Valeria Silva: "Brasil é imprescindível para um mundo multipolar" |
Protagonistas no governo de Evo
Morales, movimentos sociais bolivianos preocupam-se com o país vizinho: “Aécio
Neves seria um duro golpe na integração latino-americana”.
Por Felipe Bianchi dos Santos e Lidyane Ponciano (foto), de La
Paz – reproduzido do sítio web ComunicaSul, de 10/10/2014
“Se perdermos
o processo de mudanças sociais que existe no Brasil, perderemos muito em toda a
América Latina”, decretou Valeria Silva, nesta sexta-feira (10), em La Paz,
Bolívia. A historiadora, cientista política e representante da Generación Evo,
“fenômeno” que tem agrupado de forma massiva a juventude engajada na transformação
pelo qual passa a nação andina, avalia que “a volta do neoliberalismo significa
o fim da soberania do povo brasileiro”.
Conforme
defende a jovem - Valéria tem 24 anos e concorre, nas eleições gerais de 2014,
a uma vaga como deputada suplente pelo Movimiento
al Socialismo (MAS) –, o Brasil é referência no continente pela sua incidência
internacional. “O que acontece no país reflete em todos os vizinhos”,
argumenta. “Hoje não temos presença ou ingerência estrangeira no Brasil, na
Bolívia, na Venezuela, no Equador. Se o Brasil voltar a flertar com o
imperialismo, o que fatalmente acontecerá caso a direita triunfe, tenham
certeza de que tentarão derrubar a todos”.
Yeanet
Villegas Oblitas, comunicadora da Confederação Sindical Única dos Trabalhadores
Camponeses da Bolívia (CSUTCB) e apresentadora do canal Bolívia TV, faz análise
similar. Para ela, a interrupção do projeto popular brasileiro é um golpe à
integração latino-americana. “Se não tivermos o Brasil ao nosso lado,
perderemos em todos os sentidos. Boa parte da integração do continente,
política, econômica e cultural, passa pela importância do Brasil,
principalmente pelas transformações promovidas por Lula e, depois, por Dilma
Rousseff”, aponta. “A volta do neoliberalismo seria trágica para todo o
continente”.
Evo, Lula e o
gás
Valeria Silva
recorda o episódio envolvendo o governo de Evo Morales e a Petrobras para
exemplificar a importância da solidariedade entre os governos e povos de ambos
os países. “O neoliberalismo fez contratos péssimos, que praticamente
entregavam nosso gás aos compradores. O que o próprio Evo explicou para o povo
boliviano foi que vendíamos o gás com determinados componentes que saíam
praticamente de graça. Então, pediu a Lula para renegociarem e que o país
vizinho pagasse um preço justo, levando em conta todos os componentes que
estavam adquirindo. Lula, que consideramos um irmão de nossa gente, concordou e
disse a revisão era justa, de fato. Na mesma linha política veio o governo
Dilma, que manteve o acordo. No caso de uma guinada neoliberal, dificilmente os
contratos serão renegociados.
“Somos
internacionalistas”, declara a jovem boliviana. “Para nós, a revolução só é
possível com articulação regional e o Brasil é imprescindível para os processos
de mudança na Bolívia e em todos os países que desejam um mundo não unipolar,
nem bipolar, mas multipolar”.
Se Aécio Neves vencer,
avalia, "ressurgirão temas como bases militares estadunidenses no país e
as fronteiras voltarão a se manchar de sangue, com perseguições em uma suposta
guerra contra o narcotráfico que a própria direita controla". Derrotar o
neoliberalismo “não é votar apenas por suas famílias ou porque agora suas casas têm luz, mas votar por todos os povos
latino-americanos e por todos os mortos vitimados pelo imperialismo”.
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