(Foto: Portal Fórum/Blog do Rovai) |
Por Renato Rovai, do seu Blog do Rovai/Portal Fórum, de 22/02/2015
O inimigo número 1 dos EUA na Internet, Julian Assange, que está preso a quase cinco anos na Embaixada do Equador, em Londres, sem que pese contra ele nenhuma acusação, concedeu por e-mail à Revista Fórum essa entrevista exclusiva onde revela que gostaria que wikileaks pudesse mudar sua sede para o Brasil.
“Os ativistas brasileiros deveriam lutar para criar um ambiente que seja ‘habitável’ para o WikiLeaks e nosso estafe (que proteja a criptografia e o anonimato na rede e o Marco Civil da Internet é um passo importante neste sentido) para que possamos mudar nossa sede para o Brasil.”
Essa entrevista foi intermediada pela Editora Boitempo, por onde Assange vai lançar a versão em português do seu novo livro, “Quando o Google encontrou o Wikileaks”, registro de um conversa entre ele, Eric Schmidt, presidente do Google e outros integrantes da corporação, realizada em 2011. Em breve, o blogueiro fará uma resenha da obra por aqui. Por ahora, fiquemos com a entrevista que está bastante interessante.
Julian, no seu novo livro você menciona que a principal censura sobre a história é o fator econômico, mas também se refere aos ataques jurídicos a jornalistas como uma ameaça. Como você entende que a mídia independente –particularmente aquela que está hospedada na internet – deveria confrontar essas ameaças à liberdade de imprensa e de expressão?
O WikiLeaks demonstrou que, ao reconhecer esses métodos de censura, a publicação pode estruturar suas operações logísticas e legais para resistir à censura, ou pelo menos torná-la muito cara. Outras publicações podem aprender com nossa experiência e reestruturar similarmente suas operações a fim de dificultar que sejam censurados. Os detalhes disso estão no livro, mas, resumindo, deve-se usar múltiplas jurisdições, a tecnologia e o poder da audiência, para que os ataques proibitivos à essas publicações sejam custosos política e economicamente. Meu conselho a estes é: onde existe vontade existe uma saída, mas antes de tudo tem que ter a vontade.
Na sua opinião, como será possível construir um sistema de livre informação que desafie o domínio das grandes corporações que cada vez mais se tornam aliadas do Departamento de Estado dos EUA? Ainda há chances para a Internet ou ela já foi apropriada pelo poder econômico?
Embora eu tenha falado bastante disso no livro e tenha tratado da natureza distópica da internet em diversos lugares, é também importante refletir a respeito dos seus benefícios. Esses benefícios são o extraordinário desenvolvimento da civilização humana; e, parte da tragédia, é que esses desenvolvimentos estão sendo erodidos pela cooptação da internet pelas grandes facções de poder no Ocidente. A internet é uma habilidade sem precedentes para o mundo se comunicar através das fronteiras e isso significa que precisamos nos educar sobre como realmente é a civilização humana e nosso lugar na Terra.
Essa transferência lateral de informação foi disponibilizada ao público, junto àquela transferência vertical de informação das velhas organizações opacas, por conta de organizações como Wikileaks e outras instituições ou fenômenos similares. Esse sistema maravilhoso e libertador tem sido, pelos últimos dez anos, alvo de predadores da pior espécie: a Agência de Segurança Nacional (NSA, sigla em inglês), o GCHQ (o similar britânico) e outras agências aliadas e organizações, sendo a mais importante o Google. A invasão dessas organizações ao espaço educacional da civilização humana é uma tragédia. É de alguma maneira como se a revolução tivesse sido traída. Ainda há chance para que o potencial emancipatório da internet tenha continuidade? Sim, eu acredito que existe essa chance, mas apenas se lutarmos por ela – e essa será um longa e amarga luta.
Para continuar a entrevista no Portal Fórum:
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