“Não temos que confundir a assinatura do acordo de paz com a chegada da paz”, afirma Nylander (Foto: Sandra Cartasso/Página/12) |
Entrevista com Dag Nylander, chefe da
equipe norueguesa que dá sustentação à mesa de diálogo pela paz: ele assinala
que os pontos em discussão entre o governo colombiano e a guerrilha se
relacionam com a justiça de transição, com as armas e as garantias para a
implementação dos acordos.
Matéria do jornal argentino Página/12, edição de hoje, dia 20
Os acordos de paz entre o governo da Colômbia e a guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) estão entrando numa fase decisiva. Nesta semana, as partes voltarão a se encontrar em Cuba para tratar do tema das vítimas do conflito, o quarto dos seis pontos a discutir. “Os pontos para se chegar a um acordo são complicados, porque têm a ver com a justiça de transição, com armas, com reformas e garantias para a implementação dos acordos. Que tipo de garantias vão estabelecer as duas partes para assegurar a todos os colombianos que os acordos se cumpram. É algo crucial”, garantiu ao Página/12 Dag Nylander, chefe da equipe norueguesa que dá sustentação à mesa de diálogo pela paz.
As conversações começaram formalmente em Oslo, Noruega, em 18 de outubro de 2012, antes de se transferir a Havana poucas semanas depois. “Noruega teve uma longa história de trabalho com os colombianos, de várias décadas, dando nosso apoio às tentativas de diálogo entre o governo e a guerrilha. O governo da Noruega tem uma política de apoiar processos de paz, onde possamos fazê-lo, inclusive em países distantes. Para nós é importante que se resolvam os conflitos, porque os resultados não somente tocam ao país em questão, mas têm também repercussões internacionais. Estamos também numa situação em que temos a capacidade de dar esse apoio, e quando as partes nos convidam aceitamos com muito prazer dar a nossa contribuição”, disse o facilitador dos acordos, que participou recentemente do seminário “A paz na Colômbia”, organizado pela Universidade Torcuato Di Tella e pelo Centro Norueguês para a Construção da Paz (Noref).
De fato, a Noruega auspiciou os falidos diálogos de paz entre o governo do ex-presidente Andrés Pastrana e as FARC entre 1998 e 2002. Agora, o país escandinavo é, junto com Cuba, novamente garantidor dos acordos. Já o Chile e a Venezuela atuam como países acompanhantes. “Reconhecemos que estes três países têm capacidade para analisar a situação atual e a situação histórica muito melhor do que a Noruega, que não é um país da região, com uma cultura diferente. Temos uma cooperação muito boa e profunda com Cuba. A mesma coisa com o Chile e a Venezuela, os países acompanhantes. Isto é algo que valorizamos muito”, sublinhou Nylander.
Até o momento, as partes consensuaram três pontos da agenda: reforma agrária, participação política do grupo guerrilheiro e narcotráfico. “As partes identificaram estes três pontos entre muitos outros como necessários para serem resolvidos na mesa de negociações. Nenhum acordo seria completo sem algum destes pontos”, avaliou o chefe da delegação norueguesa. Resta pela frente o tema das vítimas, que será tratado nesta sexta-feira, além dos pontos do desarmamento e do mecanismo de referendo do eventual acordo.
Continua em espanhol (com traduções pontuais):
Sin embargo (No entanto), las negociaciones generan una polarización entre los colombianos, algo que fue demostrado en las últimas elecciones presidenciales, en las cuales el actual mandatario, Juan Manuel Santos, obtuvo un apretado triunfo contra el candidato del uribismo, Oscar Iván Zuluaga, contrario a los acuerdos de paz. “En cualquier proceso de paz de esta magnitud va a haber gente que lo apoye y aspectos con los que no todo el mundo va a estar de acuerdo. En toda sociedad hay gente que apoya muy fuertemente, otra que no apoya tan fuertemente y otros sectores que son muy críticos con el proceso y con los resultados”, dijo Nylander, aunque sostuvo que la mayoría de los colombianos quiere la paz. “La sociedad civil colombiana es muy activa y siempre se ha organizado alrededor del proceso a través de diferentes grupos y comisiones políticas. Tiene un discurso de apoyo, si bien con críticas, a la paz. Es una sociedad que está participando a través de los diferentes mecanismos que las partes han acordado para recibir aportes de la sociedad civil”, añadió (acrescentou).
Asimismo, Nylander calificó la aplicación de los acuerdos de “factor crítico”. “No hay que confundir la firma (a assinatura) del acuerdo de paz con la llegada de la paz. Hay que implementar muchos recursos que implica respetar los mecanismos y garantías que se acordaron en la mesa. El escenario posconflicto ideal tiene que definirlo la sociedad colombiana. Los colombianos tendrán que decidir qué tipo de acuerdo, qué tipo de sociedad y qué tipo de democracia quieren”, apuntó.
En tanto, deslizó que Noruega podría oficiar de garante en un futuro proceso de paz entre el gobierno y el Ejército de Liberación Nacional (ELN), la segunda guerrilla de Colombia. Ayer (Ontem), el grupo guerrillero subió a su página web un video en el que confirmó que prosiguen los encuentros con funcionarios del gobierno para avanzar en el diálogo. “Está en proceso un diálogo exploratorio entre el gobierno de Colombia y el ELN. Ellos están definiendo cómo lo van a llevar adelante. El proceso formal está abierto. Claro, el proceso de paz con las FARC está bastante avanzado y sirve como ejemplo para lo que viene. Pero las dos (duas) partes, tanto el gobierno como el ELN, tienen que ponerse de acuerdo primero bajo (sob) qué marco van a negociar. Hemos tratado de apoyar este intento. Siempre que las partes en conflicto nos piden cooperación – expresó Nylander –, lo valoramos como positivo.”
Entrevista: Patricio Porta
Tradução (parcial): Jadson Oliveira
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