(Foto: Reprodução/Arquivo do Estado/Carta Maior) |
Sufocado pela mídia de todas as matizes políticas, Vargas reagiu articulando um jornal para o "povão" que o apoiava.
Por Marcos Dantas, professor titular da Escola de Comunicação da UFRJ - do portal Carta Maior, de 04/11/2014
Os acontecimentos mediáticos na reta final das últimas eleições, muito especialmente a caluniosa edição da revista Veja, na quinta-feira, há dois dias do pleito, buscando envolver a candidata Dilma e o ex-presidente Lula em acusações para lá de suspeitas feitas por um renomado contraventor, tornou ainda mais urgente discutir o perfil escandalosamente partidário e particularmente antipetista que os meios de comunicação assumiram no Brasil.
Não existe mais compromisso com a “neutralidade” ou “objetividade” da notícia. Não se ouvem mais “os dois lados”. E, pior, basta-se ler com atenção os textos das matérias para, não raro, constatar-se que, dois ou três parágrafos abaixo, o que está escrito não confirma, às vezes desmente claramente, a afirmação peremptória expressa no título grafado em letras garrafais.
Mais do que partidários, Veja, Folha de S. Paulo, O Globo e o “Jornal Nacional” da Rede Globo tornaram-se cínicos, nisto sendo acompanhados por quase todos os demais veículos impressos ou eletrônicos. Há exceções, mas não têm o mesmo poder de penetração ou audiência daqueles.
Não deixa de ser digno de nota que ainda assim a presidente Dilma Rousseff tenha obtido sua reeleição, embora a campanha contra ela desfechada pelos meios muito explique a sua reduzida margem eleitoral. Por outro lado, detendo há 15 anos mais da metade do eleitorado e sendo apoiado por uma parcela muito expressiva da opinião esclarecida brasileira, como explicar que, até hoje, não tenhamos entre os meios brasileiros aquele que represente as idéias, a visão de mundo, o projeto de Brasil que o PT e seus aliados políticos vêm vitoriosamente implementando.
Por que não temos entre nós, uma revista que sustente este projeto com a mesma circulação de Veja, um jornal com a mesma penetração da Folha, um canal de televisão que dispute audiência com a Globo, se, no entanto, mais da metade da população brasileira (e não é de hoje) discorda do que pregam e, tudo indica, pouco confiam no que divulgam?
Em toda a história do Brasil, registra-se um único caso de órgão de imprensa que logrou obter audiência, expressa em tiragem e circulação, correspondente, em termos relativos, ao de um amplo conjunto da população cujas opções políticas ou projeto de país não costumam ser apresentados ou representados pelos meios dominantes: a Última Hora.
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