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BRASIL: ESTAMOS QUASE DESARMADOS NA BATALHA CONTRA A MÍDIA HEGEMÔNICA
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(Foto: Internet) |
Não devemos
nos iludir: a hegemonia cultural da direita na sociedade brasileira, através dos
valores ditados pela TV, rádio, jornal e também pela internet, é esmagadora.
Assim, mesmo ganhando eleições, nunca avançaremos rumo a uma sociedade mais
justa, mais solidária e mais fraterna.
Por
Jadson Oliveira
(jornalista/blogueiro) – editor do blog Evidentemente (publicado
em 10/11/2014)
De Salvador
(Bahia) - O movimento democrático,
popular e de esquerda no Brasil e os governos de Lula/Dilma precisam reconhecer
cabalmente o quanto estamos desarmados diante da batalha contra a mídia
hegemônica. O espetáculo de manipulação e mentiras na recentíssima campanha
eleitoral, apesar de não ser novidade – talvez apenas um nível maior da
baixaria – e de ser um natural desenvolvimento do dia-a-dia “normal”, parece
ter ajudado a disparar o alarme na percepção de muita gente e, particularmente,
de Lula e da presidenta Dilma.
Me parece que os dois já avançaram,
finalmente, para a posição oficial do PT de que é necessário buscar a regulação
“econômica” dos meios de comunicação, visando acabar os monopólios e
oligopólios, como, aliás, determina a nossa Constituição de 1988. Mas não vamos
esquecer de que a distância entre o reconhecimento da necessidade e o botar
mãos à obra buscando tal regulação pode ser bem grande.
Não só devido ao tremendo poder dos
monopólios e às vacilações já bastante conhecidas de um governo que,
“naturalmente”, procura se equilibrar atraindo forças políticas do centro e da
direita e fazendo mais concessões econômicas aos setores que detêm, de fato e
secularmente, o poder (o grande empresariado, o capital financeiro, etc, etc,
com quem a “mídia gorda” está associada).
Não só devido a isto, repito, mas muito
especialmente devido à fraqueza daí decorrente do movimento democrático,
popular e de esquerda. Um movimento que foi enfraquecido inclusive pelos
governos apelidados de “petistas” (na verdade uma mixórdia de centro-esquerda,
centro, direita e ultra-direita), vítima da cooptação, desmobilização e
acomodação no bojo dum processo de despolitização (suicida, do ponto de vista
da esquerda) que vem apodrecendo a sociedade brasileira.
Ultimamente li dois artigos interessantes ressaltando
o fio da navalha por onde passamos diante da ameaça iminente de retrocesso com
a possível vitória de Aécio, ou seja, com a ameaça da direita chegar com força
total, TAMBÉM, ao Poder Executivo: ‘Por que a Dilma quase perdeu (E o que fazer
para não correr mais esse risco)’ e ‘O frio na barriga teria sido evitado se
houvesse lei de meios’, ambos no portal Carta Maior, de dois valorosos
cientistas sociais, Emir Sader e Laurindo Lalo Leal Filho, respectivamente.
Emir Sader chega a uma conclusão que
considero fundamental: “Essa a primeira e principal reforma que o Brasil
precisa implementar”, diz ele após mencionar a necessidade de se democratizar a
comunicação e de “fortalecer exponencialmente as mídias publicas já existentes
e os meios alternativos de comunicação – as rádios, as TVs, a internet, os jornais”.
“A primeira e principal reforma”, diz ele e
eu acrescento reforçando: porque imagine, por exemplo, a que reforma política
(uma proposta hoje na pauta) vamos chegar com um Congresso Nacional ainda mais
dominado pela direita como saiu desta última eleição; e com os monopólios da
mídia desconstruindo e estigmatizando qualquer coisa que cheire a uma reforma
democrática e popular, que cheire a uma conquista de um sistema eleitoral menos
corrupto, inclusive, claro, com o fim do financiamento das campanhas pelas
empresas.
(Por falar nisso, o ministro Gilmar Mendes
está segurando o processo sobre o tema, já com a votação garantindo a vitória
contra o financiamento: um escândalo sobre o qual a chamada grande imprensa
silencia).
Daí que temos de ser mais enfáticos em
realçar que estamos quase desarmados na batalha contra a mídia hegemônica. O
“quase” vai por conta dos nossos bravos blogueiros “progressistas” (ou “sujos”),
os quais, creio, já têm atualmente um peso razoável. É bastante observar o
papel que jogaram na campanha eleitoral desmascarando farsas como Marina e
Aécio. E também alguns outros sites e alguns veículos "de papel" como as revistas Carta Capital e Caros Amigos e o jornal Brasil de Fato.
Temos, então, de ser mais enfáticos. Ouso
afirmar – me desculpem a pretensão - que não cabe dizer, como diz nosso Emir
Sader, que é preciso “fortalecer exponencialmente” as mídias públicas e os
meios alternativos. O que é preciso, sim, é CONSTRUIR mídias públicas e meios
alternativos. Botar na cabeça que não temos quase nada, não temos o poder da
palavra, não temos o poder de falar às grandes massas e as grandes massas não
têm meios pelos quais possam se expressar livremente.
Conclusão: temos que CONSTRUIR uma mídia
contra-hegemônica, além de lutar pela regulação econômica do setor. Sem isso, somos tal e qual um exército sem armas.
Exemplo da
nossa indigência: ao se defender uma lei de
democratização da mídia, gastamos a metade do tempo em dizer, reiterar, repetir
à saciedade, que estamos defendendo a liberdade de expressão para todos, para o
povo, não só para as empresas de comunicação; que somos contra a censura, que
fomos nós – e não a Globo e os jornalões – que lutamos durante a ditadura
contra a censura.
Por que temos que bater e rebater nessa
tecla? Porque os donos da palavra são eles, os monopólios, e eles já encheram a
mente e o coração da sociedade da versão deles, segundo a qual os “petistas”
querem controlar a imprensa, querem implantar a ditadura, querem censurar a
imprensa.
Regulação econômica é conversa pra boi
dormir, o governo “petista” quer mesmo é controlar a imprensa, o conteúdo dos
noticiários, dizem os monopólios e são ouvidos pela maioria, pois eles têm a
maioria dos meios de comunicação e podem construir (vêm construindo há muito
tempo) a hegemonia ideológica e cultural na sociedade.
Não devemos nos iludir: a hegemonia cultural
da direita na sociedade brasileira, através dos valores ditados pela TV, rádio,
jornal e também pela internet, é esmagadora. Assim, mesmo ganhando eleições,
nunca avançaremos rumo a uma sociedade mais justa, mais solidária e mais
fraterna.
Provocação final: o que você acha, numa
conjuntura dessa, dos governos Lula/Dilma manterem uma política de perseguição
às poucas rádios e TVs verdadeiramente comunitárias?
Comentários
- Valeu Jadson. Muito bom seu artigo. Aliás, digo mais, ainda não li artigos de blogueiros "sujos" sobre o tema, melhor que o seu. Parabéns. Vou enviá-lo aos meus amigos. Grande abraço. -