Ex-presidentes argentinos Carlos Menem e Fernando de la Rúa (Fotos: Wikicommons/Opera Mundi) |
Daqui a 10 anos se poderá avaliar o destino dos
atuais presidentes, mas provavelmente entrarão para a história melhor que os antecessores.
Por Wagner
Iglecias, de São Paulo – reproduzido do portal Opera Mundi, de 12/12/2014
A
história da América Latina no século XX pode ser dividida, grosso modo, em
décadas. Nos anos 1960 e 1970, por exemplo, o continente esteve imerso na
lógica da Guerra Fria. Se, do lado de lá, na Cortina de Ferro, Moscou exercia
fortíssima influência em países como Hungria, Polônia, Alemanha Oriental e
Tchecoslováquia, do lado de cá, no “pateo trasero” dos EUA, Washington
tinha grande peso sobre nações como Argentina, Brasil e Chile, que viviam sob
ditaduras militares, ou México, Colômbia e Venezuela, que formalmente eram
democracias.
Nos anos
1970, aliás, vários países latino-americanos experimentaram altos índices de
crescimento, por conta da tomada de dinheiro barato nos mercados mundiais. Mas
a festa acabou quando Ronald Reagan chegou ao poder nos EUA e o Fed subiu as
taxas de juros para os títulos do Tesouro norte-americano. Ali, se enxugou a
liquidez mundial e quebraram-se muitos países endividados, como os da nossa
região.
A década
de 1980 foi de desmanche das ditaduras, que perdiam apoio à medida que o
fracasso econômico se acentuava. E foi também uma década de reconstrução das
instituições democráticas e de gerenciamento da massa falida. José Sarney, no
Brasil, e Raúl Alfonsín, na Argentina, foram dois claros exemplos de
presidentes que tiveram de lidar com o duplo desafio de reconstruir a
democracia e recolocar a economia nos eixos. Miguel de La Madrid, no México,
também, ao menos no caso da economia. Num certo sentido foram todos eles
líderes melancólicos, de uma época onde havia poucos motivos para se comemorar
alguma coisa.
Arrebatadores
mesmo foram os líderes que chegaram ao poder nos anos 1990. A onda ideológica
neoliberal varria a periferia do mundo e a América Latina não ficou imune a
ela. Pelo contrário, foi onde mais se aprofundou as experiências de
privatização de empresas estatais, abertura comercial rápida e profunda e
desregulamentação da economia. Tudo visando criar bons ambientes de negócio
para investidores internacionais. Foi naquela época que gente como Carlos Menem
(Argentina), Carlos Salinas de Gortari (México), Gonzalo Sanchez de Lozada
(Bolívia), Alberto Fujimori (Peru), Carlos Andrés Pérez (Venezuela) e Fernando
Henrique Cardoso (Brasil) elegeram-se a partir do sonho de retomada do crescimento
e da equiparação das nossas sociedades com os padrões de vida do mundo
desenvolvido. Doce ilusão.
Reunião do Mercosul em 2012 com Chávez, Dilma, Mujica e Cristina |
O sucesso
das medidas neoliberais da década de 1990 duraram isso mesmo, uma década. As
medidas implantadas debelavam a inflação e atraíam capitais, de fato. Mas
também produziram quebradeira de empresas, desemprego, recessão e em alguns
casos reprimarização de nossas economias. Aprofundou-se o grau de dependência
em relação aos países centrais. E a pobreza e a desigualdade aumentaram naquela
década. Finalmente em 1998 Hugo Chávez foi eleito presidente na Venezuela e
abriu a temporada de desmonte da grande frente neoliberal que comandava a
América Latina até ali. Depois dele, diversos partidos de esquerda, em seus
mais variados matizes, ganharam eleições e chegaram ao poder em Brasil,
Argentina, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Equador. E mais recentemente na
Nicarágua, El Salvador e Costa Rica.
Mas por
onde andariam, hoje, aqueles senhores que foram os ícones do sonho neoliberal
que campeou na América Latina há 15, 20 anos atrás? Aqueles que por um instante
deram a impressão, a seus povos, de que Francis Fukuyama estava certo e de que,
a partir da primazia da economia de mercado e da democracia liberal, havíamos
finalmente chegado ao “Fim da História”?
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