Marina e FHC (Foto: Escrevinhador) |
“Marina, tu costeaste o alambrado”, diria o velho Brizola. Costeou o alambrado, passou para o outro lado. Assumiu o programa do desemprego tucano, virou um cruzamento “exótico” de FHC com o pastor Malafaia.
Por Rodrigo Vianna, no seu blog Escrevinhador, de 03/09/2014 (artigo
recomendado pelo velho companheiro Geraldo
Guedes, advogado de Brumado-Bahia)
Marina Silva, em crescimento vertiginoso segundo todas as pesquisas (bobagem achar que estejam todas erradas), não é um raio em céu azul. Não é um acidente de percurso.
Ela representa a restauração conservadora. Ela oferece um rosto para a “não-política” que explodiu em junho de 2013. Mas que vem de longe…
Como já escrevi aqui, Marina tem uma trajetória respeitável e em muitos momentos lutou contra as injustiças no Brasil. Mas quem conhece meia dúzia de livros de História sabe que os indivíduos nunca são aquilo que gostariam ou que afirmam ser. Muitas vezes, no meio do turbilhão da história, acabam por cumprir um papel em tudo diverso do que haviam reservado para si mesmos.
Marina pode bater no peito e dizer: “sou o novo”. Não é. Infelizmente, ela cumpre nessa eleição, nesse momento histórico, um outro papel. “Marina, tu costeaste o alambrado”, diria o velho Brizola. Costeou o alambrado, passou para o outro lado. Assumiu o programa do desemprego tucano, virou um cruzamento “exótico” de FHC com o pastor Malafaia.
Sequestrada pelos ultraliberais na economia (a Neca do Itaú e os tucanos de bico colorido vão mandar na economia num provável governo marineiro), e pelos ultraconservadores nos costumes, Marina significaria um passo atrás gigantesco na economia, na política, nos direitos humanos.
Lula também cedeu: negociou, fez a Carta aos Brasileiros. Mas tinha com ele um campo político, orgânico, robustecido por 30 anos de lutas. Marina é o bloco do “eu e os bons”. Risco também para a Democracia. Lula negociou para implantar (pelo menos em parte) um programa de centro-esquerda. Marina cedeu (e mudou de lado) para ser ela própria a comandante do bloco conservador. Há uma diferença considerável.
A essa altura, Marina coloca-se mesmo à direita de Aécio Neves. Patrocinada pelo Itaú, ela apóia a autonomia completa do Banco Central (nem os tucanos com Armínio Fraga ousam ir tão longe), para atender aos interesses dos banqueiros e investidores. Aliada a lideranças do submundo religioso, rechaça os direitos de homossexuais e abandona a defesa do mundo LGBT. Parceira dos que pretendem enterrar o Mercosul e a Celac, ataca o que chama de “bolivarianismo” e rende-se aos interesses dos Estados Unidos – propondo que se paralise o projeto do Pré-sal.
Por tudo isso, Marina é hoje a adversária mais perigosa dos trabalhadores e de quem aposta na redução das desigualdades e injustiças. Não só na eleição, mas a médio e longo prazos. Marina não é só uma candidatura, mas um projeto que precisa ser enfrentado e derrotado: agora, nas urnas; ou depois, se ela eventualmente chegar ao poder.
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