Mario Vargas Llosa (Foto: Arquivo/Carta Maior) |
Ordem (velha ordem sistêmica) que sem discurso e sem projeto conta ainda com inteligência e poder para restaurar seu poderio. E que para consegui-lo aglutina informalmente um emaranhado de meios de comunicação e consultorias políticas, o chamado crime organizado e empresas de mercenários, gangues e assassinos recrutados nos pântanos do modelo neoliberal.
Em escala continental, nenhum campeão da ética e da moral republicana repudiou as declarações de Mario Vargas Llosa quando ele incitou a execução de Maduro.
Por José Steinsleger, La Jornada - reproduzido do portal Carta Maior, de 07/11/2014A democracia com adjetivos percorre caminhos novos na América Latina. Nunca aconteceu algo igual. Vamos identificá-la: socialista, bolivariana, cidadã, plurinacional, populista, progressista… Interessa debater qual seria a mais avançada ou sublinhar que todas foram estabelecidas pelas urnas, impulsionando projetos de transformação social que deixam para trás épocas menos afortunadas?
Imprevisível e complexa, a reacomodação das forças políticas e econômicas em escala global sugere a necessidade de apontar as conquistas alcançadas. Por conseguinte, vitórias eleitorais como as do Brasil, Bolívia e Uruguai mereceriam ponderações menos mesquinhas que seu aparente caráter pirríquio. Somam-se a processos similares que surgem no horizonte (Venezuela, Equador e Argentina), que poderiam entrar em uma etapa de estabilização após a crise econômica mundial.
Mas o inusitado radica nas potencialidades emancipadoras dos processos que, da América do Sul, transmitem fortes mensagens democráticas aos mais castigados do México e da América Central. Quadro colorido, em suma, que começa a dar conta de realidades sociais de múltiplas facetas e de alianças políticas dispostas a canalizar reivindicações, reclamações e direitos soterrados em 200 anos de frustrações republicanas.
No campo oposto, a velha ordem conservadora, que ontem criticava a escassa disposição democrática dos representantes dos povos na luta, e hoje deplora o fato de conquistarem com suas próprias regras espaços de poder. Fenômenos que em certas esquerdas acadêmicas (teimando em marcar as diferenças entre revolução e reformismo e em mudar o mundo, mas totalmente inúteis para mudar um simples plano de estudos) também são causa de mau humor, confusão e irritação.
Em alguns sites insurgentes, essas esquerdas (do século XX?) que anunciam o fim do ciclo progressista ou a iminente chegada da revolução anticapitalista subjaz um modo de ver as coisas que, paradoxalmente, subestima as forças vivas da velha ordem sistêmica. Ordem que sem discurso e sem projeto conta ainda com inteligência e poder para restaurar seu poderio. E que para consegui-lo aglutina informalmente um emaranhado de meios de comunicação e consultorias políticas, o chamado crime organizado e empresas de mercenários, gangues e assassinos recrutados nos pântanos do modelo neoliberal. Vejamos alguns casos.
Em escala
No Equador, o jovem Mauricio Rodas (quem chegou à prefeitura de Quito com o apoio de muitos inimigos do presidente Rafael Correa) começou a perder prestígio após seu suposto consultor, o mexicano Luis Ignacio Muñoz Orozco, ser acusado nos Estados Unidos de lavar dinheiro para o cartel de Sinaloa. Rodas é bem conhecido no México e é interessante revisar lista de mexicanos que estão na Fundación Ethos, que em seu site se apresenta como laboratório de ideias (Proceso, número 1983, 2/11/14).
Na Argentina, o jornalista Jorge Lanata (figura de proa do outrora progressista jornal Clarín, salpicado atualmente com sangue dos torturados e desaparecidos da ditadura militar) causou comoção ao humilhar o menino Casey Wander (11 anos) por ele ter manifestado em uma entrevista casual seu apoio ao kirchnerismo, com precisão e entusiasmo. O vídeo se tornou um viral. Então, Lanata (apresentador de um programa de televisão de grande audiência) o criticou publicamente dizendo que seus pais estavam estragando o menino. Cabe recordar que Clarín e Lanata são as "vítimas" preferidas da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) que, em suas reuniões semestrais condena a ausência de liberdade de expressão na Argentina.
No Chile, o ex-capitão do exército Augusto Pinochet (Molina), neto do ditador, anunciou a criação de um partido que espera consolidar como uma nova alternativa (sic) na política do país andino, e que teria como nome Orden Republicana mi Patria (Ordem Republicana minha Pátria), entidade patriótica, libertária e conciliadora que qualifica como fatos pontuais as violações dos direitos humanos cometidas entre 1973 e 1990.
Segundo Pinochet Molina, “…a ideia é expor uma nova opinião (sic); uma direita mais direita, sem nenhuma vergonha do que somos”. O site da Avanzada Nacional assegura que no ano passado foram reunidas mais de 20 mil assinaturas para registrar o novo partido político na região do Biobío.
(*) Escritor e jornalista argentino residente no México. Colunista do La Jornada
Tradução: Daniella Cambaúva
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