Löwy: “O
marxismo deve ser atualizado em função dos desafios de nossa época” (Foto:
Página/12)
|
Ao contrário da situação na Europa,
onde a esquerda parece desaparecer, com as notáveis exceções da Grécia e
Espanha, “as experiências da Venezuela, Bolívia e Equador mostram que se pode
ir muito mais longe na ruptura com as políticas neoliberais e a dominação
oligárquica”.
Por Eduardo Febbro, de Paris, no jornal argentino Página/12, edição impressa de 02/11/2014, com o título ‘Pode ser que a esquerda desapareça’ (na Europa) (Vai aqui traduzida apenas uma parte da entrevista; o título e destaque acima são deste blog)
Fala o sociólogo
e filósofo marxista franco-brasileiro Michael Löwy, diretor de investigações no
CNRS francês (Centro Nacional da Investigação Científica) e professor na Escola
de Altos Estudos em Ciências Sociais. É autor de reconhecidos livros sobre o
marxismo.
–O atual primeiro ministro francês, Manuel Valls, disse há uns meses que a esquerda poderia desaparecer. Se se olha o panorama da esquerda em vários países centrais da Europa, dá a impressão de que já desapareceu.
–Efetivamente, há um risco de que a esquerda desapareça. Neste sentido, Manuel Valls tem razão, excetuando o fato de que ele é um dos responsáveis pelo desaparecimento da esquerda. O que contribui para desmoralizar a esquerda é a política de Valls e do presidente François Hollande. Essa política empurra as pessoas à desesperança, a perder o rumo. Por isso há tanta gente que aponta rumo à extrema direita. Mas temos que reconhecer que, na Europa, a situação não é nada boa. A extrema direita está de vento em popa e a esquerda radical está muito debilitada, com a notável exceção que é a esperança da Grécia (onde há a força do partido de esquerda Syriza) e da Espanha, onde há um movimento novo como o Podemos. É apenas um começo, mas isso nos demonstra que há uma alternativa à esquerda.
–Mas por que a esquerda se tornou praticamente inaudível? Se repetiu, faltou convicção ou simplesmente acomodou sua ideologia para se diluir no liberalismo?
–A social-democracia, que era uma parte importante da esquerda e do movimento operário, decepcionou porque se adaptou ao neoliberalismo e levou a cabo a mesma política da direita liberal. Há um desencanto e uma desorientação. Ao mesmo tempo, o Partido Comunista paga agora o preço de sua adesão, durante quase um século, a essa caricatura de socialismo que foi a União Soviética. Quando a URSS caiu como uma farsa trágica, os operários e os dirigentes que respaldavam essa corrente da esquerda se desmoralizaram. Mas, por sobre todas as coisas, o que mais influi é o peso da ideologia dominante. Os meios de comunicação, a televisão, em suma, tudo isso mantém uma cultura do consumo, um espírito conformista e uma sociedade individualista. Essa é a ideologia dominante e não é fácil lutar contra ela. Ao contrário, na América Latina se pôde combater essa ideologia, na Europa é outra história. Na América Latina há uma longa história de rebeliões, de movimentos e de revoluções que lograram tirar a máscara do conformismo burguês reacionário. A América Latina avança, o neoliberalismo não domina mais como antes.
–Isso significa que, na América Latina, a esquerda tem eco.
–As experiências da Venezuela, Bolívia e Equador mostram que se pode ir muito mais longe na ruptura com as políticas neoliberais e a dominação oligárquica. Não se trata duma revolução socialista como em Cuba, nem tampouco do fim do capitalismo. No entanto, inclusive dentro dos limites do sistema, puderam ir mais longe. Há uma dinâmica de ruptura e de enfrentamento com a oligarquia. Como vemos, não é impossível.
Tradução: Jadson Oliveira
Quem quiser ver toda a entrevista, em espanhol, no Página/12, clique aqui:
Comentários