(Foto: Tijolaço) |
A mídia (hegemônica) é uma máquina monstruosa, que opera 24 horas por dia, em rádio, TV, jornais, internet.
Por Miguel do Rosário, no blog Tijolaço, de 30/11/2014 (o adjetivo "hegemônica" acrescentado aí acima é deste blog)
As eleições terminaram e, como era esperado, novos desafios surgem à frente, alguns bem mais complexos do que a disputa eleitoral em si.
Um dos desafios mais difíceis, naturalmente, é fazer a luta de ideias, num contexto onde o adversário, a direita, possui o monopólio dos meios de comunicação.
Neste sábado, por exemplo, os jornais amanheceram com um forte e eficiente ataque ao PT.
Chamada na primeira página: Vaccari é aplaudido em reunião do PT.
Título de matéria que ocupa a página 3 inteira: PT aplaude acusado de corrupção.
A matéria lembra que “o mesmo tipo de reação entre os petistas ocorreu na época do mensalão, que atingiu em cheio o então chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu”.
Na página de opinião, um artigo de Ana Maria Machado, famosa escritora de livros infantis, me fez lembrar demais os anos 60.
O artigo de Ana Maria Machado é 100% lacerdista, como pode se ver pela frase com que o encerra: dizendo que falta ao Brasil “vergonha na cara”.
E o que é lacerdismo?
É uma ideologia bastante pegajosa, porque todos concordam que há corrupção e que é preciso combatê-la, mas o lacerdista joga sempre a lama no outro, no adversário.
Nos anos 60, havia muitos escritores e intelectuais escrevendo exatamente a mesma coisa, nos mesmos jornais: Gustavo Corção, Alceu Amoroso Lima, etc.
Aliás, em 1964, e também em 1954.
Passada as eleições, onde a polarização mobiliza contingentes maiores da população, fortalecendo a esquerda, a mídia ganha força, porque ela tem a estrutura profissional e comercial para manter os ataques.
A mídia é uma máquina monstruosa, que opera 24 horas por dia, em rádio, TV, jornais, internet.
A blogosfera não é máquina. São blogs tocados por gente de carne e osso, ainda um pouco cansada de um processo eleitoral desgastante.
E que tateia, agora, em busca de um novo posicionamento, diante da nova conjuntura produzida pelas urnas.
A mídia não tem dúvidas. A blogosfera tem. A mídia é rápida, porque suas decisões vem de cima, numa estrutura extremamente verticalizada. A blogosfera, assim como a esquerda em geral, precisa de tempo para maturar a nova conjuntura e se posicionar. Não há hierarquia, e sim um horizontalismo democrático orgânico.
Qualquer eventual união política entre o público progressista nasce de um processo lento e duro de debates internos.
E a esquerda novamente está mergulhada num processo de profunda discussão interna.
Por isso, aliás, que lamento a comunicação da presidenta. Ela poderia participar desse debate, de maneira republicana e democrática, através dela mesma ou de um porta-voz ou secretário de imprensa.
Repare que a mídia jamais produz autocríticas. A direita, idem.
Aécio Neves é pintado apenas como um vencedor por seus seguidores, e pela mídia.
Dilma, por seu lado, parece engolfada no tradicional anti-clímax que se segue às eleições, quando todos os idealistas precisam despertar dos sonhos criados pelos debates, e cair na realidade triste e dura de um país ainda profundamente desigual, com uma política atrasada e truculenta.
Entretanto, se Dilma fizer os movimentos certos, se fizer o contraponto necessário aos ataques da mídia, por um lado, e estabelecer um diálogo construtivo com os próprios setores políticos que a apoiaram, ela poderá emergir muito mais forte.
O meu mantra tem sido: não acreditar mais em popularidade de Datafolha.
O governo tem de cultivar, democraticamente, uma base social sólida, orgânica.
No tocante ao problema de imagem, a esta tentativa da mídia de associar o PT a corrupção, e apenas o PT, blindando o PSDB, é preciso dar respostas imediatas.
O silêncio não é aconselhável.
É preciso responder de maneira rápida e inteligente todos os ataques da grande mídia ao governo.
Entretanto, nenhuma resposta verbal será eficiente por muito tempo se não forem tomadas, simultaneamente, iniciativas democratizantes, de impacto popular.
Aí não tem para ninguém.
A mídia vai espernear, vai gritar, mas vai perder o debate.
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