Representantes dos familiares dos 43 normalistas desaparecidos exigem respostas de Peña Nieto (Foto: EFE/Página/12) |
O encontro entre o presidente
mexicano e os familiares durou cinco horas. “Se o senhor não se considera
competente para dar resultados, que venham da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos”, disse Felipe de la Cruz, um dos pais.
Por Gerardo Albarrán de Alba, da Cidade do México – no jornal argentino
Página/12, edição de hoje, dia 31
“A
confiança não se pede, a confiança se ganha”, alfinetaram os pais dos 43
estudantes desaparecidos ao presidente Enrique Peña Nieto durante uma reunião
de mais de cinco horas na residência oficial de Los Pinos. “O governo não se dá
conta de que o sofrimento não se negocia e que as vidas humanas não têm preço”,
disse Emiliano Navarrete, pai de um dos normalistas desaparecidos.
Após mais
de cinco horas de reunião entre Peña Nieto e os pais e mães dos 43 estudantes
desaparecidos, o governo mexicano avivou a frustração de boa parte da sociedade
ao por o manejo da crise de direitos humanos que despertou a preocupação
internacional acima da investigação que esclareça um dos maiores casos de
desaparecimento forçado no México nos últimos tempos.
“Lhe dissemos:
‘Não confiamos em seu governo, e se o senhor não se considera competente para
dar resultados, que venham da Comissão Interamericana de Direitos Humanos’”, disse
Felipe de la Cruz, outro dos pais. A dignidade destes camponeses, vítimas também
eles do desaparecimento de seus filhos, encurralou o presidente Peña Nieto, que
se viu obrigado a voltar duas horas depois ao salão onde se havia reunido com
eles, junto com o secretário de Governo, Miguel Angel Osorio Chong, e o
procurador geral da República, Jesús Murillo Karam, para colocar por escrito e
assinar a minuta com os 10 compromissos verbais que ele havia apresentado ao longo
do encontro realizado na residência oficial de Los Pinos.
Já avançada
a noite de quarta-feira, numa coletiva de imprensa no Centro de Direitos
Humanos Miguel Agustín Pro Juárez, representantes dos familiares e dos
estudantes normalistas reclamaram que “continua sem chegar a resposta que se
espera por parte do Estado mexicano”. Também foram claros ao condicionar um novo
encontro com o governo de Peña Nieto para que haja resultados reais na busca
dos estudantes vítimas de desaparecimento forçado em mãos da polícia municipal
de Iguala, no estado de Guerrero, desde 26 de setembro.
Antes, da
residência oficial de Los Pinos, o presidente Peña Nieto apareceu numa cadeia
nacional de rádio e TV com um discurso que apelou às emoções, não a expor ações
concretas de sua administração nem a demonstrar verdadeira vontade política. A
intenção da reunião com os familiares dos desaparecidos, disse ante as câmeras
de televisão, “busca gerar confiança”.
Com um
discurso que novamente ficou longe das expectativas, Peña Nieto resumiu as novas
promessas feitas durante o encontro: acedeu a buscar os 43 estudantes
desaparecidos, assumindo que continuam vivos, e já não apenas em fossas
clandestinas, como fizeram até agora; incorporar à investigação da PGR (Procuradoria
Geral da República) a equipe de forenses argentinos, que já está há várias
semanas no México, e aceitar pessoas de reconhecida idoneidade moral como coadjuvantes;
não dar espaço à impunidade; respeitar os direitos humanos de todos os estudantes
da Escola Normal Rural de Ayotzinapa e frear sua criminalização, assim como
reconhecer a importância das escolas normais rurais e dignificar suas instalações;
e criar uma comissão de acompanhamento com os familiares dos 43 estudantes
desaparecidos, os próprios normalistas de Ayotzinapa e representantes da
sociedade civil, junto com representantes da PGR e da Secretaria de Governo. E
ainda: para isso definiu controlar a informação das investigações com a
finalidade de evitar vazamentos aos meios de comunicação.
Continua em espanhol (com
traduções pontuais):
Los llamados “compromisos” que asumió públicamente Peña Nieto el
miércoles (na quarta-feira) es lo mínimo que los familiares de los
desaparecidos y amplias capas (camadas) de la sociedad han reclamado desde hace
ya 35 días en decenas de movilizaciones por todo el país y en cerca de medio
centenar de ciudades por todo el mundo. Por eso era importante para los
familiares que el presidente y sus funcionarios los pusieran por escrito y los
firmaran. “Las
palabras se las lleva el viento”, dijeron.
A tono con esa premisa, Peña Nieto apareció ante las cámaras hablando de
sí mismo en tercera persona. Dijo que “el presidente de la República por igual
está indignado por estos hechos”, y aseguró que su administración “asume por
igual la indignación y consternación que estos hechos no sólo han causado en
ellos como familias sino (también) a la sociedad mexicana”. El presidente fue
ridiculizado de inmediato en las redes sociales, donde varios preguntaron si
también participará en las siguientes marchas de protesta contra la ineficacia
de su propio gobierno.
En realidad, la tónica de la reunión fue el dolor, la angustia, la
consternación e indignación de los padres y madres de los 43 estudiantes
desaparecidos, pero sobre todo flotó la impaciencia porque aún no los han
encontrado.
“Yo me voy igual que como llegué. La reunión se da 33 días después, y no
porque (Peña Nieto) quisiera recibirnos, esto se logró por la presión de la
sociedad, no salió por él mismo. Me decepciona como gobierno que son, les falta
mucho para representar a una sociedad. Como le dije a él, yo no le vengo a pedir
un favor sino justicia como ciudadano mexicano que soy. Fueron personas de
gobierno quienes cometieron el atropello contra nuestros hijos”, explica
Emiliano Navarrete, padre de uno de los 43 estudiantes desaparecidos, y aplasta
toda demagogia con una lógica irrebatible: “Para mí no están desaparecidos,
porque no se perdieron solos. Se los llevaron contra su voluntad, hay gente que
sabe dónde están”.
Para Melitón Ortega, padre de otro estudiante desaparecido, Peña Nieto
“sale contento porque ya hay un acercamiento. No se da cuenta, él o (ou) algunas
personalidades políticas, de que el sufrimiento no se negocia, que las vidas
humanas no tienen precio”.
Lo ocurrido con los estudiantes normalistas de Ayotzinapa “es un crimen
de lesa humanidad”, dijo Felipe de la Cruz Sandoval, otro padre que tampoco
sabe qué fue de su hijo. Junto con los demás familiares hizo un llamado a la
sociedad “a mantener el dolor, la indignación, el coraje y la ira para exigir
que aparezcan nuestros hijos”.
Mientras tanto (Enquanto isso), el Estado mexicano sigue sin responder
la pregunta que el país –y el mundo– le plantea desde hace más de un mes:
¿dónde están los 43?
Tradução
(parcial): Jadson Oliveira
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