de Getúlio Vargas. Poucas horas depois a própria direção do PCB mandou recolher os jornais das bancas quando se anunciou a morte de Vargas e houve uma verdadeira explosão de fúria popular contra os veículos da oposição imperial e oligárquica, não poupando nem mesmo a imprensa comunista. Vale lembrar que em 1930, Prestes recusa o convite feito por Vargas para ser o chefe militar da Revolução, convite aceito pelos outros militares revolucionários que haviam lutado na Coluna e nos outros levantes anti oligárquicos. Prestes, décadas mais tarde, terminaria sua longa e digna vida como presidente de honra do partido trabalhista liderado pelo varguista Leonel Brizola.
Comentários