(Foto: do culturapolitica.info)
Alcançada a infraestrutura mínima e a massificação dos usuários, é a construção de um sistema de
Artigo reproduzido do sítio culturapolitica.info, de 10/11/2014
Nos últimos anos, especialmente depois da massificação
sempre crescente da Internet, o jornalismo brasileiro encontrou as condições
tecnológicas para viabilizar um jornalismo que, por sua distribuição e
visualização terem um custo incomparavelmente menor do que o jornalismo
impresso, além de não precisar de concessões do Estado, como costuma ocorrer com
o jornalismo de rádio e TV, pôde dar um salto progressista que vem mudando o
panorama das discussões político-eleitorais no país, o que ficou mais do que
evidente nessa última campanha eleitoral de 2014. E daqui pra frente, quais são
as perspectivas para o jornalismo progressista, especialmente na Internet?
Em primeiro lugar, existe a questão da
infraestrutura, ou seja, a continuidade da expansão da cobertura da Internet no
país, além da sua velocidade de conexão e o seu custo. Em relação a esse
aspecto, a vitória da coalizão progressista nas eleições presidenciais de 2014
coloca essa questão em um rumo relativamente adequado à continuidade da
consolidação deste jornalismo, mantendo-se a acelerada expansão da Internet e
sua proteção, através de instrumentos como o Marco Civil da Internet. Ou seja,
não é a infraestrutura física o grande desafio do jornalismo progressista; é a
infraestrutura econômica.
Em que sentido? Na forma de se financiar o trabalho
realizado. Isso porque apesar dos custos de distribuição e visualização terem
caído drasticamente com a Internet, ainda existe o custo da produção
jornalística, que tem um importante componente de trabalho humano, além é claro
do custo dos equipamentos. Apesar desse custo existir, pela extraordinária
oportunidade de se fazer jornalismo de maior qualidade na Internet, muitos
jornalistas se lançaram nos últimos anos à Internet mesmo tendo nenhum ou
pouquíssimo retorno financeiro com isso. Esse processo produziu um avanço
significativo no jornalismo brasileiro, mas é fato que quando há retorno
financeiro, um profissional consegue dedicar muito mais tempo a uma atividade,
além do que nessa situação muito mais jornalistas poderiam se dedicar ao
jornalismo progressista na Internet. Sendo assim, muitos desses sítios na Internet
vêm tentando diversas formas de ter retorno financeiro.
Há três vertentes básicas nessas tentativas. Uma é o foco
em anúncios publicitários, privados e/ou estatais. Outra vertente é a
reivindicação de financiamento estatal não publicitário para os meios de
comunicação na Internet. A terceira vertente é o foco na captação de recursos
financeiros dos próprios usuários dos sítios jornalísticos. Na prática,
diversas combinações dessas vertentes podem ser vistas nos inúmeros sítios de
jornalismo progressista na Internet.
Apesar de algumas experiências terem tido um relativo
sucesso, não se pode dizer que o jornalismo progressista no Brasil encontrou
uma forma sustentável e aplicável em larga escala de se manter economicamente.
Assim, me parece que o grande desafio imediato do jornalismo progressista no
Brasil é encontrar um modelo geral, adaptável às especificidades de cada sítio,
que permita ter retorno financeiro a quem trabalha com isso. Construir esse
sistema é uma tarefa que cabe fundamentalmente aos jornalistas progressistas,
e, por que não, aos usuários deste jornalismo na Internet. Eu gostaria, neste
fim de artigo, de dar a minha sugestão.
Creio que os sítios de jornalismo progressista com grande
número de visualizações têm condições de instituir um financiamento através de
uma colaboração voluntária e de valor único e bem baixo, em torno de 4 reais ao
mês, de seus usuários. Com esse sistema, mantendo-se o conteúdo público,
acessível a qualquer pessoa com acesso à Internet, esses sítios poderão depender
de uma ampla base de colaboradores, cujo interesse será em geral ter acesso a
um bom jornalismo. Ao mesmo tempo, esse sistema demandaria dos sítios de
jornalismo progressista uma transparência quanto ao número de pessoas que
colaboram com esse valor, para que os colaboradores em potencial possam tomar
sua decisão de colaborar ou não da forma mais embasada possível.
É uma ideia que coloco para todos os que queiram que o
jornalismo progressista dê um novo salto quantitativo e qualitativo no Brasil.
Jornalistas e usuários deste jornalismo, vamos nos concentrar neste desafio de
construir um sistema de financiamento para o jornalismo progressista no Brasil?
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