Dilma, ao lado do seu vice Michel Temer, ao fazer o discurso da vitória (Foto: em.com.br)
Foi um
desfecho vergonhoso depois de tanta tensão diante da frenética campanha
eleitoral encetada pela revista Veja, em conluio com a Rede Globo e os
jornalões Folha, Estadão e O Globo.
Por
Jadson Oliveira,
jornalista/blogueiro – editor do blog Evidentemente
De Salvador
(Bahia) – Não adiantou a consigna
gritada pela militância petista, que, no sufoco diante do crescimento das
forças de direita nessas eleições, parece ter dado sinais de renascimento nos
últimos lances da campanha eleitoral: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.
A presidenta Dilma, reeleita pela mais
estreita margem desde que o PT e seus aliados iniciaram a série de quatro
vitórias em eleições presidenciais, a partir de 2002, escutou o clamor dos
militantes, fez ouvidos de mercador, e continuou, impávida, sua cantilena
protocolar de agradecimento pela vitória.
De substancial somente a reafirmação da
prioridade da luta pelo plebiscito popular em busca da Constituinte exclusiva
para a reforma política. Menos mal. O resto foi bolodório óbvio. Não é à toa
que os apresentadores/comentaristas da TV Globo tenham observado ter sido um
bom discurso.
Foi realmente um desfecho vergonhoso depois
de tanta tensão diante da frenética campanha eleitoral encetada pela revista
Veja, em conluio com a Rede Globo e os jornalões Folha, Estadão e O Globo,
utilizando de forma deliberada e planejada os tais vazamentos de depoimentos de
réus envolvidos em falcatruas na Petrobras, vazamentos feitos oportunamente num
inquérito classificado oficialmente de sigiloso e réus atuando sob o signo da
tal delação premiada.
E tensão especial durante o dia de sábado,
véspera das eleições, quando a campanha de Dilma estava bloqueada, emudecida, pois
não tinha mais o espaço do horário de propaganda eleitoral para se manifestar,
e indefesa diante do aparato midiático tradicional – rádios, TVs e jornais -,
todo ele a serviço dos donos da palavra, todo ele submetido aos ditames do
pensamento único, ou seja, a serviço da direita e do seu candidato Aécio Neves.
Tal tensão do sábado chegou ao paroxismo
quando finalmente, depois de passada a sexta-feira, a Rede Globo armou-se de
coragem e repercutiu no Jornal Nacional do sábado, véspera da votação, a
manjada capa da Veja: Dilma e Lula sabiam de tudo sobre a roubalheira na
Petrobras.
A sensação, nítida, era de um governo cuja
candidata se aventurava no campo de batalha desarmada, uma vocação suicida, uma
irresponsabilidade diante de uma grande nação latino-americana que se arriscava
a um retrocesso impensável. Não tinha meios de comunicação para se comunicar
com os eleitores. Apelar ao TSE? Sim, apelou-se, mas com parcos resultados. E
se a questão chegasse ao Supremo Tribunal Federal? Aí os resultados poderiam
ser até piores.
Os nossos blogueiros chamados progressistas
(ou “sujos”, nome cunhado pelo José Serra) chiaram, gritaram, denunciaram, resistiram
heroicamente (creio que alguns deles dormiram pouco nesses dias). Nos seus
artigos havia sempre – explicitamente ou subjacentemente – a ideia de que: ah!
num segundo mandato da Dilma, caso vençamos mesmo esta, a coisa certamente será
diferente, o governo e o movimento democrático e popular terão de criar
instrumentos eficazes para fazermos o enfrentamento midiático, teremos que
fazer a regulação “econômica” da mídia (como a Dilma chegou a dizer durante a
campanha), teremos que criar instrumentos eficazes da mídia contra-hegemônica.
Vale enfatizar – lembram alguns oportunamente
– que até o nosso Lula já andou declarando que doravante se tornaria um militante
da causa pela democratização dos meios de comunicação.
Pois sim! Na hora do discurso de
agradecimento pela vitória – ou do alívio diante da apertada vitória -, nossa
presidenta, reeleita, se “esqueceu” de tocar em assunto tão decisivo, apesar da
militância entoar, em áudio nitidamente audível, ao vivo, na cobertura da
própria Rede Globo: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.
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