ELEIÇÕES BRASIL 2014: MARILENA CHAUÍ SE DIZ ESTARRECIDA E PROPÕE ESTUDO DE CASO SOBRE REELEIÇÃO DE ALCKMIN
Marilena Chauí (Foto: Spresso SP) |
Ela alerta para o trabalho feito pela mídia tradicional pela despolitização da sociedade
Por RBA - reproduzido de Spresso SP - O site de São Paulo, de 06/10/2014
A filósofa
Marilena Chauí propõe que acadêmicos somem esforços para tentar entender
os motivos que levaram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a
conquistar um novo mandato nas eleições realizadas ontem (5). Em entrevista à Rádio Brasil Atual,
a professora da USP afirmou ter proposto ao presidente da Fundação
Perseu Abramo, o economista Marcio Pochmann, que estude ao longo dos
próximos quatro anos os processos que explicam que o PSDB possa chegar a
mais de duas décadas de comando do Palácio dos Bandeirantes.
“O PSDB tem uma
monarquia hereditária. Alguém precisa entender o que acontece em São
Paulo. A reeleição do Alckmin no primeiro turno é uma coisa
verdadeiramente espantosa”, avaliou. Para ela, é difícil explicar como o
governador obtém seu quarto mandato em meio a racionamento de água,
denúncias de corrupção e problemas sérios na gestão pública, como a
perda de qualidade do Metrô paulistano, alvo de denúncias de formação de cartel e pagamento de propina a políticos do PSDB.
“Por que fico
estarrecida? Porque você teve milhares e milhares e milhares de jovens
nas ruas pedindo em São Paulo mais saúde e mais educação. Se você pede
mais saúde e mais educação, considera que são direitos sociais e que têm
de ser garantidos pelo Estado. E aí você reelege Alckmin. Estou
tentando entender como é possível você reivindicar aquilo que é negado
por quem você reelege.”
Ela avalia que o
PSDB trata políticas públicas não como direitos, mas como um produto
que a população deve ter recursos financeiros para adquirir. Nesse
sentido, entende também que uma parcela da sociedade paulista enxerga os
avanços que teve ao longo de 12 anos de governo federal do PT não como
uma melhoria no papel do Estado, mas como um mérito individual. “Não há
nenhuma articulação entre a mudança de trabalhador manual para
trabalhador de serviços e as mudanças sociais no país. É visto como uma
ideologia de classe média, que é a do esforço individual.”
Marilena Chauí
considera que ainda é cedo para estabelecer uma relação entre o saldo
final das manifestações de junho e o alto número de abstenções e de
votos brancos e nulos – 19,39% se abstiveram, 3,84% votaram em branco e
5,80% em nulo. De outro lado, ela avalia que o resultado geral das
eleições de ontem, com crescimento de Aécio Neves (PSDB) na reta final
da corrida
presidencial e diminuição da representação dos trabalhadores no
Congresso, tem um claro reflexo do trabalho feito pela mídia tradicional
pela despolitização da sociedade.
“Uma das coisas
que mais têm acontecido no país é um processo realizado pela grande
mídia, tanto impressa como falada como televisiva, é um processo que vem
vindo nos últimos oito anos, e sobretudo nos últimos quatro, de
esvaziamento sistemático de toda e qualquer discussão política. Você tem
a operação da comunicação por slogan e algumas imagens. Fora disso você
não tem o verdadeiro debate político. Eu diria que os partidos
políticos são responsáveis também pela ausência de um grande debate
político. Ou porque não têm o que propor, ou porque não querem entrar
neste debate.”
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