O chefe dos “petralhas”, “nordestino”, “mal-nascido”, “analfabeto”, como dizem os riquinhos da classe média, atualmente o maior líder popular do Brasil, amado pelo povo (Foto: site 247 Brasil) |
Dilma,
Aécio e Marina não são a mesma coisa, porque a candidatura encabeçada pelo PT
está inserida num contexto de forças políticas que, lideradas por Lula e na
presidência por três mandatos, têm um cabedal notável de realizações em
benefício do povo mais necessitado deste país.
Por Jadson Oliveira, blogueiro/jornalista
(editor do blog Evidentemente)
Era uma cena tocante dum filme estadunidense: a mulher do
casal que tinha passado 35 anos “enterrado” num abrigo anti-nuclear, correndo
por uma bela relva, gesticulando indignada, mirando deslumbrada a beleza do
azul do céu, para responder ao marido que tinha dito, desdenhosamente, que lá
no abrigo e aqui ao céu aberto, era tudo a mesma coisa: “Ah não! Fulano, não é
a mesma coisa, não!” Falava e reforçava as palavras retorcendo o corpo, olhando
pra o céu azul e sacudindo os braços num espasmo de revolta diante de tamanha
insensibilidade.
Me lembrei da cena ao ler num artigo de um velho
companheiro jornalista, que publiquei aqui no Evidentemente, título ‘Vote nulo no segundo turno’. Ele diz,
resumindo, que a presidenta Dilma Rousseff e Marina Silva ou Aécio Neves (um
dos dois vai disputar o segundo turno, se houver) são a mesma coisa. Usou até
um linguajar eloqüente: “É tudo farinha podre do mesmo saco” (clicar aqui para ler ou reler).
Acredito que não são a mesma coisa, levando em conta os
interesses do que costumo denominar movimento democrático, popular, de esquerda
e socialista. Não sei bem quais organizações e/ou partidos poderiam fazer parte
de um tal movimento, mas é assim que imagino a aglutinação de forças políticas
realmente progressistas que poderiam levar avante um programa de mobilização e
organização popular no Brasil.
Não são a mesma coisa porque a candidatura de Dilma está
inserida num contexto de forças políticas que, lideradas por Lula/PT e na
presidência por três mandatos, têm um cabedal notável de realizações em
benefício do povo mais necessitado deste país. (E que podem avançar mais e redirecionar rumos se pressionadas pelo movimento democrático e popular). São realizações notáveis – é
cansativo repeti-las, são por demais conhecidas e badaladas -, mesmo se você
bota no outro prato da balança as mazelas e pecados que os governos
lulistas/petistas herdaram e cevaram no decorrer desses últimos 12 anos.
Costumo comentar com meus amigos, geralmente na mesa dos
botecos da vida, que não são devido a esses “pecados” que gente meio riquinha
da classe média odeia os “petralhas”, termo que os mais ensandecidos adoram.
Esses “pecados” são, na verdade, pecadilhos “normais” (o mais gritante talvez
seja a promiscuidade com o alto empresariado corrupto e corruptor) com os quais
a elite já estava devidamente habituada nos 500 anos de história marcada pela
subnutrição, ignorância e submissão dos “inferiores”, dos “mal-nascidos”.
Eles odeiam as qualidades e não os defeitos do PT
Eles não odeiam os defeitos dos chamados “petralhas”. De
fato, de fato, eles odeiam suas qualidades, eles odeiam que os
petistas/lulistas tenham ajudado esse “povinho desgraçado” a progredir um pouco
na vida: “Vejam só que atrevimento, andam agora até viajando de avião e
enchendo as universidades de negros e negras, onde vamos parar!?” Estou
convencido – expressão repetida à exaustão pelo Lula nos seus discursos –
“estou convencido” de que é isso que os riquinhos “brancos” odeiam.
Então – retomando o fio da meada -, não são a mesma
coisa. Aécio é facilmente identificável. É uma direita consistente, explícita, sua
entourage é conhecida, seus antecedentes, seus alinhamentos com o “deus
mercado”, seus compromissos, suas promessas ao alto empresariado quanto às
“medidas impopulares”, seu “choque de gestão”, com desemprego e arrocho
salarial. Não vamos gastar mais linhas com ele.
O mais complicado, creio, é a Marina, com sua bela
história de vida na esquerda, e se nos aparece capturada pela direita, uma
direita mais ou menos encoberta, mais ou menos disfarçada. E ainda mais
travestida de justiceira religiosa, aquela coisa medieval cheirando a “bruxas”
queimadas em fogueiras. E mais: posando de crítica ao que chama “bolivarianismo”,
ou seja, alinhada contra a integração soberana da América Latina, candidata a instrumento
da “restauração conservadora” na região, expressão cunhada pelo presidente
equatoriano Rafael Correa.
Digo “mais complicado” não por mim – pra mim está
claríssima a sua captura pela direita, inclusive e sobretudo pelos monopólios
da mídia hegemônica -, mas quando penso em jovens inexperientes, despolitizados
e, ao mesmo tempo, seduzidos pelos belos sonhos de mudança. Como dizer-lhes,
convincentemente, que Marina, apesar de toda uma bela história de vida, se nos
aparece hoje como porta estandarte do retrocesso, como “legitimadora” do
retrocesso, para usar o termo do nosso Leonardo Boff?
Bem, não vou me alongar, pois, nesta reta final da
campanha eleitoral, me parece, segundo as pesquisas de opinião, que o trabalho
de desnudamente de suas posições direitistas já está obtendo ótimos resultados,
mesmo com a ação acobertadora da “mídia gorda” (expressão do jornalista
Miltainho). Então, podemos presumir que grande parte da juventude já conseguiu
ler corretamente nas entrelinhas de seu discurso melífluo e ambíguo.
Bom, como engolir que a tarimbada, combativa e tão
confiável Luíza Erundina esteja no mesmo barco da Marina? É uma das coisas que
mais me intrigam atualmente. Na verdade, aqui prá nós, ainda estou esperando
que ela caia fora desta esparrela.
E queria falar um pouco também dos cinco candidatos à
esquerda: do PSOL, PCB, PSTU, PCO e PV. Eles também estariam aí na disputa, mas
– não sejamos hipócritas – não estão, de fato, por isso ou por aquilo, não
estão. Para a gente de esquerda, mereceriam um voto no primeiro turno? Isso
teria de ter um tratamento à parte, num outro artigo. Vamos ver.
Comentários
A juventude anseia por mudanças, o que é natural e positivo; Mas como mostrar a esta juventude que nem todos são iguais se o monopólio midiático massifica esta tese desde sempre, com mais vigor nos ultimo dose anos. E preciso que setores importantes da sociedade (professores, jornalistas, intelectuais, formadores de opinião de um modo geral) se mobilizem na busca de desmistificar essa crença em que "todos são iguais".