Interior dum bar/discoteca e uma das ruas da tal Zona Rosa, onde se pode encontrar uísque em Guayaquil (Fotos: Internet) |
Além de preço alto, limitação de dias e horários e
confinamento dos bares em uma ou duas áreas da cidade.
Por
Jadson Oliveira
(jornalista/blogueiro) – editor do blog Evidentemente,
de 25/02/2015 (publicado no dia 27)
De Guayaquil (Equador)
- Fiz tanto alarde com o altíssimo custo de vida de Montevidéu e a única coisa
que encontrei barato por lá – o uísque – que agora tenho que dar o
contra-ponto. Em Guayaquil, a maior cidade do Equador (2,4 milhões de
habitantes, segundo o Google), do outro lado do continente sul-americano, pelo
pouco que vi ocorre o contrário: os preços são bem mais baratos do que no
Brasil (nem vou comparar com o Uruguai), mas tem uma coisa mais cara: bebida
alcoólica, inclusive, claro, o uísque.
Mas o que causa espanto,
realmente, é a dificuldade de se encontrar bebida e, pelo que me dizem, não se
trata de uma particularidade desta cidade à beira do Pacífico, mas sim uma
política nacional. Não sei até que ponto a “proibição” do álcool faz parte do
ideário da nossa Revolução Cidadã, liderada pelo presidente Rafael Correa, que
sempre mereceu amplo espaço neste meu blog.
Somente hoje,
quarta-feira, quarto dia que estou por aqui, consegui, finalmente, depois de
muito esforço, tomar uma dose de uísque Red Label: 5 dólares (em torno de 14
reais – o dólar está encostando nos 3 reais, não é?). Além de preço alto,
limitação de dias e horários e confinamento dos bares em uma ou duas áreas da
cidade. Resultado: pra quem não gosta de beber em casa, é um castigo.
Primeiro espanto: no
domingo, primeiro dia na cidade, vou almoçar e pensei, tomo logo um uisquinho
pra sentir a barra dos preços. Quebrei a cara: o restaurante não vendia uísque.
OK e onde posso encontrar um bar? Por aqui não há bares e os bares não abrem no
domingo, respondeu a moça como se falasse a coisa mais banal do mundo. Terminei
me contentando com uma cerveja pequena, só havia das pequenas, duas marcas – a
2 dólares.
(Por sinal que aqui
há o hábito de tomar essas mini-cervejas pelo gargalo, pedi copo. Me lembrei de
Trinidad e Tobado, lá tem hábito igual. Outro hábito aqui é comer com colher,
pelo menos em restaurantes populares. Vi isso em Cuba. Vi aqui uma moça comendo
com colher e ajeitando alguns nacos de comida com a ponta dos dedos. Me lembrei
duma senhora, em Trinidad e Tobago, comendo com a mão num restaurante. Devem
ser costumes do Caribe, Equador fica perto).
O badalado Malecón na beira do Rio Guayas, que desemboca no Pacífico |
A bela Igreja de São Francisco, no miolo da área comercial/bancária da cidade |
Voltando ao meu
empenho em busca do uísque, enquanto me batia pra resolver as “burocracias”
rotineiras da chegada numa nova cidade: procurar hotel, alugar apartamento,
mudar o chip do celular, se orientar nas novas ruas/avenidas/praças, procurar
ser o menos enrolado (às vezes, “roubado”) possível, arranjar acesso à
Internet, sacar dinheiro...
Aqui levei um susto
dos diabos: o caixa eletrônico insistia em dizer que meu cartão estava
bloqueado, várias vezes, talvez eu tenha cometido algum erro, ou não, foi a
primeira vez que me aconteceu isso. Se cometi, a moça do banco a quem recorri
deve ter cometido também. Tive que ligar pro banco no Brasil, duas vezes, falei
com três atendentes, aquela confusão, passa pro “suporte técnico”:
- O “suporte técnico”
não tem nada a ver com isso, vou dar o número pra o senhor ligar...
- Que número, meu
amigo, não vai dizer que é o número tal, tal, tal e tal? Respondi já
impaciente, lendo o número no verso do cartão.
- É este número mesmo...
- Mas, meu irmão, foi
deste número que transferiram pra você, me ajude aí pelo amor de Deus pois estou
com pouco dinheiro e ainda tenho que pagar esta ligação.
Você fica falando e
olhando um mostrador com o custo da ligação aumentando, aumentando, como num
taxímetro.
Bem, paguei 6 dólares
da ligação e, como se diz, tudo está bem quando acaba bem, saquei meu
dinheirinho salvador.
Por falar em sacar
dinheiro e abrindo mais um parêntese: você sabia que o Equador não tem moeda
nacional? Pois é, aqui é o dólar mesmo, o famoso dólar estadunidense, sem
intermediário, a moeda do império. É um tema que rende muita polêmica, mas
vamos ficar fora disso.
Digo só que, na
prática, pra quem viaja, é mais simples: você fica com apenas duas moedas na
cabeça, ambas já nossas conhecidas - o real e o dólar. Nos outros países você
está sempre pensando nos preços em três moedas e as cotações variam muito, dá
uma confusão!
Uma diária no hotel
custa “x” pesos; você pensa: isso dá “x” dólares; e pensa em seguida: significa
“x” reais. Aqui é mais simples: ontem almocei por 2,5 dólares (restaurante
popular) – pensei logo, beleza, barato, 7 reais; peguei um ônibus, paguei 25
centavos de dólar – pensei, de graça, 70 centavos de real.
Sobre cotações, é uma
loucura: estava em Montevidéu, onde 1 dólar vale 24 pesos uruguaios; passei um
dia em Santiago do Chile, onde 1 dólar está valendo 630 pesos chilenos – você
toma um café, com uma “empanada” (tipo pastel de forno no Brasil) e pede “la
cuenta”: 2 mil, 3 mil...
Agora, voltando, de
verdade, à busca do uísque. Encontrei no centro da cidade, depois de muito
perguntar, dois lugares que vendem bebida: um tipo bar, vendia apenas cerveja;
o outro, nem entrei, era tipo buate, escuro, luz piscando (em plena tarde) e
música em alto volume.
Até que me
informaram: bares aqui só a partir das 4 horas da tarde (domingo não abrem, já
disse) e numa área da cidade chamada “Zona Rosada”, lá para os lados do Malecón,
um ponto bastante badalado, na beira do Rio Guayas (é o estuário do rio no
Pacífico – Guayaquil é a capital da província/estado com o mesmo nome do rio).
Depois alguém corrigiu: o nome é “Zona Rosa”
(Os bares, na
verdade, são tipo discoteca, buate. Nos dois por onde passei, pouca variedade
de bebidas. Uísques meus conhecidos somente Red Label, Black Label, Old Par e
Buchanas).
Nesta quarta, final
da tarde, baixei lá e quebrei o jejum de cinco dias: um uísque, um “ron” cubano
e uma cerveja (tamanho médio entre as mini e as ¾, a mais comum no Brasil):
gastei 10 dólares.
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