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Disse
e repito: “O governo vive
permanentemente acuado, à mercê da agenda imposta e conduzida pela TV Globo,
jornalões e revistas, a serviço das forças de direita, dos interesses
anti-nacionais e anti-populares”.
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – editor do blog Evidentemente
– publicado em 28/01/2015
De
Montevidéu (Uruguai) - Para não entrar em desespero com o neoliberalismo do Levy (e da Dilma),
a gente – petistas e não petistas, votantes em Lula e Dilma, pessoas
sinceramente de esquerda, pessoas sinceramente de espírito democrático e
defensoras dos interesses nacionais e populares – tem que se conscientizar de
três coisas:
1 – O governo brasileiro e o movimento democrático,
popular e de esquerda (devem ou deveriam estar juntos, creio eu) não têm poder
de mobilização popular, “poder de convocatória”, como dizem nossos companheiros
do espanhol;
2 – Não temos força para conseguir uma regulação da
mídia, pelo menos como está na Constituição, isto é, proibindo os monopólios e
oligopólios nos meios de comunicação, propriedade cruzada, emissoras de rádio e
TV nas mãos de parlamentares, etc. Como já existe em vários países nossos
vizinhos da América do Sul e em países da Europa e nos Estados Unidos, tidos e
havidos estes últimos como paladinos da democracia no jargão da mídia
hegemônica;
3 – Nem ao menos começamos a construir uma mídia
contra-hegemônica, como construíram os governos e movimentos populares da
Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador (no Brasil, muito ao contrário, o
governo persegue as pouquíssimas rádios realmente comunitárias que tentam
sobreviver; vamos ver se continua perseguindo com o novo ministro das
Comunicações).
Daí porque, num recente artigo publicado aqui neste
meu blog (Na América Latina progressista, há governos armados e governos
desarmados), coloquei o governo “petista” do Brasil entre os desarmados na
guerra chamada de quarta geração.
Disse no artigo citado e repito: “O governo vive
permanentemente acuado, à mercê da agenda imposta e conduzida pela TV Globo,
jornalões e revistas, a serviço das forças de direita, dos interesses
anti-nacionais e anti-populares. E não é apenas a agenda política propriamente
dita. Trata-se de uma hegemonia esmagadora na linguagem, nos costumes, no
entretenimento, nos temas culturais em geral”.
Daí que sobram lamentações e protestos entre
governistas e ativistas de partidos e movimentos da esquerda e centro-esquerda
quando, por exemplo, um ministro da presidenta Dilma (no caso Levy, poderiam
ser outros, pois direitista é que não falta no ministério) sai em campo, sob
louvação da “mídia gorda”, exaltando a política dos “ajustes” e da
“austeridade” (para assombro de muita gente, justamente quando tal política recebe
sua primeira paulada na Europa com a vitória do Syriza na Grécia).
Não quero com o termo “lamentações” desmerecer a
heroica resistência dos nossos blogueiros progressistas (ou “sujos”). Menos mal
que temos eles (juntos com alguns poucos da imprensa “de papel”, como os da
Carta Capital, Brasil de Fato e Caros Amigos) fazendo o contra-ponto, tentando
fazer o que faria, se tivéssemos, uma potente mídia contra-hegemônica.
Para estarmos à altura do combate precisaríamos
atacar as três lacunas relacionadas acima, prioritariamente, simultaneamente.
No item 1, da mobilização popular, estamos muito mal.
Entre os movimentos populares, demonstram poder de fogo apenas o velho e
aguerrido MST, ultimamente o MTST de São
Paulo e também o MPL. Nosso outrora bravo movimento estudantil, por onde anda?
Há ainda os movimentos culturais da periferia paulistana e o que mais?
As centrais sindicais e os sindicatos (que, aliás,
têm manifestações de rua marcadas para hoje, quarta, dia 28) não têm conseguido
se levantar da letargia a que se acostumaram nesta década e pouco de governo “petista”.
Suas lideranças foram cooptadas pelas comodidades das migalhas do poder, perderam
as ligações com as bases e a força da mobilização. É o que acontece com os
militantes que se lambuzam nas mordomias do Parlamento. (Outro dia nosso Frei
Betto, num artigo, ao fazer referência à militância petista, perguntou bem
significativamente “que militância?”)
Entre os partidos, o PT e o PCdoB pouco diferem, na sua
prática, dos partidões da burguesia. O PT desgastadíssimo depois de eleito pela
ditadura midiática “a fonte da corrupção e de todos os males que assolam o país”.
Em partidos como PMDB, PDT e PSB (e que mais? são
tantos...) há um ou outro gato-pingado de quem se pode esperar alguma ação
positiva. Os mais à esquerda – PSOL, PSTU, PCB, PCO e PRC – nunca tiveram,
infelizmente, poder de mobilização (não falo, evidentemente, do PCB/Pecezão de
meados do século passado).
Os partidos de direita também são frágeis, não
mobilizam nada, mas eles não precisam liderar nem mobilizar, não precisam
levantar bandeiras e apontar rumos políticos. Sua ação se restringe a seguir na
rabeira da mídia hegemônica, o “partido” de direita que realmente conta.
Queria falar dos itens 2 e 3 – regulação da mídia e
construção duma mídia contra-hegemônica -, mas já me alonguei demasiado, fica
para outro dia.
PS 1 – Dois fatos positivos para o movimento
democrático, popular e de esquerda no Brasil: o lançamento recente da frente de
esquerda, batizada de Frente pelas Reformas Populares, e da articulação Fórum
21.
PS 2 – A perdurar uma conjuntura marcada pela
desmobilização popular e o terrorismo midiático dominante, imagine a que
farrapo de reforma político-eleitoral poderemos chegar, ainda mais agora com um
Congresso Nacional ainda mais à direita! Se um ministro do Supremo passa quase
um ano segurando um processo sobre o tema, com o placar já decidido... imagine!
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