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(Foto: Página/12 |
“Se você é capaz de tremer de indignação a
cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros” – Che Guevara
Acredito
que a maioria dos que professam esse antipetismo exacerbado o faz devido às
qualidades dos governos petistas e não devido aos seus defeitos.
Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – editor do
blog Evidentemente
De Salvador
(Bahia) - Acabei de ler um texto e
fiquei impressionado: um nascido em berço de ouro, como se diz, de família
paulistana tucaníssima – seu nome é Rafael Cardone – fala, de coração, que sua
vida, de sua família, de seus amigos e vizinhos, continua boa e reconhece que o
que mudou com os 12 anos de governos de Lula/Dilma, para melhor, foi a vida do
povo mais necessitado do Brasil. Simples, simples: minha vida continua boa e a
vida dos mais pobres melhorou, então por que não votar na Dilma? (aqui o link,
no Viomundo: “O depoimento de um tucano que bateu as asas e deixou o ninho”).
Agora eu pergunto: por que tanto ódio contra o
PT e os petistas (nem revolucionários eles são)? Fico admirado de ler na blogosfera/redes
sociais a expressão de tanto ódio e tanta intolerância, vindos inclusive de
pessoas que conheço (ou conheci), pessoas boas, normais, humanas, que viveram a
ditadura, se revoltaram contra a ditadura, contra a censura da ditadura. Em
nome desse ódio, alguns que sentiram na própria carne o terror que é uma
ditadura até se dispõem a votar num candidato explicitamente de direita,
neoliberal, apoiado pelo império estadunidense.
É difícil conviver com tanto fel. Essa
revolta seletiva contra a corrupção, repetindo o “mar de lama” assacado contra
Getúlio Vargas e a campanha contra o “corrupto e incompetente” João Goulart. Passam
o borrão no fato notável de que os governos petistas foram os primeiros que
criaram, em 500 anos de tenebrosa história, estruturas institucionais capazes
de combater a corrupção, os corruptores e a impunidade. A luta é dura, mas
avançamos um pouco nisso.
Já escrevi aqui neste meu blog que acredito
que a maioria dos que professam esse antipetismo exacerbado o faz devido às
qualidades dos governos petistas e não devido aos seus defeitos. E olhe que os
defeitos dos governos Lula/Dilma não são pequenos, pelo menos do ponto de vista
de uma esquerda que considero mais consequente: conluio com políticos
direitistas corruptos, abandono da reforma agrária, cumplicidade com o grande
empresariado (transnacionais, banqueiros, agronegócio, empreiteiras,
mineradoras), cumplicidade e financiamento dos monopólios da mídia hegemônica
(mesmo apanhando todo dia deles).
Tudo isso combinado com a despolitização da
sociedade, a criminalização da política e dos movimentos sociais, a acomodação
dos sindicatos dos trabalhadores e a desmobilização popular.
Já temos aí muitos defeitos, e certamente há
mais. Mas não é por isso que a maioria da classe média odeia o que eles chamam
petismo, petistas, lulopetismo, os mais ensandecidos chamam petralhas. O ódio –
da maioria, friso – vem de carona na carroça carregada de coisas boas para os
mais pobres: melhores salários, mais empregos, política de valorização do
salário mínimo, mais inclusão social, pobres e negros nos shoppings, nos
aeroportos, nas universidades, nos cursos técnicos, médicos (até cubanos, ave
Maria!) e luz elétrica nos grotões deste imenso país, mais facilidades para o
menos rico comprar casa própria, crédito para compra de geladeira, computador,
roupa de lavar, etc, etc.
Creio, como já frisei, que se enquadra nisso
uma maioria da classe média, cuja cabeça parece cada vez mais envenenada pelas
nossas TVs, rádios, jornais e seus sites na Internet, destilando diariamente
doses mortais de violência, intolerância, racismo, sexismo, preconceitos contra
as chamadas minorias, valores como o consumismo, individualismo, egoísmo, o
vale-tudo por dinheiro. Sem esquecer a arrogante meritocracia, que justifica os
privilégios dos ricos, brancos e bonitos, porque afinal os pobres são os únicos
culpados pelas suas provações neste vale de lágrimas.
Mas há uma parte, talvez pequena, de gente
que anda vomitando ódio e agressividade contra o “petismo” que é formada por
gente que podemos classificar de normal, gente boa, gente que deve se lembrar
de que o bom desta vida é gostar das pessoas, é conviver alegremente com as
pessoas, inclusive as que pensam de maneira distinta. Gente que parece ter se
esquecido de que há valores perenes do que podemos chamar de humanismo, valores
que nos tornam certamente mais felizes, como amor, amizade, solidariedade,
fraternidade, será que não somos mais felizes sendo menos desiguais
socialmente, economicamente?
Será que os jovens não seriam mais felizes e
cheios de esperança se - ao invés de vitaminados pelo ódio através da mídia
predominante -, estivessem impulsionados por sonhos generosos próprios da
juventude, sonhos de igualdade e justiça social, sonhos de uma bela utopia
social?
Outro dia vi no Facebook um vídeo com uma
bela moça gritando que votava no Aécio porque “eu sou rica”. Uma loucura! Será
que ela é mais rica do que o rapaz de espírito humanista do depoimento referido
logo no início deste texto?
E reparem que esse processo político iniciado
há 12 anos no Brasil é marcadamente conciliador, inclusive liderado por um
mestre da conciliação chamado Luiz Inácio Lula da Silva, o popular Lula. Embora
um nordestino mal-nascido, um analfabeto, como dizem os da chamada elite, não
deixa de ser um mestre da conciliação, característica básica da nossa história
(talvez isso ajude a explicar o seu grande sucesso).
Agora, imaginem se estivéssemos vivendo um
processo político revolucionário, uma luta francamente anticapitalista, em prol
de algum tipo de socialismo? Imaginem! A luta de classes aflorando francamente,
soltos todos os anjos e demônios. Aí o pau ia quebrar! Seria “a volta do cipó
de aroeira no lombo de quem mandou dar”.
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