Dilma falou da "batalha da comunicação" na primeira reunião ministerial do seu segundo governo (Foto: Internet) |
É um massacre diário na TV Globo, nos jornalões
Folha, Estadão e Globo e etc e etc, manchetes da desinformação que vão se
repetindo e se desdobrando em cascatas...
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – editor do blog Evidentemente,
carta de Montevidéu (Uruguai), publicada em 30/01/2015
Querida
Lucilla,
Estranhei você me escrever falando da ingenuidade de
nossa presidenta ao pedir aos seus numerosos ministros, na primeira reunião
ministerial, que travem “a batalha da comunicação”. Devo concluir que já está
se interessando por essas “merdas” da política? Não é assim que você costuma se
referir à política?
Pois bem, me animei a te responder à altura, apesar
de estar fora uns tempos. Fora é maneira de dizer, porque a danada da Internet
deixa a gente em todos os lugares.
É o assunto que mais tem me interessado ultimamente
na política, a tal da comunicação ou a ditadura midiática. Escrevi dois artigos
recentemente sobre isso aqui no blog, você deve ter visto, embora sempre penso,
com uma certa dor de corno, que você lê saltando uns parágrafos, não te
interessa tanto... (‘Na América Latina progressista, há governos armados e
governos desarmados’ e ‘E ainda temos que aguentar o neoliberalismo do Levy - e
da Dilma’).
Meu amor, não concordo com esse negócio de
ingenuidade: seria possível que a Dilma não perceba que o seu governo, o nosso
governo, está desarmado nessa guerra da comunicação, que é uma guerra mortal
nos nossos dias? Aliás, nossos dias uma ova, não é à toa que até hoje há gente
que acredita no “mar de lama” do Getúlio Vargas e no “governo incompetente e
corrupto” de Jango.
Imagino, assombrado, que daqui a uns 50 anos a
maioria dos brasileiros vai falar dos governos “petistas” do início do século
como “os governos mais corruptos da história”.
E se perdurar o quadro de hoje, em especial nos
meios de comunicação, é assim que os governos de Lula e Dilma vão ficar na
história. É de doer! Nossos netos vão conferir esta previsão.
É um massacre diário na TV Globo, nos jornalões
Folha, Estadão e Globo e etc e etc, manchetes da desinformação
(nutridas inclusive
pela verba da publicidade do próprio governo) que vão se
repetindo e se desdobrando em cascatas pelas outras TVs, rádios e jornais dos
estados e também nos portais da Internet.
Aí, na Internet, temos alguma munição para disparar,
os companheiros na blogosfera e nas redes sociais têm feito uma boa resistência,
mas mesmo aí somos minoritários.
Quando é que o governo (e também o movimento
democrático, popular e de esquerda) vai se conscientizar que precisa se armar
para travar a tal da “batalha da comunicação”, como disse a Dilma?
Pode-se dizer que não é apenas questão de querer,
mas de poder, pois o governo “petista” é uma casa inundada de gente da direita
e até ultradireita, a dependência da tal governabilidade, por isso uso sempre o
“petista” entre aspas.
Acho sinceramente que isso é verdade. Mas, que
diabo! a gente cansa, o povo se anestesia e a juventude se impacienta
desnorteada, é preciso buscar instrumentos, de alguma forma, para construir uma
mídia contra-hegemônica no Brasil.
É isso ou nada. Ou seja: além de lutar pela
regulação da mídia, assunto sobre o qual parece já haver uma certa
conscientização no governo, é preciso criar ou incentivar a criação de uma rede
de jornais, TVs, rádios, portais, emissoras de rádio e TV comunitárias.
Isso sim é armamento para travar a guerra da
comunicação, para defender e atacar em nome dos interesses nacionais e
populares. (Um terceiro ponto imprescindível, sem o qual não se chega a lugar
nenhum, é buscar a mobilização popular, mas aí é outro papo. São tarefas
prioritárias e simultâneas).
Vou dar dois exemplo: os governos da Venezuela e da
Argentina, que vivem hoje sob bombardeio incessante da mídia hegemônica em todo
o mundo. Ontem mesmo li o El País, o jornal mais lido daqui, não tem
escapatória, pau em Nicolás Maduro, pau em Cristina Kirchner, sem piedade.
Mas tem um detalhe fundamental: internamente, em
cada um de seus países, eles têm – porque vêm sendo construída ao longo dos
últimos anos – uma mídia contra-hegemônica (na última vez em que estive em
Caracas – aliás, nos conhecemos nessa ocasião - as forças bolivarianas já contavam, pra
citar só um item, com quatro emissoras de TV estatais).
Têm também a mídia regulada (no caso da Argentina,
ainda estão lutando para aplicar a regulação, a famosa Ley de Medios).
Por isso – e por contar ainda com um movimento
popular mobilizado – as classes mais endinheiradas não conseguiram e não
conseguem derrubar nem Maduro e nem Cristina. E olhe bem, minha querida
Lucilla, nunca esqueça desse detalhe, que é muito mais do que um detalhe: a
direita golpista tem ao seu lado o império.
E agora nossa presidenta vem me falar de travar a “batalha
da comunicação”! (“e agora você vem me falar dessa paixão inesperada por outra
pessoa”, é assim a música do Peninha, você lembra? “forma parte” do nosso caso
de amor...)
Vou parar, minha querida, vou tentar esquecer um
pouco do Brasil, e ver se aprendo umas coisas daqui desta bela cidade.
Só uma coisinha mais: você viu que uma das primeiras
decisões do novo governo de esquerda da Grécia, do Syriza, foi reativar a TV
estatal de lá? Pois é, estão no caminho certo.
Outra coisa, um segredinho: o que mais me agrada
sair do Brasil é não ter mais o desgosto de ver aqueles e aquelas agentes da
delinquência da Globo entrando todo santo dia em minha casa. É um alívio!
Beijão, Lucilla, me queira bem mesmo com a política
no sangue, acho que ainda te amo. Um dia, prometo, te escrevo uma carta só pra
falar de coisas do amor.
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