(Foto: Duc/Flickr) |
Estes companheiros da Charlie Hebdo eram pessoas de esquerda, anti-racistas, anti-fascistas, anti-colonialistas, simpatizantes do comunismo ou do anarquismo.
Por Michael Lowy - Blog da Boitempo - reproduzido do portal Carta Maior, de 14/01/2015
Infâmia. É a única palavra que pode resumir o que sentimos diante do assassinato dos desenhistas e jornalistas do hebdomadário Charlie Hebdo. Um
crime tanto mais odioso que estes companheiros eram pessoas de
esquerda, anti-racistas, anti-fascistas, anti-colonialistas,
simpatizantes do comunismo ou do anarquismo. Há pouco, participaram com
desenhos em um álbum em homenagem à memória das centenas de
anti-colonialistas argelinos assassinados pela polícia francesa em
Paris, em 17 de outubro de 1961.
Sua única arma era a pluma, o humor, a irreverência, a insolência. Também contra as religiões, seguindo a velha tradição anti-clerical da esquerda francesa. Mas no ultimo número da revista, que acabava de sair, a capa era uma caricatura contra o escritor islamofóbico Houellebecq, além de uma página de caricaturas contra a religião… católica. Charb – pseudônimo de Stéphane Charbonner – o editor-chefe da revista, era um artista de sensibilidade revolucionária, que ilustrou o livro do filósofo marxista Daniel Bensaïd, Marx, manual de instruções, publicado no Brasil pela editora Boitempo.
Sua única arma era a pluma, o humor, a irreverência, a insolência. Também contra as religiões, seguindo a velha tradição anti-clerical da esquerda francesa. Mas no ultimo número da revista, que acabava de sair, a capa era uma caricatura contra o escritor islamofóbico Houellebecq, além de uma página de caricaturas contra a religião… católica. Charb – pseudônimo de Stéphane Charbonner – o editor-chefe da revista, era um artista de sensibilidade revolucionária, que ilustrou o livro do filósofo marxista Daniel Bensaïd, Marx, manual de instruções, publicado no Brasil pela editora Boitempo.
O
ato destes fanáticos e intolerantes partidários do Jihad é um crime
contra a liberdade de imprensa, o livre pensamento, a liberdade
artística. Mas é também um crime contra o Islã, e contra os muçulmanos
da França, que correm o risco de acabar pagando a conta de uma infâmia
da qual não tem a mínima responsabilidade.
A onda de islamofobia, que tem se desenvolvido bastante na França nos últimos tempos, com o apoio de jornalistas racistas, ou escritores famosos como Eric Zemmour como Houellebeck, confunde muçulmanos com integristas, e integristas com jihadistas. Este clima deletério favorece as várias correntes racistas, fascistas, e sobretudo o Front National da família Le Pen, que fez do racismo islamofóbico seu principal fundo de comércio. Eles naturalmente tratarão de utilizar o crime dos jihaddistas para difundir seu veneno.
Uns e outros tentam instaurar um clima de “guerra das civilizações”, segundo a sinistra proposta de Samuel Huntington (um dos arquitetos da Guerra do Vietnã). É urgente lembrar que o verdadeiro conflito de nossa época não é entre “Islã” e “Ocidente”, mas entre os explorados e os exploradores, os opressores e os oprimidos, e, em ultima análise, entre os interesses do capitalismo e os da humanidade.
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