Rafael Correa, Presidente do Equador
“Todas as embaixadas têm adidos militares – disse Correa. – A maioria, tem
um. Mas aqui no Equador eles têm mais de 50!”
Nil Nikandrov |
Reproduzido (texto e fotos) aqui no Evidentemente a partir do site Democracia & Política, postagem de 31/12/2013.
Rafael Correa é um dos presidentes latino-americanos que os círculos governamentais norte-americanos consideram incontroláveis e, portanto, especialmente perigosos. Para livrar-se desse tipo de político [eleito], Washington usa um vasto arsenal de meios, desde interferir no processo eleitoral até a eliminação física. Depois da estranha morte de Hugo Chávez, que liderava a resistência latino-americana contra o Império, é Correa que, cada dia mais, vem sendo visto como seu sucessor, o líder de “forças populistas” no continente.
No centro das atividades de política externa de Correa, está o fortalecimento de organizações regionais latino-americanas nas quais não há representante dos EUA: a “Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos” (CELAC), a “União das Nações Sul-Americanas” (UNASUL), a “Aliança Bolivariana para os Povos da América” (ALBA) e outras. Correa sempre apoiou as iniciativas de Hugo Chávez que viabilizaram menor dependência da região em relação ao Império, o esvaziamento da Doutrina Monroe no Hemisfério Ocidental e a interação entre países latino-americanos com outros centros de poder. Nessa direção, o Equador está fixando um novo padrão e um exemplo, ao estabelecer relações amplas com China e Rússia nos campos político, econômico e militar. A presença dos EUA no país está diminuindo, e o governo Obama tenta romper essa tendência. O presidente Correa foi declarado principal responsável pela deterioração das relações EUA-Equador.
Foi Correa quem iniciou a campanha internacional contra a empresa [norte-americana] “Chevron”. A “Corte de Arbitragem” em Haia dispensou a empresa de ter de pagar multas de vários bilhões de dólares por poluir a bacia do Rio Amazonas em território do Equador. Correa não aceitou a decisão, que o Equador considerou humilhante e injustificada. Visitou pessoalmente a zona do desastre e mostrou a jornalistas e câmeras de televisão as mãos cobertas de óleo cru deixado a vazar num antigo ponto de extração, e disse: “Esse é o resultado de a empresa usar aqui tecnologias ultrapassadas”.
Correa conclamou os consumidores a não comprar produtos da “Chevron”. Um tribunal equatoriano acolheu processo iniciado por índios que habitam a área do desastre ecológico, que exigiu que a empresa pagasse multa de 19 bilhões de dólares em danos ao meio ambiente e contra a saúde da população. Fazendo bom uso da grande experiência que acumulou nesses processos, a “Chevron” conseguiu obter uma sentença favorável da “Corte Internacional de Arbitragem” em Haia.
UNASUL Rafael Correa é um dos presidentes latino-americanos que os círculos governamentais norte-americanos consideram incontroláveis e, portanto, especialmente perigosos. Para livrar-se desse tipo de político [eleito], Washington usa um vasto arsenal de meios, desde interferir no processo eleitoral até a eliminação física. Depois da estranha morte de Hugo Chávez, que liderava a resistência latino-americana contra o Império, é Correa que, cada dia mais, vem sendo visto como seu sucessor, o líder de “forças populistas” no continente.
No centro das atividades de política externa de Correa, está o fortalecimento de organizações regionais latino-americanas nas quais não há representante dos EUA: a “Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos” (CELAC), a “União das Nações Sul-Americanas” (UNASUL), a “Aliança Bolivariana para os Povos da América” (ALBA) e outras. Correa sempre apoiou as iniciativas de Hugo Chávez que viabilizaram menor dependência da região em relação ao Império, o esvaziamento da Doutrina Monroe no Hemisfério Ocidental e a interação entre países latino-americanos com outros centros de poder. Nessa direção, o Equador está fixando um novo padrão e um exemplo, ao estabelecer relações amplas com China e Rússia nos campos político, econômico e militar. A presença dos EUA no país está diminuindo, e o governo Obama tenta romper essa tendência. O presidente Correa foi declarado principal responsável pela deterioração das relações EUA-Equador.
Foi Correa quem iniciou a campanha internacional contra a empresa [norte-americana] “Chevron”. A “Corte de Arbitragem” em Haia dispensou a empresa de ter de pagar multas de vários bilhões de dólares por poluir a bacia do Rio Amazonas em território do Equador. Correa não aceitou a decisão, que o Equador considerou humilhante e injustificada. Visitou pessoalmente a zona do desastre e mostrou a jornalistas e câmeras de televisão as mãos cobertas de óleo cru deixado a vazar num antigo ponto de extração, e disse: “Esse é o resultado de a empresa usar aqui tecnologias ultrapassadas”.
Correa conclamou os consumidores a não comprar produtos da “Chevron”. Um tribunal equatoriano acolheu processo iniciado por índios que habitam a área do desastre ecológico, que exigiu que a empresa pagasse multa de 19 bilhões de dólares em danos ao meio ambiente e contra a saúde da população. Fazendo bom uso da grande experiência que acumulou nesses processos, a “Chevron” conseguiu obter uma sentença favorável da “Corte Internacional de Arbitragem” em Haia.
Mas Correa não desistiu. Obteve o apoio da UNASUL e da ALBA e conclamou a comunidade internacional a manifestar solidariedade ao Equador. Já não há propriedades da empresa “Chevron” no Equador, mas a multa exigida pelos equatorianos poderá ser paga com propriedades da empresa na Argentina, Brasil ou Canadá – o que implica graves consequências financeiras para a empresa.
O governo
Obama decidiu defender os interesses da Chevron a qualquer custo. Esse é um dos
fatores pelos quais está direcionando os serviços secretos dos EUA para que
deem solução radical ao “problema Correa”.
O presidente do Equador também trabalha contra o avanço da “Aliança do Pacífico”, um dos projetos geopolíticos dos neoliberais de Washington e que inclui México, Colômbia, Peru e Chile. A Aliança foi criada para neutralizar o bloco da ALBA, e a presença do Equador na ALBA não contribui para os objetivos estratégicos dos EUA naquela região do Pacífico.
A espionagem dos serviços secretos dos EUA contra o presidente do Equador é cada dia mais visível. Conversas telefônicas e comunicações em geral interceptadas no círculo mais próximo do presidente, de seus agentes de segurança e de sua escolta pessoal ajudam os norte-americanos a saber de todos os movimentos do presidente, eventos aos quais comparece, listas de participantes e sistemas de segurança. O monitoramento ininterrupto oferece farto material para identificar pontos de vulnerabilidade na organização da segurança. Recentemente, na sua já tradicional fala dos sábados, por televisão, o presidente Correa falou aos equatorianos sobre a suspeita concentração de pessoal militar na embaixada dos EUA em Quito.
“Todas as embaixadas têm adidos militares – disse Correa. – A maioria, tem um. Mas aqui no Equador eles têm mais de 50!”
Disse também que instruiu o Ministro de Relações Exteriores, Ricardo Patino, que:
(...) “verifique essa informação! Esse número gigante de militares norte-americanos aqui não é possível! Terão de reduzi-lo ao nível normal.”
O presidente também exigiu que seja investigado um incidente na fronteira Equador-Colômbia, de queda de um helicóptero equatoriano, com vários militares dos EUA a bordo. A preocupação de Correa é compreensível; a base dos EUA em Manta foi fechada em 2009, mas assessores militares do Pentágono e agentes dos serviços secretos dos EUA continuam a manter operações em território equatoriano sem qualquer limitação.
O presidente do Equador também trabalha contra o avanço da “Aliança do Pacífico”, um dos projetos geopolíticos dos neoliberais de Washington e que inclui México, Colômbia, Peru e Chile. A Aliança foi criada para neutralizar o bloco da ALBA, e a presença do Equador na ALBA não contribui para os objetivos estratégicos dos EUA naquela região do Pacífico.
A espionagem dos serviços secretos dos EUA contra o presidente do Equador é cada dia mais visível. Conversas telefônicas e comunicações em geral interceptadas no círculo mais próximo do presidente, de seus agentes de segurança e de sua escolta pessoal ajudam os norte-americanos a saber de todos os movimentos do presidente, eventos aos quais comparece, listas de participantes e sistemas de segurança. O monitoramento ininterrupto oferece farto material para identificar pontos de vulnerabilidade na organização da segurança. Recentemente, na sua já tradicional fala dos sábados, por televisão, o presidente Correa falou aos equatorianos sobre a suspeita concentração de pessoal militar na embaixada dos EUA em Quito.
“Todas as embaixadas têm adidos militares – disse Correa. – A maioria, tem um. Mas aqui no Equador eles têm mais de 50!”
Ricardo Patino |
Disse também que instruiu o Ministro de Relações Exteriores, Ricardo Patino, que:
(...) “verifique essa informação! Esse número gigante de militares norte-americanos aqui não é possível! Terão de reduzi-lo ao nível normal.”
O presidente também exigiu que seja investigado um incidente na fronteira Equador-Colômbia, de queda de um helicóptero equatoriano, com vários militares dos EUA a bordo. A preocupação de Correa é compreensível; a base dos EUA em Manta foi fechada em 2009, mas assessores militares do Pentágono e agentes dos serviços secretos dos EUA continuam a manter operações em território equatoriano sem qualquer limitação.
A
intensificação da espionagem e de atividades de subversão por agentes
norte-americanos no Equador é óbvia. Segundo informação obtida de especialistas
cubanos, divulgadas pelo site
“Contrainjerencia.com”,
só o número de agentes da CIA já dobrou, entre 2012-2013, na “base”
equatoriana. Dúzias de novos agentes chegaram ao país. Operam não só a partir
da embaixada dos EUA em Quito, onde há, no mínimo, uma centena de diplomatas
(!), mas também usam o consulado em Guaiaquil (a cidade mais populosa do país).
Para criar acomodações para o número crescente de agentes norte-americanos de
espionagem (“pessoal de inteligência”) nessa importante cidade portuária,
estrategicamente crucial, o Departamento de Estado teve de construir um novo
prédio para o consulado, o qual, segundo agência de inteligência que colabora
com o Equador, abriga o equipamento eletrônico da “Agência de Segurança
Nacional” dos EUA. O cônsul dos EUA em Guaiaquil é David Lindwall, chegado ao
país depois de ter servido no Iraque como “Conselheiro de Assuntos
Político-Militares”. Lindwall também serviu como Adido Político nas embaixadas em
Bogotá, Manágua, Tegucigalpa, Assunção e outras capitais latino-americanas.
O nome de Lindwall aparece com alta ocorrência nos telegramas diplomáticos
distribuídos por “WikiLeaks”. Qualquer rápida pesquisa nos telegramas assinados
por ele obriga a concluir que Lindwall é experiente funcionário de carreira da
CIA, muito informado sobre a América Latina, enviado ao Equador para resolver
problemas muito sensíveis.
O presidente Correa várias vezes falou dos EUA como “potência arrogante” que tenta impor ao mundo o que entende que sejam “valores democráticos universais” e vive a dar aos outros “lições de moral e boas maneiras”. O presidente, frequentemente, repete que os EUA têm um dos sistemas eleitorais mais imperfeitos do mundo, que permite a eleição de candidatos derrotados nas urnas. Correa considera “insultantes” as tentativas da “Agência de Desenvolvimento Internacional” (USAID) para impor padrões da democracia norte-americana ao Equador e outros países, como se fossem colônias dos EUA. Recentemente, ao comentar o fim do financiamento que a USAID dava a projetos no Equador, no valor de 32 milhões de dólares, Correa sugeriu, não sem sarcasmo, que Washington aplicasse a mesma quantia para aprimorar a democracia norte-americana.
O escritório da USAID está deixando o Equador, mas as operações de espionagem dos EUA para desestabilizar o país continuam. Ao que tudo indica, novos ataques nessa área podem estar em conexão com planos de Correa para reduzir o tamanho das forças armadas e transferir parte do pessoal militar para as agências policiais. “Exércitos de dissidentes” anônimos já divulgaram declaração hostil a Correa e suas “tentativas para tomar o lugar de Chávez no continente”. Até o palavreado indica quais são as forças por trás da campanha que está sendo lançada contra Correa.
Durante levante policial em setembro de 2010, o presidente do Equador foi apanhado no fogo cruzado de atiradores postados em prédios; daquela vez, escapou ileso. É perfeitamente possível que a inteligência dos EUA esteja planejando coisa semelhante para futuro próximo. Afinal, depois dos ataques contra New York em 2001, as agências norte-americanas de espionagem receberam carta branca para eliminar todos os declarados inimigos dos EUA. Ninguém cancelou essa ordem.”
FONTE: escrito por Nil Nikandrov, no “Strategic Culture”, sob o título “U.S. Intelligence Planning to Oust the President of Ecuador”. Artigo traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado por Castor Filho no “Redecastorphoto”.
David Lindwall |
O presidente Correa várias vezes falou dos EUA como “potência arrogante” que tenta impor ao mundo o que entende que sejam “valores democráticos universais” e vive a dar aos outros “lições de moral e boas maneiras”. O presidente, frequentemente, repete que os EUA têm um dos sistemas eleitorais mais imperfeitos do mundo, que permite a eleição de candidatos derrotados nas urnas. Correa considera “insultantes” as tentativas da “Agência de Desenvolvimento Internacional” (USAID) para impor padrões da democracia norte-americana ao Equador e outros países, como se fossem colônias dos EUA. Recentemente, ao comentar o fim do financiamento que a USAID dava a projetos no Equador, no valor de 32 milhões de dólares, Correa sugeriu, não sem sarcasmo, que Washington aplicasse a mesma quantia para aprimorar a democracia norte-americana.
O escritório da USAID está deixando o Equador, mas as operações de espionagem dos EUA para desestabilizar o país continuam. Ao que tudo indica, novos ataques nessa área podem estar em conexão com planos de Correa para reduzir o tamanho das forças armadas e transferir parte do pessoal militar para as agências policiais. “Exércitos de dissidentes” anônimos já divulgaram declaração hostil a Correa e suas “tentativas para tomar o lugar de Chávez no continente”. Até o palavreado indica quais são as forças por trás da campanha que está sendo lançada contra Correa.
Durante levante policial em setembro de 2010, o presidente do Equador foi apanhado no fogo cruzado de atiradores postados em prédios; daquela vez, escapou ileso. É perfeitamente possível que a inteligência dos EUA esteja planejando coisa semelhante para futuro próximo. Afinal, depois dos ataques contra New York em 2001, as agências norte-americanas de espionagem receberam carta branca para eliminar todos os declarados inimigos dos EUA. Ninguém cancelou essa ordem.”
FONTE: escrito por Nil Nikandrov, no “Strategic Culture”, sob o título “U.S. Intelligence Planning to Oust the President of Ecuador”. Artigo traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado por Castor Filho no “Redecastorphoto”.
O autor é
jornalista, sediado em Moscou, cobrindo a política da América Latina e suas
relações com os EUA; crítico ferrenho das administrações neoliberais sobre as
economias nacionais latino-americanas. Especializou-se em desmascarar os
esforços feitos pela CIA e outros serviços de inteligência ocidentais para
minar governos progressistas na América Latina. Autor de vários livros - tanto
de ficção e estudos documentais - dedicados a temas latino-americanos,
incluindo a primeira biografia em língua russa de Hugo Chávez. (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/12/servicos-secretos-dos-eua-trabalham.html).
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