(Foto: AFP/Página/12) |
Os governantes perderam o controle sobre o medo, a fúria que desencadearam está se voltando contra eles. A raiva digna fará o México despertar e questionar.
Por Eduardo Galeano, no portal Carta Maior, de 05/12/2014
Os órfãos da
tragédia de Ayotzinapa não estão sós na obstinada busca de seus
queridos, perdidos no caos dos aterros incendiados e das valas cheias de
restos humanos.
Os
acompanham as vozes solidárias e sua presença calorosa em todo o
México, incluindo os campos de futebol onde os jogadores festejam seus
gols desenhando com os dedos o número 43 no ar, em homenagem aos
desaparecidos.
Em
meio a tudo isso, o presidente Peña Nieto, recém chegado da China,
advertia que esperava não ter de fazer uso da força, em tom de ameaça.
O
presidente ainda condenou ''a violência e outros atos abomináveis
cometidos pelos que não respeitam nem a lei, nem a ordem,'' ainda que
não tenha esclarecido que estes grosseiros poderiam ser úteis para a
fabricação de discursos ameaçadores.
O
presidente e sua esposa, de nome artístico ''Gaivota,'' fazem ouvidos
moucos para aquilo que não gostam de ouvir e desfrutam da solidão do
poder.
Foi
certeira a sentença do Tribunal Permanente dos Povos, pronunciada
depois de três anos de sessões e milhares de testemunhos: ''neste reino
da impunidade há homicídios sem assassinos, torturas sem torturadores e
violência sexual sem abusadores.''
Neste
mesmo sentido, foi entregue o manifesto dos representantes da cultura
mexicana, que advertiram: ''Os governantes perderam o controle sobre o
medo, a fúria que desencadearam está se voltando contra eles.''
De San Cristóbal de las Casas, o Exército Zapatista de Libertação Nacional declarou: ''é terrível e maravilhoso que os pobres que aspiram a ser professores tenham se convertido nos melhores professores, com a força de sua dor convertida em raiva digna, para que o México e o mundo despertem, perguntem e questionem.''
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