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Brasil, Venezuela, Chile, Cuba e México
são os países da América Latina que venceram a fome estrutural. Essa informação
consta de um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO).
Veja como os meios hegemônicos de
comunicação deram a “notícia envergonhada” no Brasil.
Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa, em 17/09/2014,
com o título ‘Como esconder a realidade’ (o título acima é deste blog)
Brasil,
Venezuela, Chile, Cuba e México são os países da América Latina que venceram a
fome estrutural. Essa informação consta de um relatório da Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que registra os avanços na
luta global contra a insegurança alimentar. Cerca de 805 milhões de pessoas
ainda têm que lutar por comida no dia a dia em todo o mundo, e a maioria delas
se concentra em regiões afetadas por conflitos ou por condições climáticas
adversas. O relatório completo, com 57 páginas em inglês, pode ser obtido no site
da entidade (ver aqui).
Os principais
jornais brasileiros usam como fonte o resumo distribuído pela FAO, onde se pode
ler, por exemplo, que o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a atingir o
principal objetivo de desenvolvimento do Milênio e as metas da Cúpula da
Alimentação. O documento será um dos destaques da 69ª Assembleia Geral das
Nações Unidas, que se realizará no dia 23 deste mês.
Um dos
requisitos para o sucesso do programa, segundo o relatório, é a manutenção de
políticas de combate direto à fome crônica, sustentadas por medidas colaterais
destinadas a criar uma estrutura de atendimento a outras necessidades das
parcelas mais carentes da população. No Brasil, o núcleo de ataque ao problema
alimentar foi o programa Fome Zero, seguido pelo complexo de medidas agregadas
no conjunto das bolsas de apoio ao desenvolvimento humano, a partir de um
sistema que assegura disponibilidade, acesso, estabilidade e utilização de
meios para manter uma nutrição segura.
Apesar das
turbulências políticas que se sucederam em várias partes do mundo e dos efeitos
perversos da especulação financeira no processo da globalização – que produziu
uma grande crise econômica mundial –, a última década registrou um avanço
histórico na luta contra o mais grave flagelo da humanidade – a falta de
alimentos suficientes para sustentar a vida.
O principal
suporte dos números da FAO vem do desempenho dos países asiáticos e
latino-americanos citados no documento, entre os quais se destaca o Brasil.
Notícia
envergonhada
Sob o ponto de
vista de um jornalismo comprometido com a busca objetiva dos fatos mais
relevantes, essa seria a manchete: “ONU confirma sucesso na redução da fome”.
Numa abordagem jornalística, essa frase representaria a síntese a ser tirada do
relatório intitulado “O estado da insegurança alimentar no mundo - 2014”,
porque os índices declinantes da desnutrição crônica mostram que a fase mais
difícil foi ultrapassada, com a superação de barreiras estruturais para a oferta
segura de alimentos em grande parte do planeta e a passagem para a etapa
seguinte da melhoria da qualidade de vida – a da construção da cidadania.
Mas o que faz a
mídia tradicional do Brasil?
O Jornal
Nacional, da TV Globo, destinou exatos 37 segundos à notícia – tempo que se
dedica diariamente ao boletim meteorológico –, destacando que, “vinte anos
atrás, 14,8% dos brasileiros viviam na miséria; agora, esse índice é de menos
de 2%”. Uma reportagem sobre a causa da morte do ex-jogador de futebol Hideraldo
Luiz Bellini – ocorrida em março –, a encefalopatia traumática crônica, doença
degenerativa ligada a esportes de contato, mereceu um minuto a mais.
O Estado de
S.Paulo foi o jornal que deu maior importância ao documento, com um título
em alto de página, na editoria “Metrópole”, no qual se lê: “Brasil sai do mapa
da fome, afirma ONU”.
A Folha de S.
Paulo subverte a informação mais importante, num texto de duas colunas de 9
centímetros de altura em que tenta desqualificar o teor do relatório, com o
título: “3,4 milhões passam fome no Brasil, diz ONU”. Logo abaixo, afirma que
“Órgão dirigido por ex-ministro de Lula adota novo cálculo e elogia combate à
desnutrição”.
O Globo
dá uma no cravo, outra na ferradura. “ONU: 800 milhões de pessoas passam fome
no mundo”, diz o título da reportagem, seguido por uma linha fina onde se lê:
“Relatório cita Brasil como destaque positivo; desde 1990, famintos do país
caíram de 14,8% para 1,7% da população”. O jornal carioca também faz referência
ao assunto no material sobre a disputa eleitoral, com texto em que a presidente
Dilma Rousseff comemora o anúncio da FAO.
Só para lembrar:
a imprensa hegemônica do Brasil sempre se opôs aos programas de redução da
miséria, que tiveram, entre seus inspiradores, a ex-primeira-dama Ruth Cardoso
e o senador Eduardo Suplicy. Agora que os resultados se consolidam, a notícia
fica escondida.
Como diria
aquele apresentador da televisão: “É uma vergonha!”
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