Professor Venício Lima (Foto: Rogério Tomaz Jr./Flickr) |
Em entrevista, Venício Lima falou de como a mídia
aprisiona o debate dentro de uma narrativa falsa que fala de censura, e não de
regulamentação econômica.
"É necessário
que o debate chegue à sociedade, porque você só conseguirá mudanças se
conseguir mobilização".
"Acho que
a participação de Lula (na batalha por mudanças na mídia) será muito importante, será extraordinária".
Por Darío
Pignotti, @DarioPignotti – reproduzido do portal Carta Maior, de 12/01/2015
A
possibilidade de ter a participação de Lula na batalha pela democratização da
mídia será um aporte "extraordinário" para o campo progressista e uma
dor de cabeça para os defensores do status quo.
E a nominação
de Ricardo Berzoini no Ministério das Comunicações é um fato importante porque
ele tem demonstrado estar "sensibilizado" com a necessidade de
mudanças, um objetivo onde tem como aliados os ministros Miguel Rossetto,
Jaques Wagner e Pepe Vargas.
Estas são
algumas das reflexões formuladas pelo professor Venício Lima, um dos acadêmicos
que tem estudado com maior rigor e durante anos as interfaces entre poder e
mídia no Brasil, onde impera um dos sistemas de propriedade mais concentrados
do mundo. Durante entrevista com Carta Maior ele repassou a história das manobras
das oligarquias jornalísticas na defesa de seus privilégios.
Uma
história cuja origem é anterior ao golpe de 1964 e continua ate hoje com campanhas
da mídia e da oposição tucana, destinadas a intoxicar o debate público.
- Qual a importância da eventual
participação de Lula na batalha por mudanças na mídia?
Acho que
a participação de Lula será muito importante, será extraordinária. Agora temos
que aguardar, mas é fato que o presidente Lula teve uma postura clara
sobre esta questão. Ele está realmente comprometido com mudanças na mídia.
Lula terá
peso num debate que será muito intenso, um debate que com certeza será
manipulado pela grande mídia...
É necessário
que o debate chegue à sociedade, porque você só conseguirá mudanças se
conseguir mobilização, porque existe uma relação de forças muito desigual no
Parlamento, onde há uma maioria conservadora inimiga da regulação da mídia.
Temos de
lembrar que essa discussão sobre democratização da mídia está sendo feita
no Brasil há muitos anos, temos de recordar a Conferência Nacional da Comunicação em
dezembro de 2009 e, no final do segundo governo Lula, em 2010, o ministro
Franklin Martins (SECOM) realizou um seminário internacional, que trouxe
representantes das agências reguladoras dos EUA, da Inglaterra, da Argentina,
da França, etc. Esse material está todo disponível, foi um seminário boicotado
pela mídia.
- Junto com o possível debate, aumentaram os
ataques da mídia oligárquica contra Lula.
Sim,
estão atacando duramente o Lula, na verdade os grandes grupos nunca deixaram de
atacá-lo. Agora, nesses dias, até falaram que tem câncer de pâncreas (portal
UOL), sinceramente é a primeira vez que ouvi falar que alguém tem câncer de
pâncreas e não morre logo, porque o câncer de pâncreas mata em semanas. Claro
que isso é mentira.
- O jornal Valor vinculou Lula ao financiamento do
carnaval e do jogo do Bicho.
A gente
acha que Valor tem um pouco mais de responsabilidade jornalística que O Globo,
Estado, Folha porque é um jornal dirigido para empresários. Mas isso que você
está me falando de Lula e os bicheiros até causa graça. A destruição de
Lula é permanente em toda a grande mídia. É algo inacreditável.
Mas é
verdade que o poder da mídia para determinação do voto já não é a mesma de 25
anos atrás, se você compara uma eleição de hoje com a eleição de Collor (1989)
é uma eleição completamente distinta. Eu falo isso porque estudei profundamente
aquela eleição que foi a primeira depois da ditadura. O país mudou, hoje as
circunstâncias são completamente distintas, o nível educacional aumentou muito,
você tem uma inclusão social e econômica que não tinha naquela época e você tem
internet, que não é determinante, mas que é capaz de se contrapor à grande
mídia como já foi comprovado desde as eleições de 2006. Então a grande mídia
não tem o poder que já teve, mas ainda tem um poder desmesurado...
DILMA E BERZOINI
- Acha que a presidenta já arquivou a ideia de uma
trégua com a grande mídia?
Um dos
problemas que tivemos foi a ilusão dos governos, inclusive os governos de Lula
e Dilma, de que é possível negociar com esses grupos. Em algum momento parece
que Lula se deu conta de que isso não é possível, ali é possível explicar
porque foi criada a Empresa Brasileira de Comunicação (segundo mandato).
Acontece que a criação da EBC não foi seguida da construção de um sistema de
mídia pública, que aliás é uma das coisas que não está regulamentada do artigo
223 na Constituição, o espírito desse artigo é o da complementaridade entre
modelos público, privado e estatal.
Por outro
lado, o Poder Executivo não apoia na medida necessária a construção de um
sistema público que sirva de alternativa de qualidade ao sistema privado
dominante.
Comentários