(Ilustração: do blog Prestes A Ressurgir) |
Será que a direita atingiu
seu ponto máximo com a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara? Ou
será que, com a hegemonia da informação, ela pode ir ainda mais longe?
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) –
editor do blog Evidentemente, de 03/02/2015
Creio
que não precisaríamos chegar à eleição de Eduardo Cunha para a presidência da
Câmara dos Deputados, com um placar acachapante, para constatar o avanço das
forças (e também dos valores culturais) da direita no Brasil. Isso já poderia
ser detectado bem antes.
E
creio que os partidos e movimentos sociais (e também parcelas do governo do
PT/Dilma/Lula), envolvidos na luta democrática, popular e de esquerda, não terão
bala na agulha para enfrentar tal situação se não construir uma potente mídia
contra-hegemônica.
Venho
batendo nesta tecla há algum tempo, através deste meu blog Evidentemente.
Nestes últimos dias escrevi alguns artigos a respeito: ‘Na América Latina
progressista, há governos armados e governos desarmados’, ‘Conjuntura
brasileira: e ainda temos que aguentar o neoliberalismo do Levy (e da Dilma)’, ‘Presidenta
Dilma, não há uma “batalha da comunicação”, há um massacre diário’.
Mas
meu blog tem pequeno alcance. Por isso, de vez em quando estou entrando nos
comentários dos companheiros blogueiros progressistas (ou “sujos”), tentando
divulgar mais meus artigos e também fazendo comentários, sempre com o mesmo
foco.
O
que temos, por enquanto, de mídia contra-hegemônica no Brasil? Podemos citar a
nossa blogosfera progressista (ou “suja”), que tem feito a diferença nesta era
de crescente influência do meio Internet, travando uma guerra realmente heroica,
apesar dos poucos recursos financeiros e da falta de apoio do governo; entra aí
junto o trabalho dos ativistas nas redes sociais; no “papel” temos a Carta
Capital, o Brasil de Fato e a Caros Amigos; e também pequenos meios da mídia
alternativa, comunitária, sindical. O que mais?
É
muito pouco, pouquíssimo, para enfrentar uma mídia hegemônica rica e poderosa, concentrada
nas mãos de poucas famílias, partidarizada, com décadas de experiência, afinada
com os maiores grupos capitalistas e com o império estadunidense, calejada na
sua luta anti-democrática, anti-popular e anti-nacional, e ainda recebendo
dinheiro das verbas publicitárias de governos, órgãos e empresas públicos.
Rede
Globo e outras emissoras de TV, jornalões Folha, Estadão e Globo, revistas
semanais, rádios e seus portais na Internet, mesmo perdendo eleições, dominam a
agenda política do país, criminalizam o que se considera política e mantêm o
governo “petista” permanentemente acuado, nas cordas, enquanto os movimentos
populares, de esquerda, são cada dia mais demonizados.
E
não só a agenda chamada política - o golpismo implícito e explícito: não é à
toa que grande parte da população brasileira repete como papagaio que o “governo
do PT” é o mais corrupto da história; e continua acreditando no “mar de lama”
do Getúlio e no “governo incompetente e corrupto” do Jango.
É
também a agenda cultural. A mídia hegemônica contamina todo o ambiente social,
com a disseminação das versões únicas dos fatos, das mentiras e manipulações. A
cada dia, a cada mês, a cada ano vai fazendo a cabeça e mente de grande parcela
do povo brasileiro, criando o caldo de cultura apropriado ao ódio, à
intolerância, à violência, ao individualismo, ao consumismo, ao desamor, ao
vale-tudo por dinheiro.
E
não apenas através dos noticiários e análises de comentaristas e “especialistas”,
mas também, e sobretudo – porque a audiência é maior -, dos programas de
entretenimento, de programas supostamente jornalísticos protagonizados por
comediantes e dos asquerosos programas policiais, onde pobre é tratado como
lixo.
E
não venham me dizer que as coisas estão mudando porque agora temos a Internet.
A Internet é um fator muito positivo, mas também aí quem detém a hegemonia são
eles. Falam dos avanços representados por Google, Amazon, Netflix, gigantes dos
meios digitais sobre os quais sou um completo ignorante, mas desconfio que daí
não vem coisa alguma de positivo para os interesses populares.
Vamos discutir e botar mãos
à obra
Para
abreviar, sem uma potente mídia contra-hegemônica estamos desarmados nessa tal “batalha
da comunicação” de que falou nossa presidenta, na moderna guerra de quarta
geração – guerra da informação e da desinformação. Simplesmente porque não
temos, infelizmente, uma mídia pluralista, honesta, apartidária, que se guie
por princípios jornalísticos.
O
governo federal e os partidos e movimentos de esquerda e centro-esquerda
precisam criar e/ou incentivar a criação duma mídia contra-hegemônica. Pode ser
formada por meios privados, públicos, estatais, comunitários, por cooperativas,
o diabo a quatro, mas que sejam veículos de comunicação de massa comprometidos
com os interesses nacionais, democráticos e populares.
Tenho
batido em três pontos, prioritários e simultâneos, para avançarmos no Brasil: 1
– buscar caminhos para promover a mobilização popular; 2 – fazer a regulação da
mídia, especialmente a audiovisual; e 3 – construir uma mídia
contra-hegemônica.
Sobre
os dois primeiros pontos, já há, pelo menos entre os blogueiros progressistas
(ou “sujos”) e movimentos de esquerda, um debate já bem consistente, com boa
dose de consenso. Sobre o terceiro são raríssimas as vozes que o levantam no
Brasil: cito por exemplo o jornalista Beto Almeida, que é do conselho da
Telesur e dirigente da TV Comunitária de Brasília.
O
professor Laurindo Leal Filho, que é estudioso da matéria, admitiu numa recente
entrevista a Darío Pignotti, da Carta Maior e do Página/12, que a regulamentação
econômica da mídia não é suficiente para enfrentar o poder dos monopólios dos
meios de comunicação no Brasil.
Vamos
discutir, vamos fazer. Penso que, além da blogosfera “suja”, há entidades
credenciadas a tocar tal discussão: o Fórum Nacional pela Democratização das
Comunicações (FNDC), o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé,
e as frentes de luta recém criadas: Fórum 21 e Frente pelas Reformas Populares.
Comentários
Comungo com suas ideias e lembro quando da criação da CUT, em 1983, já discutíamos a necessidade da construção de uma mídia democrática e popular, que esta central sindical e agora as outras, há muito, já deveriam ter feito. Felizmente agora, com Emiliano no Ministério das Comunicações talvez esta coisa ande um pouco mais. Parabéns pelo artigo e pela luta pela democratização da mídia. Saudações democráticas de seu admirador, Sérgio Guerra.