TARSO GENRO: FRENTE DE ESQUERDA NA DIVERSIDADE DA ESQUERDA

Sul21
Tarso Genro (Foto: Carta Maior)

Tanto é possível avançarmos para um novo período de conquistas populares no Brasil, como é possível enfrentarmos uma regressão neoliberal clássica.

Por Tarso Genro, no portal Carta Maior, de 27/12/2014

 
Como militante e quadro não arrependido do Partido dos Trabalhadores, mais ainda, como militante da esquerda histórica do Brasil que, como milhares de homens e mulheres da minha geração, vem da militância do período anterior a 64, quero compartilhar um debate que está aberto em diversas fontes de elaboração política. Creio que este é o debate mais importante do país, para o que acontecerá nas próximas décadas.

Em blogs, setores de partidos, organizações da sociedade civil, nos movimentos sociais e sindicais, bem como em setores da academia, abre-se o debate sobre uma “Frente de Esquerda”. Frente  que possa pensar,  no médio prazo, os novos movimentos de bloqueio às reformas neoliberais de segunda geração, que estão em curso na Europa (sociedade de consumo seletivo com setores médios integrados) e já com “sucesso” em  países próximos (como a Colômbia e o México) e, também,  possa acordar os contornos  programáticos do  próximo ciclo de lutas nacionais, desta feita mais concretamente contra as desigualdades da nossa estrutura de classes.

Penso que o governo Dilma - que nós do PT temos a obrigação de apoiar e viabilizar - eleito legitimamente dentro de um sistema  que obriga concessões programáticas para retomarmos o crescimento e obter mais avanços na inclusão social  - produtiva e educacional - esgotará o ciclo de combate às marginalizações mais agudas no Brasil. São exclusões originárias de um sistema de poder que organizou uma sociedade à semelhança da mentalidade colonial-escravista das nossas classes dominantes: a riqueza dos 1% mais ricos do país, em 2012, alcançou mais ou menos 68% da renda declarada.

As reformas feitas até o presente - e mais algumas que ainda poderão ser feitas nos próximos anos - somadas tirarão da miséria e da pobreza doentia, provavelmente 55 milhões de pessoas. É um feito histórico da ampla (e deformada) coalizão de forças,  que governa o país neste período, cujo legado passará, agora, para uma fase de disputa. Defender o governo Dilma é, para nós do PT, a defesa deste legado e também a disputa pela sua herança.

Dentro do sistema de controle global do capital financeiro sobre os Estados – através da dívida pública - e do controle exercido sobre a política (através do sistema de financiamento eleitoral e da mídia ideologicamente unitária) é possível avançar, na próxima década, na redução das desigualdades sociais? A pergunta mais clara: é possível substituir (ou fazer acompanhar) as políticas de “humanização” do capitalismo (políticas sociais-democratas limitadas), por políticas de caráter “socializante” (sociais-democratas de esquerda), mesmo dentro do sistema-mundo capitalista, que certamente vai perdurar? 
 

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